segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Por Amor XVII



Capítulo nove

          Numa certa manhã Alicia teve uma forte discussão com Raul, o traficante queria levar o menino até a favela, queria exibir o herdeiro a todos, tinha patrocinado uma grande festa na comunidade, aquela briga Raul acabou agredindo fortemente Alicia. O homem saiu com o menino. Raul deu um único vacilo, havia esquecido seu telefone.
 Alicia já não podia permitir que seu filho fosse de encontro com o mundo do pai, agüentaria tudo, menos aquilo. Recorreu à única pessoa que poderia lhe ajudar. Era tudo ou nada.
 Larissa estava em reunião com suas assistentes e outro promotor, Foi interrompida por sua secretária.
    - Eu não pedi para anotar os recados. – repreendeu, estava muito estressada, seu chefe lhe cobrava mais produtividade em seu caso.
   - Doutora – a secretaria se aproximou da promotora e falou baixinho – tem uma mulher querendo falar com a senhora, ela disse que é urgente, ela pediu para lhe dizer que era sua namorada. Ela disse que você atenderia.
 Larissa saiu correndo da sala de reunião chegou ao escritório pegou o telefone.
    - Alô.
   - Oi. Você conseguiu. – falou Alicia com a voz embargada.
   - Alicia?
   - Sou eu amor. – Alicia ficou muito emocionada ao ouvir a voz de Larissa depois de tanto tempo.
   - Onde você esta? – Larissa tentava acalmar o próprio coração.
   - Ele matou minha avó, ele está com meu filho, sei o mal que lhe fiz, mas preciso da sua ajuda, eu preciso... – sua voz estava muito embargada, Larissa pode percebe que a lourinha não estava bem.
   - Ele te machucou e a criança, onde você esta?
   - Eu me entrego à polícia, mas salve meu filho, você é a única pessoa que confio, só tenho você... – Alicia já chorava. – eu tenho um filho de três anos Larissa, eu não menti, eu não menti, ele a matou, agora também pode fazer o mesmo com ele... – Alicia estava muito nervosa falava muito rápido.
   - Onde você esta? Alicia me diz onde você esta.  – implorava.
   - Ele me trouxe para cá.
   - Onde?
  
   Alicia teve que desligar, um segurança tinha visto ela ao telefone. Larissa sentiu o sangue ferve.

Alicia foi surpreendida por um segurança de Raul, Ronaldo a puxou pelo braço, arrancou o celular de suas mãos, no visor havia uma mensagem informando que a chamada já havia sido encerrada.

   - Pra quem a senhora estava ligando? – Alicia tentou disfarçar, mas não conseguia parar de chorar, estava muito emocionada – Vamos, me diga. Com quem estava falando?! – o homem exigia uma resposta.
   - Não é o que você está pensando, eu só estava tentando falar com Raul. – finalmente ela conseguiu dizer algo, o homem a olhou meio desconfiado e nada mais disse. Apenas a pediu para que se sentasse no sofá e para que ficasse quieta. Tentava ligar para seu chefe, a ligação ia direto para a caixa postal, o sinal estava muito ruim. Alicia acompanhava cada movimento do homem, sabia que ele estava nervoso e que não pensaria duas vezes em dizer a Raul o que viu. Não podia deixar que isso acontecesse, sabia que Raul seria capaz de matar seu filho apenas para vê-la sofrer. Fez um gesto como se fosse se levantar, o homem exigiu que ela ficasse sentada, Alicia virou o jogo.

   - Quem você pensa que é para me mandar ficar quieta! – O segurança não sabia o que dizer – Sou a mulher do seu patrão, se eu quiser peço para ele matar você e dois tempos só por me aborrecer. Dê-me logo esse celular.

         Ronaldo ficou sem ação, já tinha ouvido falar da fama de Alicia, sabia que ela era uma mulher perigosa, temeu por sua vida. Raul fazia tudo para agradá-la. Alicia se aproximou rapidamente do homem e tomou o celular de suas mãos, ligou para o numero pessoal de Raul, olhava para o segurança com ar autoritário, o homem sentia todo o corpo tremer. Começou a falar com Raul, pediu para que ele voltasse que tinha um assunto de extrema importância para tratar com ele, a cada palavra dita Ronaldo recuava um pouco, Alicia tinha conseguindo causar o efeito desejado.
   - Se você vir peça para que esse imprestável me leve até você! – depois de 3 minutos em silêncio Alicia passou o celular para Ronaldo – Ele quer falar com você! – O homem recebeu as instruções de onde o patrão estava Raul ordenou que levasse Alicia para lá o mais rápido possível.

   - Deixe-a ficar com o celular para que possa me avisar quando tiver chegado aqui! – Raul desligou a chamada, Ronaldo estava pálido, estendeu a mão e entregou o aparelho para Alicia que mantinha um sorriso no canto dos lábios.
   - Eu não falo, se você não falar! – o homem apenas fez um sinal positivo com a cabeça.
   - Vou buscar o carro!

         Alicia viu o homem sair pela porta ainda assustado, desabou no sofá, aliviada por ter conseguido sair dessa. Apagou a chamada feita para o escritório do Ministério Público. Trocou de roupa e quando saiu de casa o segurança a aguardava no carro, Alicia buscava equilíbrio, tentava se mantiver forte, não podia fraquejar logo agora. Estava tão compenetrada em seus pensamentos que nem percebeu o olhar desconfiado de Ronaldo. O segurança não ousou falar nada, estava com medo da mulher. Não demorou muito para que chegasse a favela. Alicia sentiu um arrepio percorre seu corpo quando saiu do carro, a mais de um ano que não pisava naquele lugar. Re-viu alguns velhos conhecidos, a favela estava toda decorada, o pagode patrocinado por Raul era um evento e tanto, todos da comunidade pareciam satisfeitos. Depois de alguns passos chegou ao pequeno palacete que Raul ostentava bem no centro da favela, tinha uma visão perfeita de tudo que acontecia no lugar. Alicia avistou Raul sem camisa, sentado com o filho no colo, exibia o garoto para as pessoas que passavam, praticamente berrava para que vissem e adorassem seu herdeiro. Vinicius viu a mãe se aproximando e logo tentou se desvencilhar do pai.

   - Minha Rainha finalmente chegou! – gritou Raul, Alicia deixou um sorriso amarelo escapar, pensava apenas em proteger o filho, aproximou-se e pegou o garoto do colo de Raul, sentou-se ao lado do seu glorioso “Rei”. A noite transcorria animada. Raul bebia muito, recebia os agradecimentos de todos da comunidade, apesar da cabeça estar a mil, Alicia tentava parecer feliz, sabia que Raul dava um grande valor a tudo aquilo. Lá pelas 21h00min Vinicius já demonstrava cansaço, cochilava no colo da mãe. Raul finalmente resolveu ir embora, mesmo deixando evidente seu sinal de embriagues dispensou os seguranças e decidiu ir dirigindo. Alicia não ousou contrariá-lo, depois de por Vinicius na cadeirinha do acento de trás, entrou no carro e pós o cinto de segurança.
    - Vamos minha rainha! – Raul passou a mãos bruscamente em seu rosto, ela apenas fez um sinal positivo com a cabeça, Alicia não sabia das surpresas que o destino havia reservado para ela naquela noite!
          Larissa deixou seu corpo recair sobre a cadeira mais próxima, seu coração palpitava, sentia uma dormência nas mãos e nos pés, era como se o sangue do seu corpo tivesse parado de circular por suas veias. Tentava raciocinar, organizar as idéias, entender o que havia acontecido, mas nada daquilo era possível, pois sua mente vibrava a única coisa em que conseguia pensar:
                      - Ela está viva! – deixou um sorriso escapar ao sussurrar a frase, já estava perdendo as esperanças, então era de se entender o tamanho de sua felicidade e de sua surpresa com aquela ligação. Depois de alguns minutos ainda sobre o impacto, ligou para um amigo, pedindo para que rastreasse a última ligação. Depois de se recompor voltou para a sala de reuniões, com uma agilidade antes nunca vista por ela mesma, finalizou a reunião deixando todos satisfeitos com seus argumentos. Aguava por resposta, ligou diversas vezes para seu amigo, finalmente conseguiu o que queria.
    - A ligação é de um celular móvel algum ponto da zona sul, nas proximidades do bairro de Boa Viagem.
   - Obrigado, Felipe.
   - Me deve um almoço. – brincou o policial. 
 Larissa colocou o telefone no gancho deu uma risada nervosa.
 - Eles não seriam tão burros! – afirmou – ali seria o primeiro lugar que procuraria, mas não procuramos por ser tão óbvio– repensou.
A promotora ligou o interfone.
   - Pois não!
   - Localize Draª. Lafaiete agora. A mande vir na minha sala imediatamente.
 A secretária demorou pouco mais de cinco minutos para localizar a advogada. 
      Camila bateu na porta.
    - Entre. Eu acabei de receber uma ligação... – Camila percebeu a excitação na voz da promotora - da Alicia. - continuou - Ela está viva!
   - Como? – Camila arregalou os olhos, parecia mais surpresa que Larissa.
Larissa ponderou o tom.
   - Foi isso mesmo que você ouviu! Ela me ligou logo mais.
   - E onde ela esta? Como está? Com quem está? Larissa você tem noção do que está me dizendo?
   - Claro que tenho Camila, Alicia me ligou, não disse onde estava. Sua voz parecia nervosa, falava muito rapidamente, ela está com aquele bandido.
   -Temos que chamar a polícia.
   - Não! – repreendeu Larissa. Liguei para o Felipe e pedi que rastreasse a ligação, ele me disse que o sinal veio daqui. – Larissa apontou para o mapa que estava sobre sua mesa.
  - É o antigo endereço da Alicia. Mas como? Larissa isso é bem próximo da sua casa, lembro que fui lá por várias vezes, recebi a mesma resposta do porteiro, que não havia ninguém no local.
    - O Raul deve ter subornado o homem para que não falasse nada. Eles podem estar o tempo todo ali e eu não enxerguei, que droga! – Larissa bateu com o punho na mesa. – Porque não fui ao lugar mais óbvio. – se questionava.
   - Justamente por isso mesmo, era óbvio demais eles voltarem para aquele apartamento, esse homem sabe que você mora próximo dali, ou ele é burro demais ou esperto demais, Larissa você volta a correr risco.
   - Todo esse tempo. Ela estava tão perto. – Larissa ficou em silêncio.
   - Uma coisa não se encaixa, porque não procurar a polícia invés de você, porque ela não foge?
   - Ela não esta só Camila, Alicia realmente tem um filho ela não mentiria sobre isso esse bandido esta em posse dos dois, ele é o pai do filho dela. Fugir seria um risco muito grande que ela não correria.
   - O que você está pensando em fazer? Avisar a polícia?
   - Não! – Camila ficou ainda mais surpresa
   - Como não Larissa?! Não está pensando em você mesmo ir resgatá-los não é. Você só pode está ficando louca, vou manda minha irmã te internar. Seja racionar, por favor!
   - Eu não quero e nem posso envolver a polícia nisso. Não ainda!
   - Larissa você mais do que ninguém sabe com que tipo de pessoa está lhe dando. Precisamos avisar a polícia o mais rápido possível, saber o paradeiro de um dos homens mais procurados do Estado, não é só um traficante pé de chinelo que estamos tratando, mais de um psicopata, de um contrabandista. Em fim...
   - Camila entenda, eu não posso por a vida daquela criança em risco, preciso agir com muita cautela e antes de tudo precisamos ter certeza de que ela está mesmo lá.
   - Isso é fácil. Vamos! – Camila já se dirigia ate a porta
   - Mas como?
   - Vem comigo, eu tenho um plano.
   - Camila eu não quero você metida nisso, sei o quanto estou me arriscando com toda essa estória e... – Camila não deixou que Larissa continuasse a falar, saiu puxando a promotora pelo braço porta a fora. Depois de alguns minutos as duas chegaram até o prédio onde ficava o apartamento de Alicia, estacionou em um local distante, mas tinham uma ótima visualização da entrada do prédio, passaram horas ali, Camila percebia a frustração estampada nos olhos de Larissa.
   - Pode ter sido um engano!
   - Impossível!
   - Melhor irmos estamos há horas aqui e não houve nenhuma movimentação estranha no prédio. – Camila já havia ligado o carro.
   - Não Camila, eu não vou sair daqui até ter certeza!
   - Já é quase 9 da noite Larissa, sabe há quanto tempo estamos aqui, varias pessoas já me ligaram querendo saber de você inclusive sua mãe, não vai adiantar nada ficarmos aqui. Larissa você ta me ouvindo?
          Larissa parecia ter entrado em um transe, viu uma caminhonete prata se aproximar, as batidas do seu coração chegavam a doer em seu peito de tão fortes. Camila também sentiu seu corpo congelar ao olhar na mesma direção que sua amiga. Viram o carro se aproximar vagarosamente, era visível a embriagues do motorista, Alicia estava no banco do passageiro, parecia nervosa, e no banco de trás puderam ver a cadeirinha que trazia o pequeno Vinicius em um sono profundo. Larissa em um impulso tentou abrir a porta do carro, Camila a impediu.
    - O que você pensa que vai fazer?
   - É ela Camila, é ela! – tinha os olhos rasos de água, estava tremula pálida   - Eu sei que é ela, mas não podemos simplesmente ir lá, lembra-se do garoto, precisamos protegê-lo.
   - Eu preciso salva-la daquele monstro, você não sabe do que ele é capaz. – Larissa já não conseguia controlar suas emoções, as lágrimas deslizavam por seu rosto, a promotora estava em estado de choque, lembrava-se de todo mal que Raul foi capaz de fazer contra ela.
            O carro de Raul parou em frente à garagem. Larissa e Camila puderam ver com clareza os ocupantes do carro, Alicia estava no banco do passageiro, Raul tinha uma das mãos para fora, os dois pareciam estar discutindo, no banco traseiro havia uma criança, o portão da garagem se abriu e o carro entrou. Raul teve dificuldades para estacionar e sair do carro, estava visivelmente alcoolizado, Alicia se apressou em sair do carro, foi até o banco de trás e viu que Vinicius estava dormindo, retirou o garoto com cuidado para que não acordasse, não queria que o menino visse o pai daquela forma. Sua tentativa foi em vão, o garoto acabou acordando com o barulho que o pai fez ao bater a porta do carro.
   - Oi filho, acordou? – falou baixinho
   - Deixa que levo meu menino. – Raul se aproximou.
   - Ele já está no meu colo, se não se mexer muito vai voltar a dormir, deixe que eu o levo vá chamar o elevador!
           Raul não se contrapôs, estava cansado e bêbado demais, não tinha coragem  nem para abrir a boca, ajudou apenas a levar a pequena bolsa que continha os brinquedos do pequeno Vinicius, minutos depois de entrarem no elevador chegaram até o andar do apartamento.
Em quanto isso Camila tentava acalmar os ânimos de Larissa que estava altamente agitada. 
   - Tente se acalmar, agora já sabe onde ele esta, isso é o mais importante, só precisamos ser cautelosas agora e logo ele estará atrás das grades.
          Larissa parecia não dar a mínima ao que Camila estava falando, olhava fixamente para o pára-brisa, suas mãos estavam tremulas.
    - Larissa! – tocou o ombro da promotora – Nos já sabemos onde ela esta, isso já é muito, vamos ajudá-la!
   - Ela está com ele isso sim importa. Você viu os três, parecia uma família feliz. – Larissa nem se preocupou em esconder o ciúme e a angustia que sentia.
   - Larissa não seja irracional, não é hora de cobrar ciúmes, não sabemos em que condições ele está mantendo ela.
   - Ciúmes? – Larissa tentou disfarçar dando uma risada meio nervosa – Sinto nojo desses dois, cada vez mais eu vejo que foram feitos um para o outro – deu uma pausa e respirou fundo – Vou colocar os dois na cadeia, você vai ver. – passou alguns minutos em silêncio até se dar conta de que Camila não estava fazendo o caminho para sua casa – Para onde você esta indo?
   - Nunca que ia te levar para casa nesse estado.
   - Desde quando você toma decisões por mim?  - Camila relevou a grosseria de Larissa, sabia que ela estava nervosa.
   - Eu não consegui te acalmar, mas tenho certeza que você vai ouvir a Isa, ela sim pode te impedir de sair correndo e ir bater na porta daquele traficante, você precisa raciocinar.
   - Camila eu não sou criança, sei me cuidar sozinha, além do mais não quero preocupar ninguém, dê a volta e me leve para casa.
   - Não vou discutir com você Doutora Couto, você não está no seu estado normal e pode colocar tudo a perde. Não tente fingir que não está magoada nem com ciúmes pela cena que viu. Você está mais preocupada em ir atrás dela do que em prender o Raul, eu no seu lugar faria o mesmo, mas esse momento é muito delicado e crítico, sei que é difícil, mas você precisa por suas emoções de lado e pensar com a razão só assim conseguiremos tirar a Alicia das mãos dele.
           Larissa tentou argumentar, mas não conseguia negar o que sentia, Camila estava completamente certa, a única coisa que ela pode fazer foi ficar calada, chegou a  casa Luiza, a loura estranhou a cara emburrada da amiga.
   - Vocês aqui há essa hora, aconteceu alguma coisa?
   - Encontramos a Alicia, ela está com o Raul e o filho. – Camila deu logo a noticia já que Larissa permaneceu calada, Luiza ficou sem saber o que dizer...
   - Pela a sua cara você deve está se perguntando o que nos estamos fazendo aqui já que você não tem nada haver com esse caso, foi isso que eu tentei dizer pra essa ai - Larissa lançou um olhar impaciente para Camila – Vem, vamos embora.
   - Você, senta aqui. – ordenou Luiza, Larissa fez uma cara feia antes de se sentar na poltrona ao lado esquerdo da sala.
   - Não entendo por que vocês estão me tratando como se eu fosse uma criança.
   - Será que é por que você esta agindo como uma e daquelas bem teimosas? – Camila ironizou.
   - Já chega de tudo isso, eu vou pra casa. – Larissa ameaçou se levantar da poltrona, mas desistiu depois de ver o olhar fulminante que Luiza lhe lançava.
   - Ela não pode sair daqui nesse estado.
   - Claro que não, vai acabar cometendo uma loucura. Você pode ir para casa, deixa que agora eu cuido dela.
   - Ta bom então.
   - Eu não vou ficar aqui sentada vendo vocês duas decidirem o que posso e o que posso não fazer. - Larissa levantou, atravessou a sala rapidamente, antes de abrir a porta ouviu  a voz grave e séria de Luiza.
   - Você não vai sair daqui, se ousar atravessar essa porta eu ligo para a polícia e conto tudo entendeu? – Larissa deu a volta e firmou o olhar no de Luiza. – É isso mesmo, eu conto tudo!
   - Você não tem esse direito! – Luiza estava séria, arqueou a sobrancelha esquerda, Larissa sentiu o poder das palavras de sua amiga, caminhou em passos lentos até a poltrona e voltou a se sentar, somente uma ameaça dessas para fazer com que ela pensasse melhor.
    - Pode ir Camila, ela não vai a lugar nenhum. – Camila apenas fez um sinal positivo com a cabeça, e saiu sem dizer nada, Larissa não estava chateada, sabia que suas amigas só queriam seu bem, precisava mais do que nunca de uma orientação.
   - Vem tomar banho, te empresto uma roupa.
           A morena não relutou muito, estava triste, cansada, não tinha forçar para argumentar  contra nada, caminhou ao lado de Luiza pelo pequeno corredor, entrou no quarto que amiga sempre manteve em sua casa especificamente para ela.Tomou um banho gelado, não sabe ao certo quanto tempo passou de baixo do chuveiro sentindo a água fria lhe cair sobre a cabeça, estava exausta. Voltou para a sala meio cabisbaixa, Duda já havia chegado do hospital, Larissa ganhou um abraço forte da amiga sentia-se acolhida com todo o carinho que ambas sentiam por ela. Duda não sabia muito bem o que estava acontecendo, mas percebeu o clima tenso entre as duas, as três mulheres estavam em silêncio até que Maria Luiza a filha mais nova de Duda entrou na sala gritando pela mãe. A garotinha roubou a atenção de todas, falava sobre seu dia na escola, de como tinha se divertido e de como estava com saudades da mãe Duda. Larissa acompanhava os movimentos da pequena, chegou a sorrir algumas vezes com a forma errada que ela pronunciava algumas palavras.
    - É difícil? – saiu quase como um sussurro, a promotora olhava fixamente para a pequena Malu.
   - Como? – Duda indagou sem entender.
   - É difícil ter um filho? – Larissa não desviava os olhos da pequena.
   - É muito difícil sim, mas todo e qualquer sacrifício vale a pena.
            Duda admirava o rosto da filha que havia pulado no colo de Larissa, a pequena a considerava como tia, Larissa tinha um carinho enorme pelos filhos e sobrinho de Luiza.
     - Em vários momentos, quando estávamos sozinhas ela me questionava, perguntava se eu gostava de crianças, se pensava em ter filho, principalmente quando agente passava o domingo por aqui com seus filhos o filho da Camila – Larissa desabafava - Eu sempre desviava do assunto, na verdade nunca parei para pensar nisso. Nunca teve espaço para uma criança na minha vida. Acho que acabei deixando o tempo passar.
    - A Ruth te perguntava essas coisas?  - questionou Duda
   - Alicia, o nome verdadeiro dela é Alicia! Sempre.
   - Lembro que vocês sempre estavam juntas o que acabou nos aproximando muito dela, ela fazia mil perguntas sobre como cuidava das crianças, quando era o momento de explicar sobre a condição sexual entre eu e a Isa. Ela me perguntava se a Isa queria ter filhos, ela chegou a me confidenciar que tinha vontade de ter filhos. Alicia gosta muito de criança – lembrou-se Duda, cheia de ternura na voz, Alicia realmente tinha conquistado as amigas de Larissa, era uma amizade sincera - se lembra no aniversário do João Gabriel, ela se meteu no meio da garotada e ficou dançando brincando com eles. Quando vocês viam aqui era uma disputa entre Lucas e a Malu pela atenção da tua namorada. - as três riram ao lembrar.
   - Eu nunca me vi sendo mãe acredita, sempre tive uma vida tão atribulada, que acabei deixando o tempo passar. Não sei se tenho jeito para isso, não sei se seria uma boa mãe, vejo você e a Isa, nem falo na Camila, aquela coitada se desdobrar em mil para cuidar da carreira, cuidar do filho e ainda ter tempo para ela e Amanda. Aquela menina amadureceu de tal forma que coloca todas nos no chinelo.
   - E verdade. Luiza estava até comentando comigo Camila rompeu com as expectativas de todos.
          Larissa estava muito triste, Duda percebeu isso, Luiza apenas observava a cena, sabia que a amiga estava chateada. Duda saiu para colocar a filha para dormir.
    - Vou lá.
          Duda levou a pequena no colo, ela já havia dormido. Luiza mantinha o olhar fixo em Larissa que desviava.
    - Vamos lá para fora. – chamou Luiza.
           Larissa não relutou, levantou-se de imediato e seguiu a amiga até o jardim. Sentaram-se próximo a piscina, a morena sentia um enorme peso em suas costas, não tinha mais lágrimas e sim um uma enorme tristeza em seus olhos.