Chegamos ao elevador em silêncio,
apenas trocávamos olhares. Acredito que as palavras eram desnecessárias, mesmo
com os trejeitos enigmáticos. Era como se nos bastássemos aos ouvir a
respiração da outra, ao saber que estava ao lado e estava bem. Pelo menos isso
me bastava... E me enchia de vontade de tê-la novamente. Meus movimentos de
puxá-la pela nuca e roubar-lhe um beijo foram quase que automáticos. Ela também
não recuou, apenas se deixou levar por minhas carícias, enroscando sua língua
com a minha, sugando meus lábios e segurando minha nuca, numa espécie de
disputa sobre quem obedeceria quem, quem comeria quem, quando, no fim, ambas
estavam totalmente entregues ao desejo insigne e latente que, praticamente, se
assemelhava à presença de uma terceira pessoa. Suas mãos já me estavam
bolinando os seios, enquanto a minha se atrevia a acariciar seu sexo por cima
da calça.
Quando o elevador chegou ao nosso
andar, desgrudamos os lábios e nos deparamos com uma vizinha confusa nos observando.
O cachorrinho preto, preso a uma coleira, nos olhava de igual forma, como se
compartilhasse com a dona a confusão. Eu e Maya voltamos a rir e fomos em
direção ao apartamento, enquanto sentíamos os dois olhares atentos nos
acompanhando.
— Além de me ouvir gemendo feito
louca, a vizinha, agora, me viu sendo agarrada no elevador – debochei, ao
fecharmos a porta – Vou ficar mal-falada nesse prédio.
— Aposto que ela ficou morrendo de
vontade de estar entre nós. – disse Maya
— Isso seria um problema, pois não
suporto que ninguém toque na minha namorada, afinal ela é uma gata no cio que
não pode ver mulher. – provoquei, petulante
Mostrando-se contrariada com minha
afirmação, ela agarrou-me pelos cabelos e disse:
— Vou já te mostrar quem é a gata no
cio, filha da puta.
Dito isso, uma vertigem se apossou de
meu ser, antes mesmo de seu corpo avançar contra o meu e me imprensar contra o
braço do sofá. Eu simplesmente adorava o sentimento claustrofóbico que me
dominava quando ela me agarrava em algum canto onde eu não tinha (e não queria
ter) a mínima chance de escapar. O sentimento desesperador de falta liberdade
assemelhava-se muito ao sentimento mortificante de falta dela. Suas mãos fortes
me apertavam as nádegas, as coxas, os seios, a cintura, a nuca, os braços. Sua
língua percorria cada espaço descoberto de pele, deixando um rastro úmido. Maya
praticamente foi à loucura quando arranquei minha blusa e ofereci os seios para
seus lábios famintos. Sua boca parecia querer me engolir. Ela sugava-os com
volúpia, esbaforida como um náufrago chegando a terra. Um sorriso escancarou-se
em meu rosto enquanto eu encurvava mais as costas, a fim de mostrar-lhe que
meus seios eram inteiramente seus.
Uma de suas mãos escorregou para
dentro de minha calça, alcançando minha umidade. Só o reencontro de seus dedos
com minha boceta já me fez reviver o prazer que ela me fizera sentir há pouco
tempo, na garagem, arrancando-me um gemido de prazer. Após alguns segundos,
contrariada, ela resmungou que minha calça era muito justa e ajoelhou-se para
tirá-la. Sua boca cobria de beijos cada milímetro de pele descoberto, com todo
o cuidado do mundo. Ao ver a mancha gigante de minha umidade em minha calcinha,
ela gemeu:
— Quero muito te chupar inteira,
agora!
— E está esperando o que? – provoquei
— Você pedir.
Olhando-a de forma desafiadora,
espremi os olhos. Ela, em contrapartida, abriu um sorriso safado e lambeu os
lábios, tentadora. Levantou-se, tirou a calça e a blusa, para, depois, voltar a
se ajoelhar. Maya fechou os olhos e fez cara de vagabunda enquanto sua língua
se dirigia para minha virilha, deslizando por toda a sua extensão. Após uma
pausa para umedecer os lábios e voltar a fazer cara de puta, ela se dirigiu ao
outro lado e me lambeu novamente. Tive a impressão de que litros e litros
estavam escorrendo por entre as minhas pernas e que iria morrer se não sentisse
sua língua me fodendo inteira naquela hora. Fechei os olhos com força e gemi
alto quando ela deslizou a língua sobre minha calcinha, pressionando meu
clitóris. Abri bem as pernas e fiz menção de puxar sua cabeça com as duas mãos,
mas ela logo se desvencilhou e, como era mais forte, segurou meus pulsos,
voltando a lamber minha boceta por cima da calcinha.
Absurdamente molhada, senti vontade
de sentar em sua boca e esfregar meu sexo incansavelmente em sua boca, até
inundá-la com meu gozo. Maya se divertia com meu sofrimento, puxava, com os
dentes, o tecido da calcinha para o lado, esbarrando em meu clitóris, passando
os lábios suavemente por ele. Às vezes separava bem os lábios e soltava ar
quente pela boca, me fazendo ir ao céu e voltar. “A filha da puta está
brincando comigo!”, pensava eu. A provocação última foi quando, de forma
quase que imperceptível, Maya deslizou a língua por toda a extensão de meu
sexo, fazendo-me quase gritar de tesão.
— Eu quero que você me chupe, quero
que você me foda, quero que você me coma inteira e agora, se não eu morro! –
esbravejei, tomada por um descontrole impossível de se descrever
Não pude ver a sua expressão, mas
ouvi seu risinho sem vergonha de quem havia conseguido o que queria. Não me
aborreci. Apenas fiquei esfuziante por, finalmente, poder sentir sua língua
percorrendo toda a minha boceta molhada, fazendo-me urrar de desejo.
O que ela me proporcionava era um dos
mais profundos prazeres que poderia existir. Sua língua passeava pelo meu
clitóris, pela minha virilha, por minha vulva inteira e, deliciosamente,
enfiava-se dentro de mim com toda a lascívia possível. Eu abria, cada vez mais,
as pernas, querendo senti-la toda dentro de mim. Com as mãos, eu massageava
meus próprios seios, enquanto gemia incessantemente. Arqueei o corpo para trás
a ponto de fazê-lo escorregar do braço do sofá. Maya, gulosa, acompanhou meu
movimento, mal tirando sua boca de meu sexo. Seus lábios sugavam meu clitóris
inteiro para dentro de sua boca, me fazendo serpentear o corpo no sofá. Suas
mãos arranhavam minhas coxas e, quando sua língua estava ocupada me fodendo,
massageavam-me o clitóris.
Ao sentir o orgasmo se aproximar,
comecei a agarrar o sofá e puxar seus cabelos. Sua língua limitava-se a
esfregar meu clitóris, em um vai-e-vem que me parecia deliciosamente infinito.
Meu corpo contorcia-se, suava, movia-se conforme seu ritmo, e ela permanecia
ali, me lambendo, se esfregando. Tudo o que eu conseguia pensar era: “Não
para, não para!”. Segundos depois, eu pude notar que já estava gritando
meus pensamentos.
O orgasmo chegou tão forte que perdi
o fôlego enquanto meu corpo contorcia-se inteiro, convulsivo de prazer. Gritei
seu nome tantas vezes e puxei tanto seus cabelos que até eu me estranhei. Meu
corpo enrijeceu de forma que precisei esperar o terremoto inteiro passar, para
poder voltar ao normal. Senti as coxas molhadas e Maya me lambendo toda.
Permaneci imersa na onda de plenitude
que me dominara até que minha respiração se acalmasse. Maya deitou o corpo
sobre o meu, levou os lábios até minha boca e me beijou de forma possessiva.
— Gostosa! – disse, com voz rouca –
Te amo demais, sabia?
Com um sorriso satisfeito, enchi seu
rosto com delicados beijos, como se tivesse medo de machucá-la. Seu rosto
afundou em meu pescoço e eu passei a acariciar seus cabelos. Não demorou muito
para que eu sentisse sua respiração pesada em meu pescoço. “Bebês dormem
cedo”, pensei, divertida. Naquele momento, eu sentia que a amava mais que
tudo. Atentei-me ao seu respirar até durante o máximo de tempo possível,
durante o meu resfolegar. Gostava de ouvi-la respirar e precisava disso. Do
ciúme de horas atrás, não havia nem rastro; e foi com esse pensamento que eu
adormeci com ela, espremida num sofá e sendo deliciosamente prensada pelo peso
de seu corpo.
*
Fomos comprar nosso desjejum. A manhã
cheia de carícias maliciosas e respirações ofegantes havia atrasado nosso dia
lotado, especialmente programado para fazermos nada além de ficarmos juntas.
Entramos na padaria de mãos dadas,
enquanto ela ria das marcas de mordidas e arranhões em meu pescoço.
— Gata no cio também morde e arranha,
amor! – foram as palavras dela, risonhas, quando descobri, em frente ao
espelho, minhas mais novas marcas
Minha vingança foi, no mínimo,
satisfatória. Deixei-lhe não só marcas e arranhões, mas, também, havia lhe
proporcionado momentos enlouquecedores, que só foram interrompidos para que não
morrêssemos de fome.
Como era de se esperar, Fernanda
estava sentada em uma das mesas. Sempre tomava café ali, não importava de onde
viesse. A minha surpresa foi ver que ela não estava desacompanhada.
— Vocês foram embora tão rápido ontem
– disse Gisela
Fingindo que não havia escutado,
voltei minha atenção para Fernanda, com quem conversei por alguns minutos.
Intrometendo-se, Gisela comentou, com os olhos voltados para Maya:
— Hoje vai ter uma festa ótima, caso
seja do interesse de vocês.
Dirigi o olhar para Maya, que não me
deu atenção.
— Não dá, amanhã a Carol trabalha. –
respondeu ela
— Então acredito que o convite seja
só para você! – acrescentou Gisela, maliciosa
Antes que eu tivesse tempo de
encontrar uma faca, minha Maya respondeu:
— Desculpe, mas eu não saio sem minha
namorada!
Deixando Gisela, Fernanda e eu
estupefatas, ela puxou-me pelo braço para ir embora.
O sorriso mais besta do mundo
estampou-se em meu rosto e eu tinha a impressão de que ele não se desmancharia
por nada no mundo. Não dissemos nada durante a viagem de volta para casa, mas,
mesmo assim, eu estava feliz. Quando chegamos, sentei em uma poltrona e a
fiquei observando enquanto ela tirava os sapatos e colocava as sacolas na mesa.
Eu amava tanto que sorria, sozinha, só com a lembrança de que ela era minha.
— Não adianta fazer essa cara de puta
satisfeita, eu vou querer uma ótima recompensa por ter feito isso. – disse ela,
com lascívia nos olhos, interrompendo meus devaneios
Rindo de sua atitude, bati com uma
das mãos na coxa e chamei:
— Vem cá, bebê!
Ela veio, sentou em meu colo e
envolveu meu pescoço com um dos braços, oferecendo os lábios para um beijo,
entregando-se irrestritamente a mim. Não me contive mais. Imergi em seu beijo e
me deixei à mercê dos preciosos contrastes: eu quase junkie e ela toda fitness,
eu tão Clarice e ela tão Martha, eu sempre orgulhosa e ela sempre compreensiva,
eu toda contida e ela toda feroz, eu me perdendo e ela me encontrando...
Lindissimo conto... Tão envolvente..Fazia tempo que nao lia contos assim. PARABÉNS!!!; =P
ResponderExcluirMéritos da Carol, uma pena que ela se aposentou da vida de escritora :(
ExcluirNossa seu conto e realmente incrível gostei especificamente da sua linguagem e de com e capaz de descrever sentimentos e ações grande abraço
ResponderExcluirRepetindo méritos da Carol :)
Excluirpena que não escreve mais...