quarta-feira, 26 de junho de 2013

Contrastes V



Olhei-a com ar divertido, achando graça em sua revolta. Tentei puxá-la pela cintura, mas ela se esquivou e saiu andando, enquanto dizia:
— Pois fique em casa sozinha, porque eu estou indo me trocar e quero ver quem é que vai me impedir – esbravejou – E você que tente trancar a porta para ver se eu não grito, na janela, que fui seqüestrada!
O sorriso desapareceu de minha fronte. Eu a conhecia o suficiente para saber que ela seria capaz de fazer o que havia ameaçado.
Por volta de uma hora depois, estávamos entrando na boate, enquanto eu dava à Maya todas as recomendações:
— Se você ver alguém estranho, não fique olhando muito. Também não olhe muito se ver alguém bonito, porque além de apanhar do acompanhante, vai apanhar de mim. Em hipótese alguma retribua o sorriso de uma mulher e, prometa-me, nunca vá ao banheiro quando estiver desacompanhada. Aquilo é um covil!
Maya ouvia tudo, achando muita graça em minha preocupação. Com muito esforço, fiz com que ela vestisse uma calça. Ela gostava de shorts. Demais até, para o meu gosto. Mas mantive minha posição de namorada ciumenta e, pelo menos isso, eu consegui que ela fizesse.
Assim que entramos no estabelecimento, ela olhou tudo ao seu redor, curiosa. Eu a segurava pela cintura de forma protetora, como se temesse que alguém, sequer, a tocasse. Fui abrindo caminho até chegarmos à mesa que Fernanda havia reservado. Ela não precisou abrir a boca para eu adivinhar que estava prestes a me debochar.
— Ora, ora, ora. Eu que pensava que nem o diabo conseguiria fazer você trazer uma namorada para este antro de perdições! - ironizou
Fuzilei-a com o olhar e Maya, praticamente cúmplice de minha amiga, sorriu de forma sarcástica.
— Fazer o que? Eu sou irresistível! – brincou
— Sim, você é! Portanto trate de se comportar. – voltei a alertá-la
Ignorei a expressão irônica de Fernanda e sentei no sofá, fazendo com que Maya ficasse por entre nós duas, é claro. Não que Fernanda fosse tão confiável assim... Enfim.
Conversamos por um bom tempo, trocando impressões sobre os mais diversos assuntos (fúteis) do mundo, até que as duas se perderam por entre seus papinhos de “garotinhas fitness” (como Maya dizia). Aquilo, para mim, sedentária assumida, era um terror. Se eu ouvisse a palavra “integral” mais uma vez, sairia correndo dali.
— Também adoro sanduíche de pão integral com atum. – disse Fernanda
Pronto. Agora eu tinha que sair correndo.
— Amor, eu vou buscar algo para beber, quer alguma coisa? – perguntei
Ela olhou-me, sorrindo, e negou, mostrando o copo cheio.
— Já volto. Comporte-se. – preveni
Senti uma pontada de insegurança ao ter que deixá-la sozinha e quase pedi para que ela fosse comigo, mas resolvi não ser tão louca. “Estou preocupada à toa... Para variar”, pensei, rindo de mim mesma.
A fila do caixa estava tão grande que eu demorei, pelo menos, 15 minutos. Eu odeio filas. Sem contar que 15 minutos longe dela, em um lugar como aquele, era terrível para mim. Não que eu seja grudenta. Na verdade, eu sou grudenta, mas de um grude saudável, já que sei me controlar. Mas ela me descontrolava e esse era o problema. Meu pensamento dava tantas voltas que eu me proibi de pensar e fui em direção à mesa.
Senti uma pontada na espinha quando vi a moça deslumbrante que estava sentada ao lado de Maya. Era morena, com olhos cor de âmbar e ar ferino. Ela levantou do sofá para se apresentar:
— Gisela.
Ignorei sua mão estendida. Olhei para Fernanda, que não sabia se ria ou se ficava séria. Empurrei, delicadamente, a moça para o lado e sentei-me ao lado de Maya, vermelha de raiva. A moça me olhou com um risinho sarcástico no rosto e sentou ao lado de Fernanda.
— Essa é minha amiga mal-educada Carol – disse Fernanda – Gisela é minha prima – informou-me
Gisela riu.
Foi ódio à primeira vista.
Meu braço estava em volta de sua cintura, meu punho fechado com força, a ponto de fazer com que a palma de minha mão começasse a suar. Maya parecia imune ao meu ciúme, mas eu tinha certeza de que Gisela o percebia bem.
Ela falava sobre algo muito entediante, assim como ela. Mentira. Gisela não era enfadonha. Sabia conversar muito bem e cada suspirar seu parecia possuir uma espécie de encanto. Se não fosse tão sensual, talvez, eu não me sentiria tão ameaçada. Seu vestido era tão curto que eu me perguntava se ele era uma blusa e se ela estava vestindo um short por baixo. As pernas eram muito bem torneadas, fortes. Se eu não estivesse tão intensamente colérica, provavelmente estaria apreciando suas cruzadas de pernas. Os seios não eram grandes, mas eram interessantes. Pareciam encaixar perfeitamente em seu corpo. Aliás, seu corpo inteiro parecia estar em perfeita sintonia, dando-me a impressão de que nada contribuía para que minha autoconfiança se expandisse.
Agarrei-me à possibilidade de minha namorada odiar o sotaque porto alegrense de Gisela, ou, quem sabe, não gostar de seu perfume, ou odiar qualquer outra coisa mínima. Contudo, no fundo eu sabia que única pessoa com quem ela gostava de implicar por motivos bobos era eu. Não que eu achasse isso ruim, muito pelo contrário, sempre fui meio viciada em suas implicâncias, afinal que pessoa no mundo, além de meu amor, conseguia me perturbar e se manter adoravelmente linda? Ninguém, ninguém. “Se Maya odiasse, só um pouquinho, algo em Gisela, eu já me sentiria menos desconfiada, mais feliz, menos enraivecida e até mais bonita! Eu poderia andar sobre as águas e...”.
— Vocês não dançam? – perguntou Gisela, interrompendo meus devaneios
Permaneci quieta, encarando-a. Maya, irritantemente simpática, respondeu:
— Sim! Mas não agora.
— Por quê?
Irritada com a insistência, interrompi:
— Porque eu não quero! – “...porra!”
Tentando me provocar, Gisela voltou os olhos para Maya.
— Caso você queira dançar, eu estou bem disposta.
Com os olhos arregalados, furiosa, troquei olhares com minha namorada, como se dissesse: “Ei, acorda, ela está esperando você dizer o “Não!””. Em resposta, seu olhar dizia: “Eu não sei o que falar!”, deixando-me decepcionada.
— Quer ir, vai. – resmunguei
Maya olhou-me confusa, fazendo sinal negativo com a cabeça, e disse:
— Não, quero ficar aqui com você.
— É, estou vendo.
Levantei-me e saí andando, deixando-a para trás.
Durante o caminho para o estacionamento, senti um mal-estar, como se me tivessem dado uma surra. Parei e me apoiei em uma parede, respirei fundo. Sim, eu havia exagerado (como sempre). Não, ela não merecia ser deixada para trás. Mas eu não conseguia entender sua hesitação em negar um pedido tão óbvio. Aquilo me doía como se fosse uma traição carnal. Era-me inaceitável a idéia de dividi-la com outra pessoa. Eu a precisava inteira.

sábado, 22 de junho de 2013

Contrastes IV



Maya suspirou profundamente e fechou os olhos, contrariada.
— Por favor. – pediu, timidamente
Rindo, eu provoquei:
— Fale mais alto.
— Por favor, Carol! – disse ela, aumentando o tom de voz
— Agora seja mais específica. – continuei a provocar
Lançando-me um olhar furioso, ela espremeu levemente os lábios.
— Eu quero seus lábios, seus dentes, sua língua, seus dedos – implorou – Quero você inteira!
Sentindo um calafrio na espinha, mal esperei que ela terminasse de falar para socar-lhe o dedo com força e abocanhar seu clitóris. Maya, num impulso, levantou as costas da cama e voltou a desabar, gritando com um desespero rouco. Ansiosa por seu prazer, eu penetrei-a com força e rapidez, como se quisesse arrancar-lhe o orgasmo à força. Minha boca sugava seu clitóris, pausadamente, e o acariciava com a língua por entre os chupões. Volta e meia e lhe mordiscava os grandes lábios e sugava-os, mas a minha dedicação extrema era para seu clitóris inchado.
Senti seu orgasmo se aproximando e me senti orgulhosa. Chupei-a com mais força, penetrei-a com mais um dedo. Não demorou para que eu a sentisse se desmanchando em meus dedos, enquanto seu corpo parecia dominado por algum tipo de terremoto interno. Agarrou-se aos travesseiros como quem se agarra a algum tipo de salva-vidas e abafou os gritos. Ainda tremendo, seu corpo serpenteava na cama, dificultando o meu empenho em manter a língua em seu clitóris até o último espasmo.
Tirei os dedos de sua concavidade quente e os substituí por minha língua. Lambi o líquido de seu prazer até a última gota, como se precisasse dele para sobreviver. Seu corpo começou a relaxar e ela espreguiçou-se feito uma gata. Ainda estava com os olhos fechados quando fui beijá-la, mas não demorou a corresponder. Segurou meu rosto por entre as duas mãos e sugou meus lábios, limpando os últimos resquícios de seu próprio mel. Também chupou meu queixo e ao redor da boca, carinhosamente.
Deitei-me ao seu lado, a fim de esperar que sua respiração voltasse ao normal, mas, com uma energia fora do comum, ela enlaçou-me com uma das pernas e entrelaçou sua língua com a minha. Sua mão deslizava por meu corpo, descendo de meus cabelos e indo até minha barriga, para depois voltar pelo mesmo caminho. Seus lábios sugavam os meus e meus dedos se entrelaçaram nos cabelos dela. Maya foi tão suave que eu quase conseguia me imaginar flutuando. Eu sentia sua respiração em meu rosto e eu apreciava como se esta fosse um sopro dos deuses. E, de certa forma, era. Era o sopro de minha deusa.
Percebi quando sua mão passou a ficar mais atrevida, porém não menos suave, e, aos poucos, sua boca também. Senti arrepios com sua boca em meu pescoço e um sorriso enorme tomou conta de minha face. Ela descia com a boca por minha pele, beijando cada milímetro. Era mais do que um sonho bom. Era muito melhor do que qualquer outra coisa que eu havia sentido. Seu corpo roçava no meu, fazendo-me quase ter certeza de que minha teoria, de que faíscas estavam surgindo através daquele contato, era super válida.
Afundei-me na maciez do colchão e agarrei os lençóis, arrepiada, esperando por sua boca quente. Senti sua língua passeando, suave, por cima do tecido da calcinha, em meu clitóris. Um tremor forte sacudiu meu corpo, fazendo com que meu gemido desesperado soasse trêmulo, também. Ouvi um risinho orgulhoso e ri junto. Nada poderia me fazer mais completa e feliz.
Ela demorou-se na brincadeira de me provocar e eu, inquieta, deixava que ela me usasse de forma irrestrita. Meu coração bateu enlouquecido quando notei que ela tirava minha calcinha. O calor em meu ventre aumentou, enquanto eu sentia um líquido viscoso escorrer por entre minhas pernas. Maya soltou um gemido rouco, involuntário, sensual. Fui ao inferno quando ela passou a língua, lentamente, por toda a extensão de minha vulva, querendo sentir-me inteira.
Na segunda vez, tranquei a respiração, em uma tentativa frustrada evitar que gemidos escandalosos me escapassem dos lábios. Gemi alto, como um animal no cio, e agarrei em seus cabelos desesperadamente, levando minha tentativa por água abaixo. Sua língua passou a movimentar-se de forma irregular, ora fazendo círculos, ora ziguezagueando. Seus lábios envolveram a minha vulva de forma terna e, ao mesmo tempo, devoradora. Sua boca parecia estar dando um beijo de língua em meu sexo, levando-me qualquer tipo de pensamento lógico embora. Eu só conseguia pensar na quentura de sua boca, na maciez de seus lábios e na destreza de sua língua. O mundo fora nós resumiu-se a nada. Meu mundo tornou-se ela.
A maciez de sua boca, a quentura de sua pele, a suavidade de seu toque... Tudo nela me enlouquecia profundamente, tudo a tornava tão dona de mim. E eu gostava. Estava quase morrendo em seus braços, de tanto gostar. Ela me enlouqueceu como ninguém e meu corpo ficou ali, à deriva em seus toques, seus carinhos, sua boca. Eu havia me rendido inteira.
Fechei os olhos com força, com a mente quase explodindo de felicidade. Meu corpo serpenteava na cama, agoniado com o verdadeiro caleidoscópio de sensações que Maya me proporcionava. Mergulhei naquele universo tátil de tal forma, que mal me dava conta do escândalo que estava fazendo e das frases absurdas que dizia. Todo aquele prazer me cegava, enlouquecia. Ela gemia junto comigo, como se o fato de estar me proporcionando prazer a fizesse sentir tanto tesão quanto eu. Isso me estimulava a apreciar ainda mais cada movimento que ela fazia, tornando cada sensação mais intensa. Perdi a conta de quantas vezes havia gritado seu nome e dito que a amava. Não sabia mais onde estava, ou quem era. Eu sabia dela e só dela. E foi com esse pensamento que um orgasmo avassalador fez com que meu corpo se contorcesse inteiro, aflito, vigoroso, intenso. Um prazer indizível, inexplicável, indubitável.
Desabei na cama como se tivessem me roubado todas as forças. Seu corpo, delicadamente, deitou-se sobre o meu. Seus lábios me presenteavam com beijos carinhosos, que pareciam transmitir todo o amor do universo para o meu ser. Abracei-a com toda a força, como se tivesse medo de acordar de um sonho e perdê-la. Um sentimento inexplicável me tomou conta. Então eu senti, pela primeira vez, aquela necessidade absurda de abraçá-la e tê-la inteira para mim. Para sempre. Então um desespero incomum me dominou. Tive medo.
Ainda ali, rendida, contra a parede, eu tentava permanecer firme em minha decisão de não acatar seu pedido.
Algumas horas mais cedo, Fernanda havia nos proposto um encontro, naquela noite, em uma balada GLBT. Maya, que nunca havia visitado tal tipo de estabelecimento, ficou animada para ir. Eu, como uma nata ciumenta, senti como se alguém tivesse me jogado sal nas feridas. Ela insistiu durante a tarde inteira, me fazendo utilizar os argumentos mais absurdos possíveis:
— Você não vai gostar.
— Você vai se perder.
— Você vai ficar bêbada.
— Você vai ser atacada por uma drag.
— Você vai morrer.
Porém, apesar de meu esforço, nada adiantou. Ali estava ela, implorando para que eu a levasse para a boate. Amaldiçoei Fernanda tantas vezes que minhas macumbas se esgotaram.
Maya continuou forçando o corpo contra o meu e nossos lábios estavam em um roçar quase que insuportável. Minha vontade dela chegava a ser dolorida. Suas mãos desceram por minhas coxas, passeando pela parte interna, arrancando-me suspiros e gemidos tímidos. Sua língua passou a atiçar-me o lóbulo da orelha, a respiração quente que saía de sua boca só fazia aumentar o meu suplício. Minhas mãos colavam em sua cintura com desespero, porém sem forças.
— Ainda dá tempo de tomarmos um banho bem gostoso, juntas – chantageou
– Depois é só colocarmos uma roupa e seguirmos para a boate.
Sua voz era tão inocente que eu quase acreditei que ela realmente estava convencida de que conseguiria me fazer mudar de idéia.
— Eu aceito a idéia do banho, mas não vamos sair para lugar algum! – rebati, com a voz trêmula de desejo
Maya estacionou as mãos e soltou um longo suspiro. Como se tivesse levado um choque, ela afastou-se de mim mais do que depressa, assumindo um ar aborrecido.
— Tá bom, Caroline – disse, quase gritando – Não quer ir, não vai!

domingo, 16 de junho de 2013

Contrastes III



Avancei com minha língua em sua boca entreaberta e fui em busca da sua. Entrelaçamo-nos com uma voracidade sutil, enlouquecedora. Suguei seus lábios, contornei-os com a língua, dando leves mordidinhas carinhosas. Desci as mãos por suas costas, pousando-as em suas coxas, logo abaixo do bumbum. Maya gemeu de leve e sorriu, para então voltar a me beijar, só que de forma possessiva, exigente. Quem via o acontecimento pela câmera do elevador não deveria estar conseguindo distinguir qual boca era de quem.
Nossas respirações ofegantes e os estalos de nosso beijo eram os únicos sons que se ouviam, até que o apito do elevador quebrou tal mantra divino. As portas se abriram e ela interrompeu o beijo para me fitar. Quis decifrar-lhe o olhar, mas me pareceu impossível. Deixei-me levar quando ela me puxou pelo braço e lançou-me contra a porta de meu apartamento. Mal tive tempo de recobrar a noção espacial e ela já estava, novamente, devorando-me os lábios. Senti suas mãos me apalpando as nádegas, arrancando-me suspiros, até que encontrasse as chaves em meu bolso.
Maya, rindo, destrancou a porta e me fez entrar no apartamento. Encostei-me à parede da sala e ela aproximou seu corpo do meu, fitando-me séria, aparentemente impassível. Segurei seu rosto entre as duas mãos e mergulhei em seus olhos. Meu coração palpitava de forma tão intensa que parecia doer. Sua língua passeou, suavemente, pelos lábios e seus olhos se voltaram para minha boca, meu pescoço, meu decote. Não foi preciso enunciar uma única palavra. Seu desejo era o protagonista daquela cena.
Mordi o lábio inferior e, lentamente, desabotoei minha camisa. Maya me observava como uma predadora, faminta, que cerca a sua presa. Deixando apenas o sutiã como barreira, joguei a camisa em um canto e virei as costas para ela. Olhei-a por cima dos ombros e notei seu ar confuso, mas, ao mesmo tempo, libidinoso.
— Tira! – implorei, com voz provocante
Com um riso safado, Maya abriu o fecho de meu sutiã, livrando-me dele. Quase que imediatamente, senti seus lábios em minha nuca e uma de suas mãos me puxado pela cintura, enquanto a outra segurava, firmemente, um de meus seios. Um gemido agudo e desesperado escapou de minha garganta e meu ventre foi dominado pelo peculiar calor que a excitação provoca. Minha pele, quando em contato com a sua, parecia pegar fogo e um desejo desesperador se apossou de meu ser.
Senti sua língua em meu pescoço, descendo lentamente para a região de minha clavícula, onde seus dentes cravaram. Outro gemido me escapou e eu, aflita, apertei meu seio por cima de sua mão, enquanto sentia meu sexo ficar cada vez mais molhado. Como se lesse meus pensamentos, ela desceu uma das mãos, por cima da calça, e estacionou-a por entre minhas coxas. Abaixei a cabeça e apertei os olhos, pensando que, a qualquer momento, morreria de tanto tesão. Sua mão fez pressão em meu clitóris, ao mesmo passo em que seus dentes voltavam a atiçar minha pele, enlouquecendo-me.
— Quer me matar? – perguntei, ofegante
— Só se for de prazer – sussurrou ela, em meu ouvido – E para que isso se aconteça, que tal irmos para seu quarto?
Subimos as escadas praticamente correndo. Maya lançou-se na cama apoiou-se nos cotovelos, enquanto me observava indo em sua direção. Parando à sua frente,
desabotoei a calça e tirei-a lentamente, na tentativa de provocá-la.
Toda lasciva, ela pediu:
— Tire a calcinha, também.
Sorrindo, eu fiz sinal negativo com a cabeça.
— Então pode deixar que eu tiro! – impôs, sentando-se na beira da cama
O sorriso em meu rosto ficou ainda mais largo e eu me coloquei em seu colo, enlaçando-lhe a cintura com as pernas. Ela apossou-se de minha boca em um beijo desesperado. Lentamente tirei a sua blusa e senti uma excitação extrema ao ver que ela estava sem sutiã. Colei nossos corpos, querendo senti-la, sê-la.
Seus lábios desceram por meu pescoço e escorregaram até meus seios. Lancei o corpo para trás, dando-lhe total liberdade. Maya abocanhou-os, faminta, enquanto eu a segurava pelos cabelos, gemendo timidamente. Sua língua rodeava as auréolas de meus seios, para, em seguida, envolver os bicos intumescidos com os lábios e sugá-los carinhosamente, fazendo estalos. Suas mãos me seguravam pelas nádegas, possessivas. Eu sentia cada vez mais dificuldade para respirar, ao passo em que meu coração palpitava, irregular, em meu peito.
Afastando os lábios de meus seios por um instante, Maya segurou minha nuca com uma das mãos e voltou a me beijar. Com a outra mão, ela atreveu-se a afastar minha calcinha e deslizar o dedo por minha vulva. Contorci o corpo em um espasmo e ela sugou minha língua inteira para dentro de sua boca, me causando delírios. Meu sexo, completamente molhado, era incansavelmente explorado pelo dedo ávido de Maya, que insistia em me bolinar.
Sem aviso prévio, ela levantou-se e lançou-me na cama, para deitar o corpo sobre o meu logo em seguida. Decidida a tomar o controle da situação, rolei nossos corpos rapidamente, trocando nossas posições. Ela me presenteou com o sorriso mais lindo do universo e protestou. Calei-a com um beijo, sem me preocupar com nada. Queria possuí-la e assim o faria naquele exato momento. Afundei o rosto em seu pescoço e abocanhei-o vorazmente. Maya gemeu de leve, mordendo o lábio inferior.
Escorreguei a língua para seus seios e suguei-os quase que afetuosamente, enquanto, com uma das mãos, abria o zíper do short que ela usava. Ansiosa, coloquei a mão dentro de sua calcinha, alcançando-lhe o sexo úmido e quente. Senti seu corpo estremecer sob o meu e voltei a unir nossos lábios, abafando-lhe os gemidos.
Mais do que depressa, arranquei-lhe o short e a calcinha. Voltei a me encaixar por entre suas pernas e posicionei minha coxa de forma que pudesse massagear-lhe o clitóris. Com delicadeza, passei a roçar meu corpo inteiro no seu, enquanto minha coxa fazia pressão em sua vulva, que, de tão molhada, melava minha perna com seu mel. Maya agarrava em minhas costas, cravando as unhas, com força, em minha pele, fazendo arder. Seus quadris rebolavam, agoniados, querendo mais. Ela gemia,
pausadamente, em meu ouvido, como se tivesse medo de fazer barulho demais. Então, numa espécie de transe, ela gemia, parava, inspirava, trancava o ar e, depois, o soltava juntamente com um gemido agudo. Aquilo era tão sensual que eu sentia minha vulva encharcada, só de ouvi-la, e aumentava a pressão de minha coxa em seu sexo.
Foi assim que ficamos durante um bom tempo. Eu roçando meu corpo no dela, incitando sua libido, e ela gemendo, voluptuosamente, em meu ouvido, enquanto me arranhava as costas.
Quando notei que seu corpo anunciava o orgasmo, desci com a boca por sua barriga, sob protestos agoniados, até chegar ao umbigo. Deitei o corpo por entre as suas pernas e apertei suas coxas, enquanto contornava seu umbigo com a língua, brincando com seu piercing. Notei os pêlos de sua pele se eriçando e ela pegou-me pelos cabelos, fazendo-me erguer a cabeça. Seus olhos estavam extasiados, demonstrando toda a lascividade que dominava o seu corpo.
— Agora! – ordenou
Três sílabas totalmente dispensáveis, pois seu corpo denunciava o tamanho de sua loucura.
Mergulhei a língua em sua boceta, faminta, provando do seu prazer. Um gemido alto e aliviado ecoou pelo quarto, enquanto ela contorcia o corpo inteiro, enrijecendo, rapidamente, os músculos. Iniciei o movimento de vai-e-vem, às vezes alternando entre as penetrações e as chupadas em seu clitóris. Seu sexo estava quente, escorregadio... Delicioso! Enlacei suas coxas com os braços, fazendo com meu rosto ficasse completamente mergulhado por entre suas pernas. Abocanhei-a inteira. Precisava sentir seu gosto de forma que nunca mais o esquecesse. Esfreguei minha boca o quanto pude em sua vulva, lambuzando-me toda.
Maya já estava praticamente urrando de prazer quando resolvi substituir minha língua por meus dedos. Voltei a brincar em sua abertura, com o dedo, fazendo pressão, fingindo que ia penetrá-la. Quando ela se contorcia inteira, ansiosa, eu aliviava a pressão e fazia carinhos em seu clitóris. Maya ria uma risada gostosa e nervosa, tentando disfarçar sua decepção. Então eu repetia os mesmos movimentos, disposta a enlouquecê-la a qualquer custo.
— Está gostoso, amor? – perguntei, com voz inocente
Seu primeiro impulso foi balançar a cabeça positivamente, mas, em seguida, ela negou com veemência, confusa.
— Pare de me torturar, Carol – gemeu – Eu quero você agora!
Sua voz pareceria infantil se, por trás dela, não houvesse o tom rouco e libidinoso que eu tanto adorava.
— Se quiser mais disso – disse eu, interrompendo a frase para lamber-lhe o
clitóris, fazendo-a contorcer-se inteira – Vai ter que pedir com jeitinho!

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Contrastes II



Maya era toda o riso sem-vergonha que se estampava em seu rosto, achando graça em minha tortura. Tive vontade de apertá-la em um abraço forte, possessivo, e nunca mais soltar. Aquela não era a primeira vez que tal vontade me invadia. Eu sempre fantasiei com a suavidade de sua pele, o sabor de seus lábios e o cheiro de seu corpo, sem, ao menos, precisar tocá-la.
Quando a via, ao longe, logo eu sentia meu coração descompassado. Nos dias em que ela estava acompanhada, eu odiava seus amigos um por um, ansiando por estar tão perto dela quanto eles, ou, quem sabe, estar ainda mais perto dela do que eles. Invejei o toque, as risadas, os gestos que eles podiam apreciar de perto. Às vezes também odiava ela, por parecer tão inconsciente do visível fascínio que exercia sobre os outros. Maya me lembrava uma escultura de Camille Claudel, onde ela havia exposto todo o seu louco amor-e-ódio por Rodin. Eu adoro contrastes. E Maya era a visão, a personificação de um contraste. Contraste que eu amava. Então eu me fartava em olhá-la. Sempre gostei de olhá-la. Inteira. Na maioria das vezes, eram olhares para partes isoladas de seu corpo: ora os olhos, ora o queixo, ora o sorriso. Sempre amei seu sorriso e não canso de dizer. Seu sorriso era como música, tamanha a perfeição. Aliás, seu corpo inteiro era música, daquelas que cantam, suavemente, as sereias. E eu tinha vontade de cantá-la toda.
A primeira conversa foi como um reencontro. Um reencontro comigo mesma, a ressurreição de um sentimento que há muito eu não sentia. Absorvi cada nota da canção que saía de seus lábios e guardei-as sob sete cadeados. Busquei, desesperada, por conhecer cada referência, cada detalhe de sua intimidade. Música, filmes, literatura, gastronomia... Não tínhamos muito em comum. Mas, mesmo assim, eu quis me embeber de tudo o que lhe dizia respeito. Então eu me embriaguei toda e somente dela.
— Já teve vontade de passar o dia inteiro falando com alguém? – perguntou ela, indiferente, certa vez
— Acho que já – hesitei – Por quê?
— Porque especialmente com você, eu sinto vontade de fazer isso!
“E é recíproco”, pensei, sem ter coragem de dizer.
Maya, de alguma forma, me intrigava. Parecia não ter medo de expressar, sempre demonstrou ser bastante decidida, fazendo com que a minha vontade dela se tornasse cada vez mais concreta. Nunca gostei de ser bajulada, adorada. Paradoxalmente a minha preferência era por pessoas provocantes, que me enfrentavam, sem medo de discordar quando necessário. Maya era a personificação de tal característica. Seu temperamento era de uma rudeza encantadora.
— Já foi em micareta? – perguntou ela
— Não – respondi – Isso é coisa de piriguete – provoquei
— Bem a tua cara, então! – rebateu, com escarne
Sempre achei graça em suas tiradas. De alguma forma, elas me pareciam... Excitantes.
Apesar da vontade de tê-la por inteiro, de todas as formas possíveis, eu me contentava, apenas, com a sua presença. Até o dia em que eu senti o sabor de seus lábios... E foi em um dia chuvoso que tal vício se enraizou.
Estávamos em frente ao condomínio quando as primeiras gotas começaram a cair. Só entramos no prédio após eu conseguir convencê-la de desistir da idéia de tomar banho de chuva.
— Carol, você tem medo de água – acusou, rindo, enquanto entrávamos no elevador – Você é muito frouxa!
Fingindo um olhar zangado, eu refutei:
— Já disse que não gosto que me chamem assim. Deixa eu te pegar de jeito para você ver quem é a frouxa!
— Hum, ameaças – debochou ela
— Falo sério. – provoquei
— Então prove!
O tom de sua voz soou quase como uma intimação, apesar das risadas. Primeiro olhei-a, assustada. Prendi-me ao azul de seus olhos petulantes e me rendi (para variar). Uma rendição diferente, onde quem subjugava era eu mesma, a rendida.
Puxei-a pela cintura com uma das mãos e uni meus lábios aos seus. Se ela estava só brincando, bem, então a brincadeira havia chegado ao fim. Permaneci de olhos abertos, com medo de sua reação. Seus olhos fecharam quase que imediatamente e sua boca correspondeu, tão suave quanto a minha. Tive medo de continuar e quase me arrependi de tal atitude, chegando a pensar em afastá-la. Porém tal pensamento pareceu-me ridículo quando ela enlaçou meu pescoço com os braços e aproximou, ainda mais, o seu corpo do meu.