terça-feira, 13 de março de 2012

Despedidas Parte I

O relógio na parede marcava 5 horas da manhã. Fixei o olhar no ponteiro e não me concentrei em nada mais. Contei os segundos até que o relógio marcasse 6 horas. “Perdi alguns”, pensei. Levantei-me da cama de forma automática. Fui direto para o banho. Havia passado grande parte da noite em claro, pensando em vários tipos de soluções para minha situação. Não obtive sucesso.
- O que seria um caso com a tia postiça? – refleti, sozinha, embaixo do chuveiro – Um posticesto? Incestiço?
Então ri. Sozinha, debaixo d’água. Simplesmente me deixei rir.
Quando saí do quarto ninguém estava acordado. Não deixei bilhetes, não deixei recados. Abri a porta e saí caminhando no ar fresco da manhã, em direção à biblioteca da universidade.
*
- Posticesto? – interrogou Fernanda, rindo muito – Você é um gênio, Carolzinha!
Eu gostava da companhia dela. Conviver com ela era como conviver com a malícia e a diversão em pessoa. Para Fernanda, tudo tinha conotação sexual. Eu só percebi isso depois de certo tempo de convívio.
Fernanda trabalhava na biblioteca da universidade, mas, para mim, ela era mais do que a moça com ar intelectual que havia feito um curso com nome difícil (bi-bli-o-te-co-no-mi-a, ufa!), era um tipo de confidente. Confidente das coisas mais sujas e maliciosas possíveis, é claro.
- Que acha que devo fazer? – perguntei
- Fala “tchau, tio!”. Simples assim. – respondeu ela
- Não é tão fácil!
- Tudo é fácil nessa vida, boba. Pessoas que pensam demais só fazem complicá-la.
E essa era sua filosofia.
Esqueci-me totalmente do tempo, trocando impressões com Fernanda. Ela era intensa, mas descomplicada. Eu gostava disso.
Um temporal desabou quando eu pensei em ir embora. Liguei em casa, pedindo para que alguém fosse me buscar.
- Pede para a titia vir, pois eu quero conhecê-la! – disse Fernanda, enquanto eu estava no telefone
Dito e feito. Dafne apareceu com alguns respingos de água enfeitando-lhe a camisa e um guarda-chuva na mão. Olhou em volta, procurando, e eu permaneci estáticaDito e feito. Dafne apareceu com alguns respingos de água enfeitando-lhe a camisa e um guarda-chuva na mão. Olhou em volta, procurando, e eu permaneci estática.- Mudei de idéia. Acho que você deve largá-la e me passar o telefone dela. – brincou Fernanda, quando eu avisei a presença de minha tiaDe fato Dafne estava especialmente linda. Os cabelos compridos descansavam por sobre os seios e as mechas loiras ficavam ainda mais claras sob as luzes da biblioteca. Os olhos estavam nebulosos e acinzentados, delineados com um fino traço escuro. A camisa marcava-lhe as curvas do corpo, deixando-a ainda mais tentadora. Quando me viu, sorriu. Mas logo expressão se fechou ao dar-se conta da presença de Fernanda. Chamou-me com um gesto de braços, como se não quisesse se aproximar de minha amiga. Percebendo a irritação de Dafne, Fernanda brincou:- Diga que ela fica mais sexy quando está enciumada!Rindo, depositei um beijo na face de Fernanda e parti.Não disse uma palavra até chegarmos ao carro. Dafne bateu a porta com força e jogou o guarda-chuva para trás.- Tudo bem com você? – perguntei, segurando-me para não rirFuzilando-me com o olhar, ela perguntou:- Na biblioteca? Com aquela...- Qual o problema? – interrompiDafne nada respondeu, apenas começou a dirigir.Um silêncio constrangedor tomou conta. Senti-me estranha, como se fosse eu a vilã da história. Sua expressão estava perturbada, seus lábios estavam comprimidos, como se estivessem fazendo força para impedir a fuga das palavras... Até que comecei a assoviar uma canção.- Por que a alegria? – perguntou ela- Não sei. Fernanda me faz bem. – respondi, ansiosa por atingi-laDafne deu com os punhos no painel do carro e estacionou em uma rua estreita. Tapou o rosto com as duas mãos e respirou fundo.- Qual é o seu problema? – questionei- Você! – disse ela, tirando as mãos do rosto – Você é o meu problema desde a primeira vez em que te toquei. Você é o meu problema desde o primeiro dia em que te vi.Nervosa, pensei diversas vezes antes de respondê-la.- Livre-se do seu problema, então. – falei, deixando escapar um longo suspiroDafne olhou-me por alguns instantes, imóvel. Senti seu olhar me queimando. Lembrei de suas mãos em minha pele e senti uma série de calafrios percorrendo minha espinha. Ela passou, lentamente, a língua pelos lábios, fazendo-me reviver novamente a sensação de ter sua boca quente em contato com meu corpo. Da forma que ela olhava-me, no fundo dos olhos, no fundo da alma, senti que conseguia ler meus pensamentos. Faltou-me coragem para desviar o olhar. Faltou-me coragem para dizer-lhe “não” quando ela soltou-se do cinto de segurança e avançou para meu colo.Suas mãos macias envolveram meu rosto enquanto seus lábios se encontravam com os meus. Beijou-me de forma possessiva, porém suave. Seus dedos deslizaram para minha nuca e engancharam-se nos fios de meus cabelos. Ela pressionou sua boca de encontro à minha e buscou minha língua com a sua. Não foi preciso muito mais tempo para que gemidos tímidos começassem a surgir. Tentando não desenrolar a língua da minha, Dafne passou a desabotoar a camisa que usava, deixando os seios perfeitos cobertos apenas pelo sutiã. Quando deslizei minhas mãos pela pele quente de suas costas, Dafne enrijeceu os músculos e fechou os olhos, assustando-me.- Mãos frias! – disse ela, rindoQuando pensei em desculpar-me, sua língua voltou a dominar minha boca totalmente submissa. Espremi minhas mãos contra seu corpo, tentando aquecê-las. Desabotoei seu sutiã e a segurei pela cintura. Levei meus lábios até os bicos de seus seios, que estavam gelados, e os envolvi carinhosamente. Ouvi um gemido de alívio surgindo dos lábios de Dafne e suas mãos seguravam-me a cabeça, como se tentassem controlar meus movimentos.

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