Amor...
- Preciso saber me fale por sua
experiência jurídica o que me espera?
Larissa soltou o ar com força, escolheu bem
as palavras não queria apavorar ainda mais a mulher.
- São muitas acusações cai sobre
você. Como deve saber ou ao menos tem noção pelo tempo que estudou direito,
muito deles são crimes de natureza grave, Alicia se Camila não conseguir
reverter esse quadro você será condenada a passar muitos anos na cadeia. O seqüestro
pouco importa para o promotor, são as outras acusações. Você esta sendo
relacionada a uma quadrilha internacional de trafico de drogas, você não tem
noção da magnitude dos negócios do seu ex-amante.
- Mas não sei de nada, não sou dona
desse dinheiro todo, Larissa eu não sou criminosa. – disse quase chorando.
- As provas dizem o contrário, mais há
uma chance, Camila sabe o que está fazendo.
- Camila não é você. – disse já se
entregando ao choro. Larissa tentou acalmá-la.
- Camila foi e é minha melhor aluna, a
treinei. Se tem uma coisa que tenho orgulho é disso, eu a treinei. Se há uma
chance de te tirar daqui pode ter certeza que ela achará. Agora você mais que
nunca precisa cooperar.
- Eu tenho medo, você não sabe do que
ele é capaz.
- Alicia você é a ponta solta dessa
quadrilha, você foi o maior erro que aquele traficante podia ter cometido. Viu
e ouviu muitas coisas. Você sabe. Você sabe.
Alicia calou-se, realmente sabia muitas
coisas muitas até hoje não sabia como ainda estava viva.
- Enquanto deixar o medo lhe
governar vai ser impossível ajudarmos.
Alicia se levantou de imediato. Olhou
seriamente para Larissa. Sua voz saiu forte e vibrante.
- Você viu do que aquele homem é
capaz – seus olhos refletiam um medo absurdo - ele é perigoso, seus
amigos são perigosos, preferia a morte a colocar sua vida e a vida do meu filho
em risco mais uma vez.
Foi à vez e Larissa se levantar furiosa,
falando no mesmo tom para não deixar dúvida.
- Pois você perderá nos dois se não
testemunhar naquele tribunal. Se nos ama como diz, se ama a memória da sua avó,
honre á, ela foi assassinada brutalmente por aquele criminoso. Eu quero mais
que isso Alicia – disse fazendo gesto do lugar a sua volta – se você não pode
me dá mais que isso sairei agora mesmo da sua vida definitivamente.
Alicia sentiu o peso das palavras de Larissa
sabia a morena cumpriria sua palavra. Agarrou-se em seus braços.
- Estaremos em segurança até
isso acabar, eu prometo. – disse a promotora.
- Acabei com sua vida, arruinei sua
carreira. Como pode me amar tanto...
- Não Alicia, você não arruinou minha
carreira, Camila é uma advogada muito competente, conseguiu evitar que minha
carreira fosse afetada, confesso que dei muito trabalho a ela, eu já voltei a
trabalhar, tenho minha vida profissional e social no eixo. Sentimentos não se
mandam simplesmente a amo com todas as minhas forças e razão.
- Amor, tenho vergonha de encarar seus
amigos.
- Vai ser difícil para nós duas, mas
somos um casal perante a lei, vamos ter que passar por isso, seu julgamento já
foi marcado.
Ela abaixou a cabeça.
- Camila já me avisou, sinto medo. Vou
passar muitos anos de minha vida aqui ainda.
Larissa preferiu não comentar. No
fundo queria que Alicia tivesse consciência das conseqüências dos seus atos,
como advogada sabia que ela tinha grandes chances de sair dali. No final
da tarde a morena se despediu. Aquela seria a última visita, logo seria o
julgamento da mulher.
Com a data definida Camila ajustava os
últimos detalhes da sua defesa. Estava muito confiante, finalmente tinha
conseguido bons frutos, ao decorrer dos meses sua primeira vitória, conseguiu
que o promotor do caso fosse questionado pelo próprio Ministério Público, já
que ele conhecia o réu e tinha vinculos com ela, para não se comprometer Dr.
Aguiar nomeiou outro promotor para o caso.
Com a mudança do promotor no caso
Camila se sentiu mais solta para trabalhar, teria um duelo mais justo, conhecia
o perfil do novo promotor. Já havia topado com ele em outros julgamentos só que
ao mesmo lado da bancada, sabia exatamente como o homem trabalhava e conhecia
principalmente suas falhas. Larissa vibrou de longe com á vitória da
ex-assistente. Camila também conseguiu evitar que Larissa servisse como
testemunha. Tinha conseguido também um acordo com a promotoria.
Dias antes.
Estava ela no restaurante na hora
marcada, logo o homem de meia idade chegou a sua mesa. Os dois se
cumprimentaram. A lourinha foi direta, mostrou o que tinha, o homem analisou
com calma. Coçou a cabeça inúmeras vezes. Finalmente cedeu.
- O que você quer? – indagou colocando
os papéis sobre a mesa.
- Que retirem todas as acusações.
O homem se
remexeu na cadeira.
- Você é muito audaciosa menina.
- É isso ou nada. – falou convicta. Silêncio
prolongado – temos um acordo. – insistiu a advogada.
- Ela vai a julgamento pelo sequestro,
os outros crimes são retirados.
- Tudo ou nada.
- É o que posso oferecer. – concluiu o
homem. Camila pensou por um tempo. Já ganhara
muito. Finalmente concordou.
- Ok! – dos
dois apertaram a mão.
- Hoje mesmo as acusações serão
retiradas.
Camila saiu do restaurante não
estava muito satisfeita, resolveu procurar Larissa. Assim que se encontraram a
advogada contou do acordo.
- Sei
que não é muito – disse.
- Camila você foi genial. Encontrou uma
lacuna. Trabalhou bem em cima dela, meus parabéns.
- Larissa eu não consegui livrar
Alicia de todas as acusações.
- Não seja ingênua Camila, mesmo que
você trouxesse aquele criminoso de bandeja você não conseguiria tirar todas as
acusações. – falou a voz da experiência – Existe um clamor público em cima
desse sequestro, o povo já querem a condenação da acusada, se o Ministério
Público, retirasse as acusações já pensou na imagem negativa. A sociedade não
ia querer saber se Alicia pode servir de testemunha chave para colocar uma
quadrilha inteira nos bancos dos réus. Ia ficar feio demais pra imagem do
escritório e você sabe o quanto Silvio preza a imagem. Já no lado da justiça a
importância do testemunho de Alicia é mais importante do que o crime que ela
cometeu. Não estou diminuindo o que ela fez, pense como promotora agora. Alicia
é a ponta do ninho entende. Ela é o erro que Raul cometeu e nunca percebeu.
- Eu sei, mas queria...
- Agora é apenas sequestro Camila, é apenas sequestro.
Agora com toda autoridade que tenho como sua mentora lhe digo, quero Alicia
absolvida. Absolvida. – frisou, com um sorriso na face.
Larissa sentia-a uma alegria lhe subir. Advogar era mais que uma paixão, era um
dom. Dom esse que ela soube nutrir a cada vitória e derrota no tribunal, a
mulher conseguia reeditar o entendimento da lei, sabia mudar qualquer sentido
de entendimento de uma norma. Larissa era uma fera e treinava Camila para
seguir seus passos. Larissa olhou para aquela jovem advogada, Camila era um dos
maiores orgulho profissional que a promotora tinha. Deu uma gargalhada
estrondosa, sentia uma felicidade tão grande. Sua mente já via tudo,
julgamento, depoimentos, podia prever a atuação da sua aprendiz, olhou para
Camila tão orgulhosa, a lourinha não entedia.
- Absolvida Drª Lafaiete. –
disse abraçando – você é brilhante. – disse.
- As coisas não são fáceis e você sabe
disso, ela vai a júri popular, ela é réu confesso. Larissa.
- São nos piores caminhos que se encontram
as melhores vitórias. Lembra-se do primeiro caso que você atuou.
- Como não lembrar – disse
contrariada, por ter sido massacrada pelo promotor.
- Onde você errou? – indagou Larissa.
- Na perspicácia, em não usar as
provas a nosso favor.
- Pois é. No direito tudo é
contestável, em um julgamento não se pode haver possibilidade pra dúvida, é ai
que agente entra Camila, os réus confessos são sempre os mais fáceis de
trabalhar. – abriu o sorriso. – volte ás provas, volte ao processo, eu gosto de
marionetes Camila. – Larissa deu uma piscadinha. Depois se levantou para sair.
– você tem muito trabalho. Não vou testemunhar. O caminho estará livre.
Camila permaneceu no escritório da promotora, parecia confusa ainda. Foi pro
presídio dá a notícia a sua cliente. A detenta não pareceu muito animada.
- Isso não muda muita coisa?
- Claro que muda, os crimes que você
estava sendo acusada eram bem mais graves do que o que você vai responder agora. Vamos
trabalhar unicamente na sua participação do sequestro. Isso facilita meu
trabalho 70%.
- Minhas chances são poucas não é
Camila, eu confessei.
- Vou usar isso a nosso favor.
- Como ela está? – indagou Alicia,
fazia quase um mês que Larissa não a visitava a pedido da advogada.
- Está bem, tive que mantê-la
afastada, finalmente conseguir evitar que Larissa servisse de testemunha.
- Como isso é possível? Ela é a
principal interessada.
- No direito a vítima não é obrigada
servi de testemunha, tanto eu quanto a promotoria acabou não a chamando para
testemunhar. Agora falta pouco Alicia, dentro de uma semana seu julgamento
começa. – finalizou a advogada.
Alicia voltou ainda mais preocupada para cela, sua
mente fervilhava, seu destino estava próximo de ser traçado, em poucos dias
sentaria nos bancos dos réus onde teria que encarar a justiça e a sociedade. Os
dias seguintes foram angustiante. Alicia se manteve isolada das demais presas,
ficava sempre em sua cela, pensava muito em tudo, temia pelo que estava por vim.
Nas vésperas do julgamento recebeu uma visita inesperada, era uma agente, ela
bateu com o cassetete na grade fazendo um barulho estrondeante, a lourinha
acordou assustada, a mulher foi breve, lhe deu um recado:
- Pupilo mandou um recado – disse a
mulher no meio da escuridão – se abri o bico a promotora e o bastado morre. – a
mulher se evadiu do local.
Alicia
sentiu o sangue congelar, sentou-se de imediato na cama, suas pernas tremiam,
faltava-lhe ar nos pulmões, seu estômago dava reviravolta, PUPILO
reapareceu para trazer medo e angustia a sua vida. A muito não ouvia
falar de Raul, Camila sempre lhe dizia que ele estava foragido, a polícia
estava a trás, mas havia poucas pistas, mais uma vez o homem parecia viver na
impunidade.
***
Capítulo quinze
Retrocedendo ao dia da fuga.
A
troca de tiro esta intensa, Beto e Raul fugiram por um beco sem saída, param
diante de um buero, sem pensar duas vezes Beto puxou uma tábua que dava para o
esgoto, Raul ainda olhou para trás, queria levar o filho a todo custo, mas não
havia tempo a polícia já tinha invadido sua casa, os dois caminhavam pelo
esgoto, no meio de uma encruzilhada Beto encontrou o que queria duas mochilas,
seguiram até o bairro vizinho o traficante sabia exatamente aonde ia, ao subir
finalmente havia chegado, foi até onde parecia um barraco abandonado, abriu a
porta com um chute, lá estava a moto e o capacete.
- Bora, bora, bora – dizia o
homem apressado lhe estendendo o capacete e ligando a moto. Raul não hesitou,
pegou o outro capacete subiu da garupa e os dois saíram em disparada. Beto
pilotou com velocidade, até chegar em outro bairro, lá um dos seus comparsas já
os aguardavam.
- Se livra disso aqui. – ordenou
Beto, dando-lhe a chave da moto.
Raul parecia não esta se importando
com a gravidade da situação, sua cabeça estava no pequeno Vinicius, homem
parecia preocupado com o filho, Beto resolveu tudo os dois ficaram escondido
ali, na manhã seguinte em posso de documentos falsos os dois homem fugiram para
Bolívia onde Raul tinha propriedade e negócios. A ação da polícia ganhava
destaque internacional, muita gente importante tinha sido preso, o rosto dos
dois tomava o noticiário.
- Otários! – zombava Beto ao ver
os repórteres dizer que alguns suspeitos ainda estavam foragidos. – vem em pega
bando de filha da puta...
Com o passar dos dias
Beto foi percebendo que Raul estava estranho, o homem não se mostrava
preocupado pelo que estava acontecendo, muitos dos seus sócios ligaram
apavorado com o andar das coisas, com medo de serem descobertos. Raul passava a
maior parte do tempo preso a si mesmo, sua mente girava em torno de um único
ser, sua vontade era voltar ao Brasil para buscar seu filho. Pelos informantes
ficou sabendo da prisão de Alicia, outra coisa que lhe preocupava muito, Beto
resolveu tomar a frente dos negócios de Raul, que estava por vez caindo por
terra. O traficante não conseguia movimentar seu dinheiro, as coisas estavam começando
a ficar difíceis, Beto que era o responsável pelas finanças parecia muito
preocupada, principalmente porque Raul se organizada para uma missão suicida.
- O quê, você enlouqueceu? – gritou o
homem ao ser informado que um ano depois
voltaria para o Brasil.
- Preciso pegar minha mulher e meu
filho de volta.
- Se voltarmos ao Brasil podemos ser
pegos.
- Precisamos voltar. – disse Raul
perdendo a paciência.
- Será que você nunca vai tirar essa
vagabunda da cabeça? Vamos aproveitar e deixar que ela apodreça na cadeia.
- Não. – disse calmamente.
- Seu pai se envergonharia de você,
colocar tudo a perder por causa de uma mulher. – disse com desdém o que deixou
Raul possesso.
- Essa vadia é dona de tudo que tenho
– gritou pegando Beto pelo colarinho – tudo, tudo é no nome dela, absolutamente
tudo. Casa, dinheiro, até essa porra aqui está no nome dela. Você acha que
sempre a mantive por perto por quê? Se não a matei porque preciso dela e agora
ela está presa numa porra de presídio, estamos sem nada, nada. – gritou.
Beto ficou completamente
bestificado, nunca imaginou que toda fortuna de Raul estivesse em nome de
Alicia. Agora podia compreender muitas coisas, não era o amor que o ligava à
vadia e sim o dinheiro. Raul sempre a usou para esconder seus faturamentos
ilícitos, nem mesmo à mulher sabia o homem sempre mandava assinar documentos
que ela não lia. O mundo caiu na cabeça dos dois traficantes, estavam falidos.
Com a prisão de Alicia todos os bens e contas foram bloqueados, foi então que
Raul e Beto resolveram voltar ao Brasil, precisava arrumar um jeito de reverter
esse quadro. Ambos voltaram Raul sem medo retornou ao seu trono,
tinha mais segurança que nunca. Com o passa dos meses chegando a ano, ele foi
perdendo a perspectiva da vida. Pensara em Vinicius de forma doentia, sabia que
o menino estava sobre guarda da promotora, pensaram muitas vezes arrancá-lo da
mulher, mas era perigoso demais. Larissa estava sempre acompanhada de viatura
de polícia. Se aproximar da mulher era quase impossível, pouquíssimas vezes o
homem viu o filho de longe, lhe trazendo desespero e angustia. Seu fim se
aproximava nem ele mesmo percebia. Muitas coisas estavam sendo abafada pela
imprensa o que intrigava o traficante. Por um informante soube que o julgamento
da ex-amante foi marcado, muitos de seus clientes o pressionavam com medo dos
processos, alguns deles chegavam a pedi a cabeça de Alicia com medo de que ela
testemunhasse contra eles, aquela mulher era uma imensa ameaça para quadrilha.
O JULGAMENTO
O grande dia finalmente tinha chegado manhã de terça feira. O dia começou cedo
na penitenciária, Alicia não tinha conseguido dormi naquela noite, as palavras
da agente lhe apavorava, Raul voltou. O medo era eminente. Logo recebeu ordem
para se arrumar o julgamento tinha sido marcado para as 09h00min horas da
manhã.
Camila
colocava os últimos papéis na maleta, tinha acordado cedo, tomou café com o
filho e a esposa, tentava canalizar suas energias e limpas sua mente. Era um
ritual que sempre fazia quando tinha julgamentos importantes. E aquele de certo
era o mais importante para sua carreira. Vestiu seu melhor terno, caprichou no
visual, a aparência era o cartão de visita de um advogado, principalmente
sabendo que a impressa estava na porta do fórum. Ao se virar para sair fez uma
prece baixinho. Pedia força, sabia que tinha uma difícil batalha pela frente,
era pessoas demais que confiará nela. Amanda se ofereceu para levá-la até a
audiência, no primeiro dia não ia pode assistir.
O
coração da advogada estava a mil, suas mãos suavam muito, volta e meia Amanda
lhe apertava a mão com carinho lhe lançando um olhar de apoio, o carro se aproximava
do fórum, muitos reportes estavam em frente ao fórum, Amanda ficou
impressionada.
- Meu Deus.
- Começou o show. – disse Camila,
dando um sorriso amarelo. Despediu-se da mulher com um selinho, desceu do
carro.
Elevou a postura e caminhou até a entrada do
fórum, nesse mesmo instante um batalhão de reportes veio a seu encontro. Camila
no início tentou não falar, mais era inevitável, virou-se para os jornalistas,
respondeu algumas perguntas. Depois seguiu para o tribunal.
- Estamos aqui em frente ao fórum
Joana bezerra para um dos julgamentos mais esperado do Estado, a estudante
Maria Alicia de Albuquerque Couto é acusa de ter sido a mandante do sequestro e
cárcere privado da promotora de justiça Larissa Couto... A promotora foi sequestrada
em frente ao prédio em que morava, a mesma foi mantida em cativeiro onde sofreu
muita tortura durante 52 dias. O julgamento esta previsto para começar as
09h00min horas da manhã, logo cedo à acusada chegou e foi escoltada para o
fórum. – dizia a reporte. Camila Lafaiete Queiroz é advogada de defesa da
acusada, a mesma também foi ex-assistente de promotoria da própria Dra. Larissa
Couto...
A
notícia corria a solto em todo meio de imprensa, muitos estudante e pessoas se
aglomeraram para ter a oportunidade de assistir ao julgamento. Mesmo
aconselhada pela advogada, Larissa fazia questão de ver o julgamento,
acompanhada pelo primo e as amigas, ela entrou pela porta do fundo do fórum
evitando os jornalistas.
Camila entrou no tribunal, ela se acomodou na sua
bancada conversou com seu assistente. Larissa estava sentada na primeira
fileira bem atrás da bancada da defesa. Luiza, seu primo e seus pais a
acompanhava. Camila consultou o relógio, a promotoria também, já tinha chegado
ambos se cumprimentam com cordialidade. A juíza entra, Camila vestiu sua toga,
o julgamento começou à hora marcada. A juíza de início a seção.
- Dou início à sessão. Maria
Alicia de Albuquerque Couto é o réu. Vou me permitir fazer um resumo pela
sentença de pronúncia também destacando que a nobre defesa trará suas teses no
plenário, a imputação é por três crimes, seqüestro e cárcere privado com
agravante, lesão corporal de natureza grave, extorsão. A juíza apresentou o
caso. Encerrando sua manifestação inicial dando início aos debates.
Um
julgamento de júri segue determinados procedimentos. O primeiro dia foi
bastante cansativo a juíza interrogou a acusada durante quase três horas,
Alicia estava muito nervosa, diversas vezes seu testemunho foi interrompido
para que ela se acalme. Logo depois foi dada a palavra ao Ministério Público
que tripudiou em cima da acusada, trazendo relatos da vida anterior e tudo que
ela tinha feito até ali. Camila protestou muitas vezes. Duas horas depois foi à
vez de a defesa apresentar sua tese, a lourinha se saiu muito bem. Terminada a
seção. O julgamento retornaria no dia seguinte.
Camila saiu sem dá declaração
alguma para imprensa.
- Fomos bem, so que...
- Só que o quê Camila? – indagou
Larissa ao telefone.
- A tia de Alicia vai depor como
testemunha de acusação.
- Aquela mulher é uma aproveitadora,
ficou inconformada por eu ter conseguido a guarda de Vinicius e me recusei a dar
mais dinheiro a ela. – disse a morena indignada.
- Bem vou descansar um pouco, amanhã
será a vez das testemunhas.
- Quero a absolvição dela Camila, a
quero livre. – disse Larissa com total convicção que a lourinha conseguiria
reverter o quadro.
Camila
parecia preocupada, a promotoria parecia muito forte em suas teses, o
testemunho de Alicia não foi muito proveitoso talvez teria que fazer o que
parecia loucura. Ela pegou o telefone e deu algumas ligações. No fim conseguiu.
O
segundo dia do julgamento a juíza ouviria as testemunha de defesa e acusação,
para a surpresa de todos, Larissa subiu ao banco de testemunho era um
estratégia muito ousada da advogada de defesa, Larissa foi muito objetiva em
seu depoimento, contou absolutamente tudo que acontecera desde que conheceu
Alicia. Como as duas começaram a se envolver. A promotoria foi muito dura com
ela, chegando até a levantar suspeita sobre sua integridade, mas Larissa
conhecia bem aquele jogo, dançou conforme a música dentro da legalidade dos
fatos, quando foi à vez de Camila, ela jogou com os próprios questionamentos da
promotoria.
- Dra. Larissa as senhora pode
afirma que a senhora Alicia participava das suas torturas.
- Não.
- Conte o que acontecia quando a
senhora Alicia, ousava a desafiar o mandante do seqüestro o que lhe acontecia,
ou melhor, segundo seu próprio depoimento a senhora afirma que foi obrigada a
presencia um ato sexual do réu com o ex-amante.
- O sexo não foi consensual. – afirmou
à promotora.
- Como a senhora pode ter tanta
certeza? Aquela mulher que lhe jurou amá-la, respeitá-la, lhe levou em uma
emboscada, segundo a promotoria por fins financeiros. Como à senhora que é
vítima dela, pode ter tanta certeza que o sexo não foi consensual?
Larissa olhava admirada para a
advogada, a jovem fazia um jogo de acusação e defesa que caia por terra
qualquer tese da acusação. Estava sendo brilhante. A morena procurou os olhos
castanhos não muito distante dali, ao encontrá-lo Alicia baixou a cabeça aquela
amarga lembranças lhe vieram à mente, Larissa sentiu um nó na garganta, uma
tristeza. Lembrava bem, nunca esquecera aquela cena horrível. Sua voz saia
tremula.
- Não foi consensual – afirmou -
ela estava machucada, quando ele invadiu o quarto, eu estava amarrada numa
cadeira com a boca armodaçada, aquele homem fazia sempre a mesma pergunta, sua
voz era repleta de ódio, seus olhos tinham um brilho negro, doentio – porque
esta aqui doutora? Sempre uma indagação sem resposta... Alicia estava jogada no
colchão, o sorriso faceiro daquele homem, ele queria ver o medo e o desespero
em meus olhos, era isso com que se alimentava, não foi consensual. Não foi, ele
tinha ódio, seu maior ódio foi o fato dela ter se apaixonado por mim. Ela me
ajudava, me alimentava. Cuidava dos meus ferimentos quando ele não estava por
perto, naquele momento que percebi que ela não passava de uma vítima como eu. –
todo tribunal ficou perplexo com o relato da promotora, a acusação se remexia
na cadeia - Raul rasgou as roupas de Alicia enquanto ela se debatia, ele era
bem mais forte. O homem beijava. Lambia. Mordia sua pele, vez ou outra lançava
olhares de provocação para mim, eu não pude fazer nada – Larissa começou a
chorar - os gritos de Alicia foram abafados pela mão dele, o homem baixou as
calças e antes de penetrá-la, buscou meus olhos. A violentou de forma bruta,
não consensual. Seus gritos de desespero, sua luta perdida nunca se apagaram de
minha mente. Não foi uma vez, foram outras vezes também.
- E depois o que aconteceu
depois? – indagou Camila.
Larissa enxugou as lágrimas e tomou um copo
de água. Minutos depois mais acalma prosseguiu.
- Ele tinha um olhar vitorioso,
levantou-se proferiu algumas palavras e saiu a deixando lá no chão a
brutalidade foi tamanha que ela ficou inconsciente.
- Sem mais perguntas
meritíssimo.
- O advogado de acusação deseja fazer mais
perguntas?
- Não meritíssimo.
- A testemunha esta dispensada.
O depoimento de Larissa foi
vital para a defesa, reforçado com os testemunho, nem mesmo a testemunha chave
da acusação que foi a tia de Alicia que tentou de todas as formas destruir a
imagem de Alicia conseguiu causar o mesmo feito. Depois de mais de dez horas a
juíza deu por encerrada a seção voltando na manhã seguinte.
Todos chegaram cedo ao
tribunal, Camila ignorou as provocações dos jornalistas sobre o desaninhar do
caso, todos questionavam Larissa. A sala estava cheia, meia hora antes de
começa. Um carro escoltado pela polícia chegar, Larissa desce do carro chamando
a atenção de todos que correm. Policiais fazem sua segurança, a morena estava
impecável, havia cortado o cabelo e mantém a mesma aparência de antes,
belíssima.
- Por favor, doutora uma
declaração – pedia os jornalistas. Os flash e câmeras de TV sobre ela. Houve um
maior alvoroço, Larissa tentava ganhar passagem, mas aparecia mais jornalista.
- Doutora Couto é verdade que a
acusada tem vinculo matrimoniais com a senhora?
Aquilo fez Larissa congelar, todos notaram a reação
da promotora que buscou o dono da voz.
- É por isso que a senhora não quer
acusá-la em seu testemunho? – continuou.
Houve um breve silêncio
todos esperavam pela resposta da mulher, Larissa raciocinou, não poderia
responder, mesmo que quisesse não poderia. Ela olhou para o policial e disse.
- Me leve para dentro.
Sem demora os
policiais foram abrindo passagem para a mulher passar. Sua entrada no fórum
causou muitos burburinhos, o salão estava repleto de estudantes e jornalistas,
Larissa procurou pelas amigas, para surpresa de todos os presentes a mulher
sentou-se na primeira fileira, ficando por trás de da mesa da defesa. Tinha
outro espectador que ficou surpreso com a presença da promotora, Raul estava
completamente fora de si, tentou disfarçar o cabelo mais comprido, barba
grande, com documentos falsos se passou por estudante, havia chegado cedo para
conseguir um lugar. A juíza entrou e deu início a seção, o coração de Alicia
foi a mil quando ao entrar deu de cara com aqueles olhos negros, a emoção foi
imediata. Larissa deu um sorriso discreto. Tudo começou, Amanda foi à primeira
testemunha, a promotoria foi dura em suas perguntas deixando a morena muitas
vezes desconcertada. Depois foi a vez de Camila. Camila agia com prudência, manda
era uma testemunha de defesa, jogou com astucia com os próprios questionamentos
da acusação, deixando os representantes da acusação inquietos na sua bancada.
Depois de quase duas horas entra e segunda testemunha que era Marcela. Marcela
conta tudo o que aconteceu desde que Alicia lhe procurou horas depois de ter
ocorrido o sequestro.
- Então é verdade que a senhora
Albuquerque chegou muito ferida a sua casa em busca de abrigo?
- Sim.
- E o que ela alegou para a situação
aparente em que se encontrava?
Marcela contou tudo
que se passou. Depois foi dispensada. Depois de ouvi todas as testemunhas
defesa é encerrada a seção.
O julgamento já
entrava em seu terceiro dia dos debates entre promotoria e defesa estava peso a
peso. Tinha chegado a hora das replicas.
- E tem a palavra o Ministério
Público. – disse a juíza.
O promotor cumprimentou a todos e começou sua
réplica.
- É o júri que vai dizer a
sociedade até que ponto nos poderá interferir na vida de uma pessoa e vamos
fazer isso da forma mais justa possível, nos espelhando na situação daquela que
ali estar. – apontou para Alicia - Cada cá dos senhores fizeram algo que me
parece ser a grande mágica do júri, que é usar o outro como seu espelho. –
pausa - Há um dado no júri que é o dado mais genial. Aqui nós somos todos
iguais. – gesticulou - Não podemos julgar com preconceito, não podemos julgar
com alienação como se aquilo que estamos julgando, aqui não se tratasse de um
problema nosso. – apontou para o peito - O júri na verdade ocorreu porque
acontece que ocorreu um crime contra a vida, a liberdade individual de uma
pessoa. Que ocorreu na cidade em que vivemos, onde vivem nossos parentes,
nossos filhos e até nossos inimigos. – todas suas frases saiam pausadas - e
todos, temos responsabilidade de que rumo essa sociedade vai tomar; numa
sociedade democrática existe um direito fundamental, um direito que nos assenta
e que todos nos possuímos. O direito de que nós sejamos o que quisermos em um
único lugar de nossas vidas, lá nós somos invioláveis, lá eu sou Júlio Moreira
e apenas eu conheço ou quero conhecer é minha casa. – falava o promotor,
fazendo seu show diante dos ali presentes, o homem ponderava a voz, gesticulava
- Diz a constituição a casa é o abrigo inviolável da pessoa e do indivíduo. E
esse júri e essa estória são de alguém que veio aos poucos, ninguém sabe quando
isso começou ninguém sabe quando isso se deu, mas era numa casa que abrigava
uma família comum e quando fechamos à porta, a vida é de cada um. Deus me livre
do dia em que tivermos uma moral sexual oficial posta em lei, já pensou – nesse
momento o promotor virou-se para a defesa Camila ficou vermelha de raiva mais
se conteve - como fazermos, com quem, de que forma, dentro da minha casa? Todas
as ditaduras começaram assim. Todas as ditaduras começam sempre em nome dos
bons costumes. Esse casal – apontou para Alicia - vivia lá suas experiências
sexuais que ele casal admitia viver, só que ali o réu tinha outras intenções.
Intenções compactuada com outro criminoso. Um dia sempre a um dia da ruptura.
Sem nenhum preconceito, por favor, senhores aqui presentes. – frisou o promotor
- Quem tem um amigo chamado Raul Santos. Não tem esse amigo pra jogar
paciência, senhores – ironizou - eu vou chamar o Raul para alguma coisa que o
Raul vai fazer. É algo grandioso – gesticulou - algo que precisa de uma
investidura, que precise de coragem, eles esperaram, esperaram à hora certa, a
réu se aproximou, se insinuou até conseguir que a vítima se envolvesse,
planejaram, articularam, até finalmente executar a ação pegando a mulher
desprevenida, sem da oportunidade a uma defesa. Jogando um carro, esmurrando,
batendo, ameaçando. – isso tudo o promotor fazendo gestos - Desalojando essa
pessoa completamente debilitada. Mantendo uma pessoa inocente em cárcere,
sofrendo os piores tipos de tortura, onde a réu muitas vezes participava.
Alicia chorava muito balançando a cabeça em sinal de
negação, houve muito burburinho na sala. A juíza pedia silêncio.
- O que ela vai dizer que foi
coagida a participar desse ato bárbaro, que era coagida a dormir com a vítima
até atraí-la para aquela emboscada? Ora senhores, não foram uma única tentativa,
foram duas tentativas de sequestro, só que a última executado com sucesso. Como
podem ver, a senhora Albuquerque teve sua chance de desistir, porém ela queria
mais, queria a satisfação do amante, queria o dinheiro. Aqui esta o laudo do
estado em que a vítima foi encontrada. Nos poucos minutos que me restam nos
temos que pensar que essa mulher acabou destruindo toda possibilidade de
família que havia. Não se afeta apenas a vítima, mas também a sua família.
Pense na dor dos pais em ver o estado da filha. Na leitura do processo eu não
me convenci que a vítima fosse apenas vítima de sua companheira. - muitos
barulhos - afinal como não reconhecer seu sequestrador estando em sua companhia
durante um ano de relacionamento, como não reconhecer, a voz. Como não reconhecer,
não senhores jurados? Isso não ficou claro pra mim, a vítima foi então
conivente com a ação.
- Protesto meritíssimo, quem está em
julgamento aqui é a acusada não a vítima. – falou Camila.
- Aceito! Detenha aos fatos doutor.
- Minha alegação é importante
para mostrar os fatos, ela afirmou em seus depoimentos que não tinha visto o
rosto dos sequestradores, pois ambos usaram máscaras. O que nos permite fazer
outras relações, a prova que nos temos é essa. Quando vocês forem decidir, lembrar
do juramento que fizeram examinar com imparcialidade e proferir a decisão de
acordo com os trâmites da justiça e da consciência essa é a limitação dos
jurados tão somente. É por isso que peço a condenação da acusada por todos os
crimes aqui presentes. – finalizou a acusação.
- Ordem, ordem nesse plenário –
pedia a juíza - concedo a palavra ao nobre defensor Camila Lafaiete Queiroz
para exercer o sagrado direito de defesa pelo prazo de uma hora e meia.
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