sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Por Amor XXV



O julgamento estava na reta final. Camila estava diante da única chance de conseguir a vitória, a advogada chegou ao centro do salão, cumprimentou os jurados e todos ali presentes. Depois deu início a sua oratória.
   - O júri é um dos melhores instrumentos para decidir certos tipos de caso. Arrisco a dizer que é até mesmo melhores que o juiz togado concursado. Por quê senhores? – indagou buscando os olhares atentos dos jurados - isso porque o juiz togado de tanto lidar com o bandido, de tanto lidar com pessoas que vão ali para enganá-lo, ele vai se deformando e acaba achando que todo mundo é culpado. Que todas as pessoas estão ali vão para mentir para ele. E o réu por definição merece punição. – Camila aumentou o tom de voz, tinha uma expressão muito forte - Merecem pena, merecem serem condenados. – frisou - O júri não. Vocês estão aqui para decidir o destino de alguém, o destino daquela mãe de família – apontou para Alicia - vocês estão aqui para julga - lá por uma coisa que efetivamente fez.
A afirmação da advogada causou muitos comentários, Larissa sorria sabia o que Camila pretendia sua visão profissional sobre a moça se engrandecia.
   - Mas! Mas existindo até a possibilidade de que ela não tenha feito. – pausou - E como vamos julgar essa possibilidade: a ação aconteceu em julho de 2009. Três anos atrás. Então para melhor compreendermos teremos que fazer um retrocesso no tempo. Reconstruir aquela realidade que aconteceu naquele dia, naquela noite, naquele lugar – gesticulava caminhando de um lado para o outro - com toda a sua espessura e sua intensidade. Nós precisamos ser como o júri sabe ser. Nos afastando do preconceito e decidirmos de acordo com as provas dos autos. A luz de algumas critérios como verossimilhança, credibilidade com razoabilidade. Porque nós não estávamos lá naquele momento. – Camila foi até a bancada e pegou a cópia do processo - E como podemos saber o que realmente aconteceu naquela noite fatídica, lendo o que foi trazido pelas testemunhas, pelos laudos e toda a prova. Lembrando quê, as provas são contraditórias, as provas são fragmentadas. Era um casal da periféria da cidade Alicia e Raul, porém Raul nutria uma raiva obscura pela a vítima, segundo depoimento dos autos a vítima havia sido promotora de acusação de um famoso traficante Malbec Santos, pai do suspeito, ele depois de anos de impunidade atravez de muito trabalho foi condenado pelos crimes cometido, porém covardemente o homem veio a se suicidar. Esse foi o motivo senhores, Raul Santos queria vingança da promotora que levou seu pai a cadeia. 
 Raul no canto afastado se remexia na cadeira fuzilada a advogada por suas palavras.
   - Então por vingança, projeta um plano para se vingar da promotora Larissa Couto. Senhores no início não foi a acusada a agir e sim uma outra mulher que inclusive prestou depoimento aqui. Alicia se ofereceu para ajudar o amante, já que não houve sucesso na tentativa de se aproximar da promotora. O que Raul nunca deixou claro foram seus real motivo para aquela articulação criminosa, tudo parecia ser apenas um sequestro, um simples sequestro, o real motivo era implícito, o que o traficante não esperava era que minha cliente realmente se envolveu emocionalmente com a vítima. - ponderou um pouco a voz - Não estamos aqui para julgar esse tipo de relacionamento senhoras e senhores, nem julgar os sentimentos de ninguem – frisou Camila para o promotor – um crime foi cometido contra a liberdade individual de uma pessoa. A senhora Alicia tem consciência disso e é por isso que estamos aqui. – ao se deparar com a resistência da amante em ajudá-lo a prosseguir com o plano Raul passa a ameaçá-la. A senhora Albuquerque foi tão vítima quando a própria vítima. Isso ficou provado com os depoimentos das testemunhas e do outros acusados, Alicia foi alvo de gravíssimas violências, ameaças, até mesmo estupro. Estupro – frisou – na frente da própria vítima. Existem outras questões que nunca tiveram em causa, entre ela a liberdade sexual. As pessoas efetivamente trancadas em seus quartos podem fazer o que quiserem desde que as duas queiram. Como a promotoria pode dizer que foi consensual um ato criminoso desse? Ato  esse que foi testemunhado pela própria vítima. E o que ela conta? Que ele obrigou a Alicia a fazer sexo. E quais foram os motivos? Porque a senhora Albuquerque tinha levado comida para a vítima que estava em cárcere. O orgulho daquele homem estava ferido, sua masculinidade estava abalada ao saber que sua mulher havia se apaixonado pela promotora. Ele a violentou de forma brutal fazendo a outra assistir a tudo unicamente para provocar dor em ambas. Foi isso que aconteceu, foi isso que a própria vítima contou em seus depoimentos. Que a senhora Albuquerque era violentada, maltratada, ameaçada constantemente. E detalhe, por mais culpada que fosse, era ela que apesar de todos os riscos que corria contra sua integridade fisica. – Camila encarava um a um os jurados, suas palavras causavam muita emoções nos presentes - alimentava, cuidava e tentava proteger a vítima, evitando que ela levasse um banho de água fervente. – muito barulho, os jurados arregalaram os olhos chocados - Agora senhores vocês devem está se perguntando se não era por dinheiro então porque Alicia era conivente ao seqüestro? A resposta é muito simples, POR AMOR... – mais barulho.

 - Ordem! Ordem. – pedia a juíza.
     - Alicia vivia com esse homem e dessa relação teve um fruto o pequeno Vinicius. Quantos de vocês aqui no júri tem filhos, o que faria para proteger seu filho? Foi em nome desse AMOR que a senhora Albuquerque se deixou coagir. Não foi dinheiro senhoras e senhores foi POR AMOR. O articulador foi em seu ponto mais fraco, seu amor de mãe. Mas foi esse mesmo sentimento que levou ao arrependimento, foi esse amor que levou a salvar a vida da mulher que tinha feito tanto mal. Estou aqui relembrando os fatos senhores, a luz das provas que existem – silenciou - algumas pessoas dizem uma coisa, outras pessoas dizem outras, mas essa versão que aqui descrevo está apoiada no depoimento da própria vítima e de dois acusados. Eles deixaram claro que a galega, assim que chamavam a acusada a senhora Albuquerque ela era uma mulher boa, mesmo assim o chefe Raul vivia batendo-a principalmente quando ficava sabendo da ajuda que ela dava a vítima. Senhores em depoimento a polícia um dos acusado afirma que recebia ordem expressa para não deixar à senhora Alicia sair de casa, como pode a própria articuladora ficar em cárcere. Como podemos ver essa mulher era tão refém quanto à vítima. Olhem sem as vendas do preconceito senhoras e senhores, o fato é que a senhora Albuquerque e a senhora Couto são um casal perante a lei assim rege o documento de união estável. Não estamos aqui para negar o fato que de forma passiva, mas existente a senhora Albuquerque participou do seqüestro. Não estamos aqui para diminuir a sua culpa por ter enganado, agido de má fé a alguém que sempre lhe ofereceu afeto. Minha cliente é culpada SIM. Ela participou do planejamento, mas quando percebeu o erro que estava cometendo tentou retroceder. Foi então que o seu ex-amante começou a ameaçá-la dizer que iria matar seu filho. Imagina você receber uma ameaça de alguém de uma pericolosidade monstruosa iria matar uma criança de três anos de idade, uma criança inocente. Eu particulamente não arriscaria – disse a advogada - Quem era essa mulher antes do acontecido, uma mulher de família humilde e de poucas oportunidades que cometeu o ERRO – falou num tom alto – cometeu o erro de se envolver com o homem errado. Essa mulher senhores nunca tinha cometido um crime qualquer, nunca, nem multa de transito, nem um ato antiético, nenhuma falta contra a sociedade. Era humilde, pobre, trabalhava e nunca tinha cometido nenhum crime. Mas naquele dia enquanto as duas mulheres corriam no calçadão o seu amante mesmo diante de protesto as seqüestras, arremeçando minha cliente do carro para fora em alta velocidade onde por sorte não morreu.
       Depois disso a senhora Alicia nunca mais cometeu nenhum outro crime, nenhum. Fugiu porque temia pela própria vida e a vida de seu filho, não com medo das autoridades, mas sim com medo do traficante. senhores Raul Santos é um dos criminosos mais procurado do Estado, mesmo fugida ele a encontrou, a machucou, ameaçou, matou sua avó materna a sangue frio na frente do próprio filho que tinha três anos na época. Mais uma vez a tornando refém. Tanto é que so quando a polícia invadiu a casa do traficante e ela foi presa que ela de fato se tornou livre. Livre de sua violência de seus maustratos, na primeira oportunidade senhores minha cliente a senhora Maria Alicia Albuquerque Couto confessou toda sua participação no crime. O relato do próprio delegado afirmou a suspeita não ofereceu resistência alguma. É ai onde o júri pode considerar a verossimilhança do que se parece mais com a verdade. Será que essa mulher é uma mulher boa que nunca tinha cometido nenhum tipo de crime, será que essa mulher subitamente naquela noite se tornou uma criminosa? Uma louca, uma facínora, capaz de torturar friamente sua companheira. Ou será muito mais razoável que diante de tantas ameaças, ameaças de matarem seu único filho, ela se viu obrigada a participar de forma passiva desse ato criminoso. O quê que se parece mais com a verdade à estória da acusação ou a estória da defesa? – Camila ficou um tempo em silêncio para que o júri pensasse um pouco, depois tomou a palavra - Porque quando agente ver um sujeito que já matou cinco pessoas, já feriu outras cincos é levado a acreditar que ele matou alguém porque já fez isso antes – afirmou - essa pessoa é perigosa. Mas essa – se aproximou de Alicia encarou seus olhos - com um passado e um futuro brancos e imaculados em relação a qualquer tipo de crime. Será que ela virou um monstro ao seqüestrar a sua companheira, depois virou boazinha de novo, porque foi ela, unicamente ela que ajudou a vítima, foi ela que fez a denúncia dando a localização do cativeiro. Foi essa mulher a quem querem condenar que devolveu a liberdade a vida. Não é verocimero, não é razoável, não é lógico. Alguns doutrinadores italianos costumam dizer que a lógica é a rainha das provas.
          No fim da sua réplicar Camila dá sua cartada final. Posiciona-se bem em frente do corpo de jurado, sua voz sai num tom mais baixo, a lourinha encara um a um e toma a palavra mais uma vez.
   - O que realmente temos aqui senhora e senhores, quais são as reais provas para condenar essa mulher? Na gravação colhida pela justiça da negociação dos seqüestradores em momento algum aparece a voz da acusada, ou melhor, apenas houve duas ligações durante todo período de seqüestro, deixando mais que óbvio que o interesse dos seqüestradores não era fins financeiros. Até porque a vítima segundo consta é funcionária pública e tem seus recursos limitados, nunca podendo pagar o valor exigido pelo resgate na época, o que descaracteriza o crime de extorsão. E Alicia sabia disso, namorou durante 13 meses a promotora, sabia que ela sempre foi uma mulher honesta e sabemos que o salário de um promotor de justiça que vive honestamente no máximo lhe dá uma vida confortável. – agora Camila abriu um sorriso tinha chegado o momento - Sabem o que é marionete senhoras e senhores. – nesse momento Camila foi até sua bancada onde um de seus assistentes lhe entregou uma marionete para surpresa de todos até mesmo de Alicia era um brinquedo com suas características fisica, houve muito burburinho no tribunal com a ousadia da advogada.
    – Isso é uma marionete! Essa é minha cliente. Ela não passa de uma marionete dessa quadrilha que usou como escudo humano. – me digam ela parece ter vontade própria? – Camila foi ousada levantou o brinquedo para o júri que olhavam curiosos realmente a boneca parecia com Alicia.

   - Protesto. – falou o promotor indignado.

   - Aceito – falou a juíza – isso não é um circo Dra. Lafaiete.

   - Desculpe.

   - O júri deve desconsiderar o fato – falou a juíza aos jurados, mas Camila já tinha conseguido o efeito que queria deixando Larissa mais que orgulhosa da atuação da advogada. Lembrou-se do comentário que tinha feito meses atrás.

   - As provas não provaram nada. A participação passiva foi admitida pela própria acusada, mas é mínima, uma vez que ela mesmo foi vítima desse homem que a manteve em cárcere durante muito tempo, que a violentou, machucou, assassinou sua avó na frente do próprio filho. Ela não passa de uma vítima também. Há uma teia imensa com uma aranha que manipula cada ponto. E vocês realmente acreditam que essa mulher é a mentora de tudo isso? Não senhoras e senhores, ela foi sim vítima das circunstâncias, ser mulher de um criminosos a torna criminosa? Apenas ,aqui apresento os reais fatos para que vocês possam julgá-la de forma justa, para que ela pague sua dívida com a sociedade. Não bastas pequenas evidências para condená-la. A passa tantos anos de sua vida em uma penitenciária, tendo muitas vezes seus direitos básicos violados, se até mesmo a própria vítima não a considera tão culpada assim, por que condená-la? Às vezes – Camila mudou o tom para passa mais emoção e estava conseguindo – pessoas boas podem fazer escolhas erradas, pessoas boas podem fazer coisa ruim, até agora não foi mostrada pela acusação uma prova razoável para condená-la. E a lei é clara se a promotoria não prova sem que reste qualquer dúvida da autoria do crime ela é inocente. Qual foi o crime que essa mulher cometeu? Proteger o filho acima de qualquer coisa? E é por esse motivo que peço a absolvição do réu.
Camila foi perfeita em sua réplica. Conseguiu mexer com a cabeça dos jurados, todo tribunal se remexia, a advogada conseguiu usar tudo a seu favor, já podia sentir o gosto da vitória, a juíza pediu um recesso pra que os jurados pudessem deliberar, já que o Ministério Público recusou o direito à tréplica. Antes de ser escoltada, Larissa buscou os olhos de Alicia. Havia um sorriso na face de ambas. Sorriso eu tornou-se mortal. Alguém não muito longe dali captou aquela mensagem. Raul levantou de sobre salto um ódio possuiu a mente o cegando, aos empurro ele caminhava em direção a promotora que parecia distraída. Ao se virar o homem sacou a arma, parecia uma cena de filme, ao ver a arma apontada para Larissa Alicia tentou correr mais era tarde demais, os policiais a segurava o estrondo dos disparos assustou todos ali presente. Larissa parecia não entender o que estava acontecendo virou-se para o lado foi quando reconheceu o homem, gritos, dentro do fórum. Raul foi derrubado por um policial que o prendeu, em segundos Larissa percebeu tinha tomado tiros no abdome, agora uma forte dor, o gosto de sangue na boca, ai veio a escuridão.
    - Me solte. – gritava Alicia em desespero. Tinha sido levada dali.
 Camila se apavora ao ver o corpo da amiga no chão.
    - Saiam de perto. – gritava Luiza, dona Laura cai no maior desespero assim como seu Augusto.
           Luiza prestava os primeiro socorros a amiga, minutos depois a ambulância chega e a promotora é levada para o hospital. O acontecido passa em todos os noticiários da TV. Alicia é levada de volta a penitenciaria, a agente tem dificuldade de conduzi-la para cela, a mulher estava transtornada, a imagem de Larissa tomando um tiro lhe tirar o ar. Seu peito doía demais, ela caiu sentada no chão da sua cela, aos prantos.
        Enquanto isso o destino de Larissa estava nas mãos de Luiza, a médica tomou a frente, levou Larissa para mesa de cirurgia, seu estado era muito grave a bala perfurou alguns órgãos, a lourinha tentava reverter o quadro mais estava difícil, Larissa teve que ser reanimada três vezes, a cirurgia demorou quase 6 horas. Luiza sai da sala de cirurgia arrasada, joga a toca no chão, Andréia se aproxima dela.
    - Você fez o melhor que pode.
   - Ela não responde. – disse se entregando ao choro. – a perdi três vezes...
   - Você nunca perdeu seu dom, você fez tudo que estava ao alcance da medicina.
   - Devo minha vida a essa mulher – disse Luiza encarando a antiga chefe – devo minha vida a ela. – saiu precisava falar com a família de Larissa. Luiza antes tomou um rápido banho. Vestiu uma roupa da Duda. Chegou na sala de espera, dona Laura consolava o marido.
   - Tia, - chamou Luiza sentando próximo a eles.
 Os olhos dos pais de Larissa somavam tamanho desespero.
    - Eu conseguir retirar as balas, mas o estado dela é muito delicado as próximas horas será decisivas.
          Luiza abraçou os dois, os três choravam como criança, Camila recebia o apoio da esposa e da amiga, tinha Larissa como uma irmã, aprendeu amá-la e respeitá-la. Todos ficaram a madrugada inteira ali, os pais de Larissa não saiam da capela.
    - Melhor você ir pra casa, - pediu Luiza.
   - Estou dizendo a Camila, mas ela é teimosa como uma mula – falou Amanda – vamos passar na casa de Larissa e pegar o Vinicius, melhor ele ficar lá em casa, pelo menos tem o Lucas pra ele brincar.
   - Faz isso mesmo, ele precisa ficar longe disso tudo.
Camila enxugou as lágrimas e respirou fundo.
   - Preciso ir ao presídio Alicia deve está desesperada.
As três concordaram.
         Alicia continuava deitada no chão frio da cela, toda encolhida chorando, sua dor era tão grande que não tinha como descrevê-la. Orava baixinho pedido pela vida de Larissa, fazendo mil promessas. Camila recebeu autorização para falar com ela, as duas amigas se abraçaram, Camila contou tudo que tinha corrido.
    - Você sabe que ela está sendo cuidada pelos melhores médicos daqui.
Alicia fez que sim mesmo aquela notícia lhe doendo tanto.
   - Ela vai ficar bem. Mas preciso que você fique bem.
         Alicia não tinha a mesma confiança, naquele momento era atormentada por pensamentos ruim. As horas eram massacrante, Alicia chorava em sua cela, ao lembrar-se da esposa.

Capítulo dezessete
          No hospital o estado da promotora continuava crítico, ela ainda estava na UTI. Raul finalmente foi preso, agora se encontrava numa cela com mais 22 presos. O homem não parecia arrependido adotou o total silêncio.
        Foi uma semana depois Camila fica surpresa, a juíza não queria prolonga ainda mais aquele julgamento ela marca a seção para amanhã seguinte, restringindo a abertura ao público, apenas as partes interessadas pode esta presente. Alicia não entende porque tão rápida depois do que aconteceu esperava mais tempo para finalizar o caso. Uma vez os jurados deliberando, a juíza finamente ler a sentença.
    - Com cinco voto a dois o jurados consideram o réu inocente. Senhores jurados de acordo com a consciência de acordo com os ditames da justiça absolveram o réu. Que o réu permaneça em pé os demais pode permanecer sentado. Submetido a julgamento o réu Maria Alicia de Albuquerque Couto perante o egrégio tribunal de júri esta após reconhecer por cinco a dois a materialidade e a letalidade por cinco a dois. Tenho para mim, entretanto uma vez absolvido do seqüestro é tão abrangente que dou por encerrada essa seção.
           A juíza bate com o martelo, Alicia não acredita no que acabou de ouvir, Camila abri um sorriso imediatamente o promotor de aproxima dela lhe cumprimentando. Alicia permanece sentada na cadeira. Sua mente ainda não conseguia compreender inocente, Camila conseguiu o que prometera a Larissa inocentaram Alicia.
 - Deus está te dando uma segunda chance, a sociedade está te dando uma segunda chance, faça-a feliz, porque ela merece. – disse Camila, com toda sinceridade do seu coração.
            Alicia sentou-se na cadeira boquiaberta, por muitos momentos duvidou que sairia da cadeia. Mas a realidade se mostrava o contrário, estava livre, livre.
    - Você está livre. – falou Camila, confirmando o que sua consciência negava. – você está livre.
Alicia finalmente saiu de transe, encarou sua advogada suas palavras saiam em burburinho.
    - Ela sempre acreditou em você. – disse a lourinha com os olhos cheios de lágrimas. Camila abriu um sorriso.
   - Ganhei por ela, pra ela. – disse Camila abraçando a amiga. – vou providenciar seu alvará de soltura.
          Alicia ainda duvidava do que acabara de acontecer, o júri a absolveu, estava livre. Livre. Sua advogada voltou meia hora depois com o documento em mãos, os entregou a estudante. Alicia tremia diante dos papéis, os leu atentamente, de fato buscou os olhos da advogada que continuava a sorrir.
    - Acredita agora?
         Alicia balançou a cabeça em sinal de afirmação, ainda estava muito emocionada, ganhara a liberdade. Tentou se recompuser. Enquanto Camila dava a notícia por telefone aos familiares.
    - Alicia, vamos. – chamou.
   - Preciso vê-la.
   - É pra lá mesmo que vamos, Larissa está bem acabei de falar com Amanda, pouco a pouco ela se recupera, sua presença vai lhe dá força para que ela melhore logo.
            Camila pegou a pasta e seguia em frente, Alicia permanecia no mesmo lugar, tinha medo. Logo atrás daquela porta tinha muitos jornais e televisão. Ao observar a inquietude da cliente Camila retrocedeu, estendeu-lhe a mão.
    - Você é uma mulher livre, e inocente a justiça entendeu assim. – falou a advogada com convicção. – erga a cabeça e vamos sair.
          Alicia estava corroída na vergonha não se considerava inocente, saiu do fórum de cabeça baixa, muitos jornalistas se amontoaram, fazendo mil perguntas a Camila.
     - Como podemos ver, minha cliente é inocente de todas as acusações, não restando dúvida que ela foi sim uma vítima. Assim entendeu a própria vítima Larissa Couto e a justiça. – finalizou a advogada, ganhando passagem.
         Alicia não falou uma só palavra, entrou no carro de Camila apressada. Ambas foram para o hospital, onde já as aguardavam. Milhões de coisas passavam pela cabeça de Alicia, sentimentos diversos que a deixava apavorada, o medo da rejeição, a alegria do amor, o remorso. O carro estacionou ambas saiu, Camila teve que aparar a estudante, pois ela quase caiu, sentia uma tremedeira, estava pálida como papel, suas mãos frias.
    - Você não está se sentindo bem?
   - Estou com medo. – confessou à lourinha.
   - Medo de quê?
          Alicia caiu num choro desesperado, não sabia definir seus sentimentos naquele momento, Camila a levou para dentro da clínica. Ficaram na recepção, demorou cerca de dez minutos para que a mulher se acalmasse, logo em seguida Luiza levou Alicia para o consultório de Duda.
    - Me deixa só com ela. – pediu Luiza.
             Alicia estava sentada na poltrona de cabeça baixa chorava feito criança. A se ver sozinha com a mulher Luiza puxou uma cadeira e sentou-se em sua frente.
    - Sei que ai dentro deve está em revolução – começou a médica, seu timbre de voz era amigo. – Larissa se feriu gravemente, por pouco a perdemos – Alicia a olhava – por pouco ela morreu em minhas mãos – disse a lourinha tristonha – acho que você conhece minha estória – Alicia fez que sim – minha vida esteve nas mãos de Larissa por muitas vezes. Sou eternamente grata por isso, conseguir salva-lá, não só da morte mais também de uma vida infeliz, através da minha irmã devolvemos a felicidade aquela mulher que significa mais que uma amiga pra nós duas. Larissa a ama, Larissa verdadeiramente a ama. Por Amor ela fez muitas coisas. Se arriscar muitas outras, que são importantes pra ela. E você sabe disso, senti muita raiva de você, a julguei muitas vezes, desde que soube. Mas hoje a recebo de coração limpo. Sei que a ama, vejo esse amor em seus olhos. Levante a cabeça Alicia, hoje você faz parte de nossa família. Larissa está bem, seu estado é delicado, mas ela vai ficar bem. Agora preciso que você fique bem. Vamos esquecer o passado. Se dê uma nova chance.
           Alicia buscou o abraço de Luiza, chorou copiosamente, seu coração sentia-se tão pesado diante do remorso que sentia. Luiza lhe deu um calmante, meia hora depois ela estava mais calma. Reuniu força e foi até o quarto de Larissa, no caminho encontrou com a sogra.
As duas mulheres se fitaram por um momento. Alicia estava com os olhos vermelhos ainda. Dona Laura parecia surpresa com a presença da nora. 

Alicia... – falou a mulher.
   - Me absolveram dona Laura, como ela está? – apressou-se a dizer.
   - Minha filha. – dona Laura puxou Alicia para um abraçado maternal. Sentira feliz em saber que a nora estava livre. As duas mulheres choravam baixinho, Alicia pedia perdão, nunca tivera a oportunidade de se desculpar com os pais de Larissa, embora aquele momento não fosse o mais apropriado a lourinha precisava dizer.
   - Preciso vê-la. – pediu se afastando um pouco da mãe de Larissa.
  - Ela está melhor, Luiza disse que seu estado é delicado, mas minha filha é forte como um touro – disse sorrindo – entre ela está acordada, ela está com o Vinicius e o Augusto.
          O coração de Alicia bateu tão forte que parecia sair pela boca, Camila já tinha informado para os pais de Larissa sobre o resultado do julgamento. Só que eles preferiram não contar a morena ainda. Queria fazer uma surpresa. Mas acabaram eles tendo uma surpresa. Larissa parecia ter certeza que o resultado não seria diferente.  
       Alicia abriu a porta de vagar, podia ver o pequeno, que já não estava tão pequeno assim, Vinicius estava sentado perto do senhor Augusto, ao entrar olhos voltaram-se para ela. Um misto de emoção, o menino correu para seus braços, Alicia se desmanchava em lágrimas, Larissa parecia não acreditar, minutos depois Alicia foi até a morena que estava deitada na cama.
    - Como você está? – perguntou chorando e rindo ao mesmo tempo - tô aqui amor, nunca mais saio de perto de você.
         Foi o que a lourinha conseguiu dizer abraçando à morena que arrancava gemidos de dor, mas ambas precisavam daquilo. Seu Augusto tirou o menino do quarto, Alicia estava muito nervosa, chorava muito. Larissa não conseguia dizer uma só palavra. Demorou até que Alicia se recuperasse.
    - Eu tô aqui, eu tô aqui. – repetia. Pegando a mão da promotora e passando em seu rosto.
   - Eu estou vendo – Larissa sussurrava ainda sentia-se muito fraca.
   - Meu Deus eu em cima de você. – disse ao perceber que a morena ainda estava muito debilitada.  – Camila conseguiu.
Larissa abriu um sorriso que iluminou o quarto.
   - Sempre soube que ela conseguiria. – disse orgulhosa.
    Alicia baixou a cabeça, mesmo inocentada ainda sentia-se em dívida com Larissa.
    - Você não teve a oportunidade de escolha – disse a morena num tom mais sério – você realmente quer ser minha esposa?
   - Se você ainda me quiser mesmo depois de tudo que fiz.
   - Eu a amo. Suas atitudes passadas não conseguiram mudar isso, então não vai ser agora que você pode me mostrar que pode ser uma pessoa melhor que vai me fazer desistir.
     Alicia não tinha dúvida alguma, aproximou-se dos lábios da morena e a beijou com todo amor que sentia, seu beijo foi correspondido na mesma proporção. Nos dias seguintes Alicia não saia do hospital, a recuperação da promotora foi um tanto demorada, Alicia passou por situações muito delicadas, mas depois de vinte dias ela recebe alta. Muitos jornalistas se aglomeravam em frente ao hospital, desejando uma declaração da promotora.

   - Melhor irmos por trás, lá na frente tem muitos jornalistas. – sugeriu dona Laura.
   - Não mãe, eu e Alicia vamos sair pela frente, não somos nenhuma criminosa.
   - Filha, você tem uma vida pública as pessoas ainda comentam sobre o julgamento e seu casamento com a Alicia.
       Larissa ignorou o apelo da mãe, não tinha vergonha de nada muito menos na mulher que estava ao seu lado. Iria sair pela porta da frente e sim daria uma declaração pública sobre o caso. Camila também concordava com a posição da amiga. Aquilo colocaria por fim todas as fofocas que surgia diante do caso. Assim que a família de Larissa apareceu na frente do hospital muitos holofotes recaíram sobre elas. Larissa caminhava devagar com Alicia ao lado, os jornalistas se aproximaram os seguranças rodearam as duas mulheres evitando muita aproximação. Inúmeras perguntas foram feitas. Larissa foi cordial, respondeu a maioria das perguntas dos jornalistas até as mais inconvenientes. Logo em seguida foram para casa onde todos estavam reunidos.
     A mãe de Larissa fez um almoço caprichado, todos comemoravam. Alicia sentia-se meio constrangida diante de todos, dentro dela sempre ia ficar o remorso. Larissa volta e meia a abraçada mostrando-lhe que as coisas iam ficar bem. Depois que todos foram embora dona Laura procurou pela nora que lavava os pratos na cozinha, Larissa tinha ido se deitar sentia um pouco de dor havia feito muitas extravagância.
    - Deixa isso ai. – disse a mulher.
   - Já terminei. – Alicia virou para pegar o pano de prato.
   - Alicia. – chamou dona Laura, finalmente a lourinha a encarou.
     Dona Laura captou o olhar de repleto de medo e vergonha. Desde que a nora chegou para morar ali podia notar seu tamanho desconforto. Ela vivia sempre pelos cantos da casa evitava todos.
    - Você não está feliz?              
Alicia então falou com toda sinceridade de seu coração.
   - Nunca poderei ser totalmente feliz, por minha culpa minha avó morreu, causei uma dor irreparável a vocês... Eu não mereço nada disso, sou culpada por tudo, mesmo assim a justiça me inocentou.
 Dona Laura se aproximou, sua voz saiu branda.
    - Você é culpada sim, por todo sofrimento de minha família, mas você é a pessoa que minha filha escolheu. Você foi culpada sim, mais seu arrependimento é sincero. Desde que a conheci vi em seus olhos você ama a Larissa, acho que nem você mesmo sabia. Há muito tempo. Lembro da primeira vez que Larissa lhe levou a nossa casa, seu jeito tímido e humilde, você é uma pessoa simples e sem frescura. Vi a felicidade em seus olhos em nosso seio familiar. Pra nós, para a sociedade você já pagou pelo que fez. Seu sofrimento não foi menor ou maior que o nosso. Se der uma segunda chance. Dê a Larissa e ao Vinicius uma segunda chance. Seja onde sua avó estiver ela ia querer isso. Falo como mãe, filha. Você tem uma família agora, você é minha filha agora.

         Alicia abraçou a sogra com carinho. Depois dos agradecimentos. Foi pro quarto. Larissa lia um livro a lourinha entrou desconfiada, a morena a observava, esperou que ela tomasse banho e se trocasse. Depois ela saiu para ver o filho, voltou minutos depois.
    - Não larga do leão aquele urso esta imundo. – falou Alicia deitando ao lado da morena.
   - E eu não sei Maria já tentou lavar inúmeras vezes mais quando ele sai pro colégio esconde o danado.
Alicia riu.
   - Eu te amo. – falou a morena toda apaixonada. – vamos começa do zero.
    Alicia fez que sim com a cabeça, a vida lhe dera uma segunda chance. Os olhos se fundiram, os lábios se tocaram um beijo doce, apaixonado cheio de amor. Um beijo de amor, um beijo de recomeço...


EPÍLOGO

    Oito meses depois

         Depois da absolvição da loirinha muitas coisas mudaram. Raul soube do resultado do julgamento ficou possesso. Mandou inúmeros recados para Beto ordenando que o tirasse dali, mas o antigo parceiro não mais o via como antes. Com a prisão de Raul, Beto resolveu à forte punho assumir o comando do tráfico na favela onde Raul reinava, mesmo com toda pressão da polícia o homem conseguia se sobrepuser. Raul se perdia na lamúria. Agora os pesos dos seus atos caiam em suas costas, sem amigos, sem dinheiro, a vida no presídio era cada dia pior. A falta do filho era latente, nunca mais o veria, pediu inúmeras vezes para que o advogado o levasse, mas a promotora usou de toda sua influência no âmbito jurídico para vetar qualquer possibilidade de aproximação. Alicia, nunca passaria por cima de uma decisão da mulher.
          Vinicius já não perguntava pelo pai sentia-se muito feliz com suas mamães. Meses depois Alicia recebeu a notícia que o traficante num ato covarde havia se suicidado, mesmo a contra gosto de Larissa levou Vinicius para o velório do pai. O menino apesar de tudo era filho dele, mas a mulher não permitiu a presença da esposa.
         Beto acabou sendo preso, o depoimento de Alicia foi crucial para colocar muitos homens importantes na cadeia. A vida havia seguido seu curso. A loirinha resolveu voltar a estudar, voltou para a faculdade de direito. A cada dia se mostrava mais interessada. Queria atuar na área da família, apesar da felicidade que sentia ainda sofria com a perda da avó queria que ela estivesse ali vendo seu crescimento. A convivência com Vinicius mudou Larissa por completo. Hoje aos 35 anos a morena queria ser mãe, mas não que ela gerasse, a morena tanto pediu que Alicia acabou cedendo. A loirinha hoje gerava um filho de Larissa, a morena havia doado o óvulo e seu primo o esperma, Alicia estava grávida de cinco meses e pra surpresa do casal eram gêmeos. Na manhã de terça feira a morena acordou cedo, estava agitada.
    - Que agonia é essa amor? – indagava Alicia enquanto assaltava a geladeira a gestação tinha lhe aberto um apetite monstruoso. Larissa folheava o diário oficial.
           Larissa sentia o coração saltitando lembrou-se há quase cinco anos atrás naquela agitação em busca do resultado. De repente os gritos pela casa. Mulher explodia de felicidade, uma felicidade, orgulhosa. De imediato ela pegou o telefone.
    - Alô – dizia uma voz sonolenta.
   - Você passou – gritou à morena.
          Camila afastou o celular do ouvido tamanho foi o grito da amiga, Larissa falava tão rápido que o raciocínio da advogada estava lento. Finalmente entendeu. Levantou-se da cama e correu para pegar o diário oficial, buscou seu nome. O encontrou com nota máxima. Camila sentiu uma emoção explodir seu peito, realizara um dos seus maiores sonhos profissionais, passara num dos concursos mais difíceis do país. Finalmente chegara onde foi instruída para chegar. Tornara-se promotora, promotora assim como sua especial mentora.
A felicidade estava plena. E assim a vida vai seguindo seu curso fazendo do fim de uma história sempre o recomeço para outra...

7 comentários:

  1. Seu conto é belíssimo. Você escreve textos maravilhosos. Seus contos nos prendem, sabia? Meus parabéns!

    Natália

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    1. Olá,
      os contos não são meus, são da Arien que gentilmente me autorizou a postar aqui :)

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  2. ACABOU??? o que você tem pra gente agora?

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  3. jah estou com saudades... vc nao pode para de postar mais contos.. vc é maravilhosaa

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