sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Pimenta Gaúcha Parte I

Eu estava sentada na areia, perto da fogueira, observando suas chamas dançando em frente aos meus olhos, sentindo seu calor me aquecendo o corpo. Era aniversário de Samara. Ela estava completando 22 anos e suas amigas haviam preparado uma festa na casa de praia da família de uma delas, estávamos no meio de um luau e eu estava sentindo a falta que Ana me fazia naquela hora.

Era estranho ficar um fim de semana longe dela, mas Ana foi obrigada a seguir para um seminário fora do Brasil e eu não poderia faltar ao aniversário de uma de minhas amigas mais queridas. O lugar estava muito bem decorado, havia alguns totens na areia e um rapaz estava tocando violão. A festa estava cheia, mas eu não conhecia mais que cinco pessoas.

Lembrei de como havia insistido para Ana ir comigo a tal festa e de como fiquei possessa de ciúme quando descobri que a organizadora do evento para o qual ela fora convidada era um antigo affair.

- Prefere visitar a antiga namorada a ir comigo! – resmunguei

- Não seja boba. Você sabe que tenho que ir. – dizia ela, sorrindo do alto de sua maturidade – Se quiser, posso te levar comigo. Direi que preciso de minha assistente para repassar o discurso.

- Não quero ir. Além do mais, prometi que iria à festa.

A discussão durava muito tempo, Ana era sempre muito paciente e eu muito birrenta.

- Se não for comigo, vou ficar com a primeira que ver pela frente. – tentei chantagear

- Pois fique. Não vou te cobrar fidelidade enquanto eu não estiver por perto para te satisfazer. – disse ela

Sua maturidade me incomodava, às vezes. Somente nessas horas eu lembrava que Ana era doze anos mais velha que eu.

Algum tempo depois, me distraí conversando com o rapaz que antes estava tocando violão. Senti que alguém havia sentado ao meu lado e estava escrevendo alguma coisa na areia. Virei o rosto para ver quem era e me assustei, pois não tinha notado que estava tão perto. Era uma moça com os cabelos pretos e repicados, sua franja caía sobre um de seus olhos puxados, que tinham cor de mel, a pele era parda, suas feições me lembravam as de um felino. Um sorriso sarcástico se estampava em seu rosto enquanto apontava para a areia, onde ela havia escrito: “Que papo chato!”. Encarei-a com os olhos semicerrados, desaprovando a frase, e ela riu.

- Tu trabalhas com a Samara, não é? – perguntou ela com um forte sotaque gaúcho - Sim, por quê?

- Por nada, ué. Só estou curiosa sobre ti – disse enquanto virava o corpo em minha direção – Me chamo Lorena.

Ficamos conversando por alguns instantes. Nesse pouco tempo eu percebi que ela parecia estar empenhada em me irritar, pois desaprovava tudo o que eu dizia ou fazia.

- Bah! Como tens coragem de vir a uma festa sem tua namorada? – perguntou

- Simplesmente vindo.

- Tu deves ser muito da esquentada, por isso ela te deixa fazer tudo o que quer.

- Isso não é da sua conta. – respondi

Levantei-me e segui na direção da casa, pensando em como aquela garota era petulante.

Na sala não havia muitas pessoas, pois a maioria estava no luau. Sentei-me perto de um grupo de meninas e logo elas me incluíram na conversa. Dava para ver que estavam bêbadas, pois filosofavam sobre trivialidades e riam de coisas que não tinham graça, não demorou muito para elas resolverem voltar para a praia.

Lorena entrou na sala quando eu estava levantando para ia até a cozinha.

- Bah! Fugindo de mim? – perguntou com aquele sorriso irritante no rosto

- Não se dê tanta importância! – alertei enquanto continuava seguindo em direção à cozinha

Ela acelerou o passo e me puxou com força pelo braço, fazendo meu corpo ficar bem próximo ao dela.

- Que feio! Não vire as costas para mim. Te irritei lá fora, não foi? – perguntou enquanto me segurava firmemente pelos pulsos

Fiz força para me soltar, quando consegui, ela me segurou novamente, dessa vez com delicadeza.

- Desculpe. Eu não falei nada demais, mas tu és esquentada! – novamente o sorriso

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