quarta-feira, 3 de julho de 2013

Constrastes VI



Senti uma mão pousando sobre um de meus ombros e girei o corpo bruscamente, dando de cara com um rosto confuso.
— Amor, o que está acontecendo? – perguntou Maya
Fingindo que não a havia escutado, virei as costas e saí andando, tentando enganar a mim mesma com a idéia de que queria que ela me deixasse em paz, quando, na verdade, tudo o que eu queria era que me prendesse em seus braços e não soltasse nunca mais.
Ouvi seu suspiro de indignação e apertei o passo quando notei que ela não me seguia. Senti medo de que fosse embora, ou que voltasse para Gisela, mas permaneci impassível. Logo ouvi seus passos apressados atrás de mim e uma satisfação imensa se espalhou pelo meu ser, mesmo com a raiva que eu sentia.
— Carol! – chamou, impaciente
Sem parar de andar, esbravejei:
— Vai fingir que não sabe por qual motivo estou assim?
— Mas eu não sei!
— Então vá perguntar para a Gisela.
Quando estava quase chegando, senti um puxão em meus cabelos e, logo em seguida, uma força jogou-me contra o carro.
— Meu Deus, Caroline! O que você queria que eu fizesse? – perguntou Maya, indignada, com o rosto enrubescido
Eu achava estranho quando ela me chamava pelo nome. Nosso tratamento se resumia a apelidos melosos e de entendimento só nosso. Senti vontade de correr, gritar, chorar e abraçá-la com todas as forças.
— Queria que você não tivesse dado trela para aquela...
— Mas eu não dei, Carol! – interrompeu-me, irritada, como se estivesse com vontade de me matar
— Então por que não a respondeu?
— Você não me deu chance!
Não querendo ouvir e tentando fugir da admissão de meu erro, abri a porta do carro e entrei. Mal percebi quando ela correu para a outra porta e sentou-se ao meu lado.
Dirigi em silêncio durante boa parte do caminho, tentando pensar em uma forma de iniciar uma conversa sem, ao menos, dar a impressão de que era aquilo que eu queria. “Não seria mais simples você se desculpar, Caroline?”, pensei, com meu lado mais sensato. Porém tal pensamento foi por água abaixo quando meu lado orgulhoso tomou conta e eu resolvi que não era a única culpada. Observei-a pelo canto dos olhos e senti vontade de apertá-la quando notei seu ar enraivecido. Seu cenho franzido dava-lhe uma expressão de criança zangada, fazendo com que meu coração quase se derretesse por inteiro. Pelos trejeitos que lhe dominavam a face, pude notar que estava mordendo a mucosa da boca, ansiosa. Desci os olhos para seu corpo e minha boca encheu-se d’água. Nossas brigas pareciam intensificar um fogo avassalador, que me enlouquecia de vontade de tê-la.
— Não fica assim comigo! – resmungou ela, manhosa, quebrando o silêncio
— Assim como? – perguntei, cínica
— Você sabe como!
— Estou normal.
Suspirando, Maya encostou a cabeça no banco e fechou os olhos, tentando não se descontrolar. Senti a boca seca ao ver seu pescoço estendido, como se implorasse por minha boca. Seu pescoço me parecia mais apetitoso do que qualquer outro. Fazia-me salivar de vontade de mordê-lo. Ela, inteira, me fazia salivar de vontade de mordê-la, chupá-la, comê-la de todas as formas possíveis. Tirei uma das mãos do volante e a escorreguei para uma das coxas. Apertei-a com força, como se aquilo pudesse me tirar toda a tensão que sentia ao estar ao seu lado e não poder tocar.
Assim que avistei o prédio, senti o alívio me invadir. “Isso é tortura! Ela gosta de me torturar! É gostosa e sabe muito bem disso!”, resmunguei mentalmente, como se estivesse tentando me lembrar a raiva que senti há pouco.
— Posso ficar com você? – perguntou ela, quase que ronronando
— Não prefere ir para a casa da Gisela? – provoquei
Com a cara amarrada, ela saiu do carro e bateu, com força, a porta. Satisfeita, também levantei. Quando fiz menção de sair da garagem, Maya tomou o controle de minha mão e fechou o portão. Lancei-lhe um olhar confuso, sem entender quais as suas intenções, mas tal confusão não durou muito tempo.
Maya veio em minha direção, fazendo-me dar alguns passos para trás e encostar ao carro. Suas mãos prenderam meus punhos e, aproximando-se de meus
ouvidos, ela sussurrou:
— Quando é que você vai entender que você é a única?
Mal tive tempo de absorver a frase e seus lábios já estavam buscando os meus, gulosos. Senti o gosto suave de sua boca e a maciez de sua língua me entorpecendo. Trancei minha língua com a dela e não demorei a sentir seus dentes, nada delicados, mordiscando meus lábios. Ela estava com raiva. Aquilo, por algum motivo, me excitava. Passei, também, a morder-lhe os lábios, faminta, como se aquela fosse uma forma de extravasar a angústia que havia sentido.
— Você é minha única – repetiu, por entre os beijos – Eu só quero você... Inteira... Mais ninguém!
Seus lábios desceram para meu pescoço e suas mãos soltaram meus punhos, agarrando-me pela cintura. Enganchei, desesperada, os dedos por entre os fios de seus cabelos e um gemido me escapou da garganta. A tortura estava chegando ao fim e tudo o que se passava em minha mente era o fato de que eu a amava com toda a minha energia vital, a ponto de me sentir completa com o seu mais singelo toque.
— Já me perdoou? – perguntou ela, com voz manhosa e rouca
— Não! – provoquei, mentirosa
Afastando o corpo do meu, Maya me fitou com tanta intensidade que cheguei a me sentir tonta. Eu a queria tanto. Com todas as forças, de todas as formas. Eu simplesmente a queria e era orgulhosa demais para admitir aquilo em voz alta.
Ela virou-me de frente para o carro e pressionou seu corpo contra minhas costas. Seu rosto afundou em meu pescoço, com sua boca mordendo-me a pele quente, e uma de suas mãos escorregou, abusada, para minhas coxas. Um sentimento desesperador, como naqueles sonhos em que você tenta correr, mas não sai do lugar, formou-se em minha garganta e quando ela começou a desabotoar minha calça, ele desceu para meu peito, passou pela barriga, ganhou força no ventre e desmanchou-se por entre minhas pernas. Os gemidos já haviam se tornado constantes, apesar de baixos, para não chamar a atenção. Maya afastou-se, por um momento, de meu corpo e abaixou minha calça, juntamente com a calcinha, com uma rapidez quase que desesperada. Quando ela voltou a agarrar-me pela cintura e avançou, ferozmente, com uma das mãos para minhas coxas, eu apertei minhas pernas, como se aquele fosse um último sinal de resistência. Ela forçou a abertura por alguns instantes, mas quando viu que não conseguiria, seus lábios desceram pelo lóbulo de minha orelha, escorregou por meu pescoço e ombros, para, só então, sussurrar, com voz ardente, em meu ouvido:
— Eu quero te comer!
Assustadoramente excitada com aquela simples frase, que, na verdade, nada tinha de tão simples, considerando o fato de que eu poderia ter deixado que meu gozo se desmanchasse inteiro por minhas pernas só por ouvi-la, gemi em tom de protesto (ou em tom de súplica, não sei bem) e imediatamente afastei as pernas.
Maya nada disse, apenas voltou a morder meu pescoço e escorregou os dedos para dentro de mim. Gemidos escaparam de mim e dela, sendo impossível saber qual dos dois estava mais intenso. Eu sentia sua respiração descontrolada em meu pescoço, enquanto seus dedos me fodiam com força e incansavelmente. Todo tipo de resistência ou raiva já havia sido subjugado pelo desejo febril que me tomava conta. Ela me dominava de tal forma que me parecia impossível agir de outro jeito que não se resumisse a uma servidão irremediável e extrema.
A pressão que ela fazia dentro de mim, seu ritmo, a forma com que apertava meus seios e minha cintura, o jeito despudorado de sussurrar putarias em meu ouvido, seu perfume, seus gemidos e, até mesmo, a temperatura de seu corpo... Tudo me fazia sair de mim e permanecer à deriva em suas vontades. Eu inclinei o quadril para trás, ao perceber que ela se roçava em mim, querendo provocá-la. Às vezes ela agarrava meus cabelos e me mandava gemer mais alto, mais forte. Eu a obedecia e roçava ainda mais minha bunda em seu sexo, enquanto sentia cada milímetro de seus dedos entrando e saindo de dentro de minha boceta, arrancando-me espasmos e arrepios.
O gozo veio rápido, tão intenso em força quanto em sentimento. Meu prazer escorreu por minhas coxas, melou seus dedos e fez com que ela passasse a mão inteira em meu sexo, a fim de lambuzar-se. Segurei os gritos o máximo que pude e encurvei o corpo para frente, sentindo uma fraqueza dominar-me as pernas, fazendo-as implorar por amparo. Maya segurou minha cintura com força e virou meu corpo para ela. Sua mão subiu até minha boca, encharcada, e nossas línguas dividiram dedo por dedo, como se aquela fosse uma maneira de partilhar do prazer que eu havia sentido minutos atrás.
— Vamos subir! – disse ela, apressada, interrompendo a calmaria
Dividida entre prazer e insulto, apenas vesti minha calça, ajeitei minha blusa e peguei a bolsa, enquanto ela abria o portão da garagem e saía, ordenando que eu a seguisse. Mesmo que contrafeita, obedeci. Ao passarmos em frente à guarita do porteiro, tive um breve sobressalto ao lembrar-me das câmeras espalhadas pelo local. Ignorei. Pelo sorriso safado que lhe dominou o rosto, Maya havia percebido a mesma coisa. “Algum porteiro vai dormir feliz esta noite”, pensei, enquanto agarrava-a pela cintura de forma dominadora.

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