sábado, 22 de junho de 2013

Contrastes IV



Maya suspirou profundamente e fechou os olhos, contrariada.
— Por favor. – pediu, timidamente
Rindo, eu provoquei:
— Fale mais alto.
— Por favor, Carol! – disse ela, aumentando o tom de voz
— Agora seja mais específica. – continuei a provocar
Lançando-me um olhar furioso, ela espremeu levemente os lábios.
— Eu quero seus lábios, seus dentes, sua língua, seus dedos – implorou – Quero você inteira!
Sentindo um calafrio na espinha, mal esperei que ela terminasse de falar para socar-lhe o dedo com força e abocanhar seu clitóris. Maya, num impulso, levantou as costas da cama e voltou a desabar, gritando com um desespero rouco. Ansiosa por seu prazer, eu penetrei-a com força e rapidez, como se quisesse arrancar-lhe o orgasmo à força. Minha boca sugava seu clitóris, pausadamente, e o acariciava com a língua por entre os chupões. Volta e meia e lhe mordiscava os grandes lábios e sugava-os, mas a minha dedicação extrema era para seu clitóris inchado.
Senti seu orgasmo se aproximando e me senti orgulhosa. Chupei-a com mais força, penetrei-a com mais um dedo. Não demorou para que eu a sentisse se desmanchando em meus dedos, enquanto seu corpo parecia dominado por algum tipo de terremoto interno. Agarrou-se aos travesseiros como quem se agarra a algum tipo de salva-vidas e abafou os gritos. Ainda tremendo, seu corpo serpenteava na cama, dificultando o meu empenho em manter a língua em seu clitóris até o último espasmo.
Tirei os dedos de sua concavidade quente e os substituí por minha língua. Lambi o líquido de seu prazer até a última gota, como se precisasse dele para sobreviver. Seu corpo começou a relaxar e ela espreguiçou-se feito uma gata. Ainda estava com os olhos fechados quando fui beijá-la, mas não demorou a corresponder. Segurou meu rosto por entre as duas mãos e sugou meus lábios, limpando os últimos resquícios de seu próprio mel. Também chupou meu queixo e ao redor da boca, carinhosamente.
Deitei-me ao seu lado, a fim de esperar que sua respiração voltasse ao normal, mas, com uma energia fora do comum, ela enlaçou-me com uma das pernas e entrelaçou sua língua com a minha. Sua mão deslizava por meu corpo, descendo de meus cabelos e indo até minha barriga, para depois voltar pelo mesmo caminho. Seus lábios sugavam os meus e meus dedos se entrelaçaram nos cabelos dela. Maya foi tão suave que eu quase conseguia me imaginar flutuando. Eu sentia sua respiração em meu rosto e eu apreciava como se esta fosse um sopro dos deuses. E, de certa forma, era. Era o sopro de minha deusa.
Percebi quando sua mão passou a ficar mais atrevida, porém não menos suave, e, aos poucos, sua boca também. Senti arrepios com sua boca em meu pescoço e um sorriso enorme tomou conta de minha face. Ela descia com a boca por minha pele, beijando cada milímetro. Era mais do que um sonho bom. Era muito melhor do que qualquer outra coisa que eu havia sentido. Seu corpo roçava no meu, fazendo-me quase ter certeza de que minha teoria, de que faíscas estavam surgindo através daquele contato, era super válida.
Afundei-me na maciez do colchão e agarrei os lençóis, arrepiada, esperando por sua boca quente. Senti sua língua passeando, suave, por cima do tecido da calcinha, em meu clitóris. Um tremor forte sacudiu meu corpo, fazendo com que meu gemido desesperado soasse trêmulo, também. Ouvi um risinho orgulhoso e ri junto. Nada poderia me fazer mais completa e feliz.
Ela demorou-se na brincadeira de me provocar e eu, inquieta, deixava que ela me usasse de forma irrestrita. Meu coração bateu enlouquecido quando notei que ela tirava minha calcinha. O calor em meu ventre aumentou, enquanto eu sentia um líquido viscoso escorrer por entre minhas pernas. Maya soltou um gemido rouco, involuntário, sensual. Fui ao inferno quando ela passou a língua, lentamente, por toda a extensão de minha vulva, querendo sentir-me inteira.
Na segunda vez, tranquei a respiração, em uma tentativa frustrada evitar que gemidos escandalosos me escapassem dos lábios. Gemi alto, como um animal no cio, e agarrei em seus cabelos desesperadamente, levando minha tentativa por água abaixo. Sua língua passou a movimentar-se de forma irregular, ora fazendo círculos, ora ziguezagueando. Seus lábios envolveram a minha vulva de forma terna e, ao mesmo tempo, devoradora. Sua boca parecia estar dando um beijo de língua em meu sexo, levando-me qualquer tipo de pensamento lógico embora. Eu só conseguia pensar na quentura de sua boca, na maciez de seus lábios e na destreza de sua língua. O mundo fora nós resumiu-se a nada. Meu mundo tornou-se ela.
A maciez de sua boca, a quentura de sua pele, a suavidade de seu toque... Tudo nela me enlouquecia profundamente, tudo a tornava tão dona de mim. E eu gostava. Estava quase morrendo em seus braços, de tanto gostar. Ela me enlouqueceu como ninguém e meu corpo ficou ali, à deriva em seus toques, seus carinhos, sua boca. Eu havia me rendido inteira.
Fechei os olhos com força, com a mente quase explodindo de felicidade. Meu corpo serpenteava na cama, agoniado com o verdadeiro caleidoscópio de sensações que Maya me proporcionava. Mergulhei naquele universo tátil de tal forma, que mal me dava conta do escândalo que estava fazendo e das frases absurdas que dizia. Todo aquele prazer me cegava, enlouquecia. Ela gemia junto comigo, como se o fato de estar me proporcionando prazer a fizesse sentir tanto tesão quanto eu. Isso me estimulava a apreciar ainda mais cada movimento que ela fazia, tornando cada sensação mais intensa. Perdi a conta de quantas vezes havia gritado seu nome e dito que a amava. Não sabia mais onde estava, ou quem era. Eu sabia dela e só dela. E foi com esse pensamento que um orgasmo avassalador fez com que meu corpo se contorcesse inteiro, aflito, vigoroso, intenso. Um prazer indizível, inexplicável, indubitável.
Desabei na cama como se tivessem me roubado todas as forças. Seu corpo, delicadamente, deitou-se sobre o meu. Seus lábios me presenteavam com beijos carinhosos, que pareciam transmitir todo o amor do universo para o meu ser. Abracei-a com toda a força, como se tivesse medo de acordar de um sonho e perdê-la. Um sentimento inexplicável me tomou conta. Então eu senti, pela primeira vez, aquela necessidade absurda de abraçá-la e tê-la inteira para mim. Para sempre. Então um desespero incomum me dominou. Tive medo.
Ainda ali, rendida, contra a parede, eu tentava permanecer firme em minha decisão de não acatar seu pedido.
Algumas horas mais cedo, Fernanda havia nos proposto um encontro, naquela noite, em uma balada GLBT. Maya, que nunca havia visitado tal tipo de estabelecimento, ficou animada para ir. Eu, como uma nata ciumenta, senti como se alguém tivesse me jogado sal nas feridas. Ela insistiu durante a tarde inteira, me fazendo utilizar os argumentos mais absurdos possíveis:
— Você não vai gostar.
— Você vai se perder.
— Você vai ficar bêbada.
— Você vai ser atacada por uma drag.
— Você vai morrer.
Porém, apesar de meu esforço, nada adiantou. Ali estava ela, implorando para que eu a levasse para a boate. Amaldiçoei Fernanda tantas vezes que minhas macumbas se esgotaram.
Maya continuou forçando o corpo contra o meu e nossos lábios estavam em um roçar quase que insuportável. Minha vontade dela chegava a ser dolorida. Suas mãos desceram por minhas coxas, passeando pela parte interna, arrancando-me suspiros e gemidos tímidos. Sua língua passou a atiçar-me o lóbulo da orelha, a respiração quente que saía de sua boca só fazia aumentar o meu suplício. Minhas mãos colavam em sua cintura com desespero, porém sem forças.
— Ainda dá tempo de tomarmos um banho bem gostoso, juntas – chantageou
– Depois é só colocarmos uma roupa e seguirmos para a boate.
Sua voz era tão inocente que eu quase acreditei que ela realmente estava convencida de que conseguiria me fazer mudar de idéia.
— Eu aceito a idéia do banho, mas não vamos sair para lugar algum! – rebati, com a voz trêmula de desejo
Maya estacionou as mãos e soltou um longo suspiro. Como se tivesse levado um choque, ela afastou-se de mim mais do que depressa, assumindo um ar aborrecido.
— Tá bom, Caroline – disse, quase gritando – Não quer ir, não vai!

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