quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Por Amor XVI




Raul havia invadido a casa da tia de Alicia, dona Carmem estava apavorada com a arrogância e brutalidade do homem. Raul estava desesperado, nos ultimo mês moveu céus e terras na esperança de encontrar Alicia antes da polícia, apesar de seus esforços não encontrou nada que pudesse lhe fazer chegar até a loirinha, estava tão desesperado que já apelava para a violência, invadiu a casa de dona Carmem e antes mesmo que a mulher pudesse entender o que se passava o homem já estava com a mão esquerda em volta de seu pescoço, não parava de insultar Alicia, a pobre mulher não teve nem como tentar se defender. Já havia ameaçado toda a família da loirinha, achava que dessa forma conseguiria ter alguma notícia, mas a resposta sempre era a mesma, ninguém sabia onde ela estava, imploravam para que o homem não lhes fizesse mal.
          Ninguém poderia imaginar que Alicia estaria morando na pequena e pacata cidade de Mandacaru. Tentava não chamar a atenção das pessoas. Quase nunca saia, procurava ficar atenta a novas noticias sobre o seqüestro, sabia que as investigações ainda estavam meio confusas, e o caso já não tinha a mesma força de antes. Não demoraria muito para cair no esquecimento. Depois que finalmente encontraram a promotora viva, já não era tão importante encontrar os seqüestradores. As últimas imagens que sempre eram mostradas quando se falava sobre o caso, era de Larissa saindo do hospital, Alicia sempre se emocionava ao ver aquela cena, apesar de tudo estava feliz por ter conseguido salvar a mulher que amava.
       Alicia ainda se sentia muito culpada por tudo que havia acontecido, sabia que sua participação naquele seqüestro havia sido de extrema importância. Sua avó tentava acolher a mulher da melhor forma possível, a loirinha sabia que podia contar com o carinho de dona Marli que insistia para que a neta se  entregasse o quanto antes. Alicia sabia que era o melhor a ser feito, e sabia que tinha que fazê-lo logo, antes que Raul a encontrasse, o medo de se entregar a polícia só se tornava cada vez mais forte por que ela sabia que teria que se separar novamente do filho, que já conseguia ver a mulher como mãe. Porém pior do que ficar longe do garoto seria ver Raul se aproximar dele, precisava fazer algo, tomar uma atitude antes de o homem encontrasse seu filho. Tudo estava sendo planejado de forma cautelosa, logo estariam longe dali, Alicia faria qualquer coisa para manter sua avó e seu filho seguros.

Capítulo oito

Em Recife.
            Larissa chegou ao início da tarde, logo entrou em reunião com as assistentes passou novos dados. Estava eufórica com as informações que tinha conseguido, ao menos sabia que nem tudo que Alicia contou era mentira. Ela realmente tinha um filho o que mudava muitas coisas para Larissa. Já no final do expediente Larissa é abordada por Dr. Aguiar.
    - E o caso? – indagou Dr. Aguiar, Larissa ignorou o homem e continuou andando.
   - Dra. Couto! – Larissa parou no meio do salão voltando seu  corpo em direção ao homem caminhou lentamente até ele.
   - Você leu o caso?
   - Não! – respirou fundo. Dr. Aguiar serrou os dentes, o que não intimidou a mulher.
   - Sugiro que comesse, quero ver os resultados ainda nessa semana Doutora. . – o homem deu as costas a Larissa e saiu andando antes mesmo que a mulher pudesse dar uma resposta a sua altura, a morena voltou até sua sala. Tentou reorganizar suas idéias, precisava se concentrar em seu trabalho, não podia deixar que a ansiedade a dominasse, distribuiu algumas tarefas entre Camila e Ingrid, para depois finalmente começar a trabalhar no seu caso.
 Na favela
 Depois de muito pressionar Raul conseguiu o que queria.
- Vamos! – o carro saiu em disparada.
            Raul havia conseguido o endereço de uma tia avó de Alicia que morava em Gravatá. Raul estava irreconhecível, já não cuidava dos negócios, deixava tudo sobre os cuidados de Beto, vivia apenas para tentar encontrar Alicia. Apurou as informações passadas por dona Carmem, até que finalmente encontrou o pequeno vilarejo em que dona Marli morava. Dois carros pretos atravessaram a entrada da cidade em alta velocidade, mesmo que não quisesse despertou a atenção de todos. Raul deu a ordem para que estacionassem os carros. Os homens desceram, Raul seguia na frente, o cachorro que estava solto no jardim da casa começou a latir, Alicia estava nos fundo lavando roupa, achou estranho o jeito com que o cachorro latia, pediu para que a avó fosse ver se algum gato tinha entrado no jardim, antes mesmo de chegar à sala, dona Marli viu sua casa ser invadida pelos capangas de Raul, a cena parecia se repetir.
    - Quem são vocês? – os homens estavam armados, Raul entrou na casa, causando o espanto de dona Marli, que o reconheceu anos atrás quando ele encontrou Alicia pela primeira vez.
   - Cadê aquela cadela?
           O filho de Alicia brincava perto da mãe, ao ouvir as vozes dentro de casa, saiu correndo para ver quem era. Alicia havia aumentado o som do rádio para não ouvir o latido do cachorro, estava distraída com a música, não ouviu a gritaria dentro de casa. Dona Marli tentava expulsar os homens com um cabo de vassoura, Raul percebe o garoto entrando na sala. Pede para que os homens parem de falar. Dona Marli empurra o garoto para trás dela, tentando protegê-lo, Raul toma a frente empurrando a mulher, se aproxima do garoto. Vinicius tem apenas três anos, moreninho de cabelos encaracolados e de olhos espertos, o homem sorria, admirava o garoto como quem admira algo sagrado. Beto que entra logo depois na casa observa a cena entre pai e filho.
   - Você sabe quem sou eu? – pergunta Raul – Sou seu pai.
 O garoto franze as sobrancelhas, parece assustado, sai correndo para o fundo da casa, vai até Alicia.
    - Ei rapaizinho, pra onde você pensa que vai correndo assim?
   - Mainha, mainha... – o garoto tenta tomar fôlego – tem dois homi, com levolver de polícia.
         Alicia sente  o sangue congelar, antes de ter qualquer reação Beto aparece na porta, já vai puxando a mulher pelos cabelos.
     - Solte a minha mãe. – Beto vai arrastando Alicia até a sala.
          Vinicius num ato de defesa começa a bater nas pernas de Beto, chegando a mordê-lo, ao sentir os dentes pontiagudos do menino Beto da um chute no menino, Raul ao ver aquilo vai para cima do amigo.
   - Você tá doido, cara. – ele se arma para ir trocar soco com Beto.
          Vinicius chora de dor, Alicia vai acudir o filho, era um alvoroço, então Beto e Raul discuti. Dona Marli pede para Alicia fugir. Alicia pega Vinicius no coloco e correr para sair por trás da casa, sua vó tenta acompanhar ao ver que elas estão em fuga sem pensar duas vezes Raul solta três disparo a queima roupa, dona Marli cai. Alicia congela o filho chora muito. Ela é pega por Raul.
   - Você não vai fugir de novo.
          Raul coloca a arma no pescoço da mulher, Alicia sente uma dor indescritível aperta seu filho com força.
   - Mata logo a vadia e o bastardo.
           Raul se vira de frente olha para Alicia e o filho em seu braço, ele aponto a arma, o menino se vira para encará-lo Raul fraqueja ao ver o filho se banhando em lágrimas, ele coloca a arma no cós da calça.
   - Está vendo – ele chuta o corpo da avó de Alicia no chão, Alicia olha pro corpo. – vou te dá mais uma chance. Se não vai ser você ali. Agora vamos.
As vítimas são arrastadas até o carro. Algumas pessoas vêem a ação dos bandidos.
    - De volta para casa. – ordenou Raul a Beto que estava dirigindo o veículo.
    Eles fogem, alguns vizinhos saem de suas casas, dona Flora que mora de fronte a casa da vítima corre em seu socorro, a mulher liga para a polícia que chega uma hora depois, dona Marli já é encontrada sem vida. Aquela violência gera muita comoção naquela pequena cidade. Mais uma vez Raul e seus crimes chegam à mídia.
Horas depois.
           Larissa estava se preparando teria uma audiência logo mais, revia o processo, seria sua primeira atuação num julgamento desde que tinha sido resgatada do cativeiro. A promotora sentia-se um pouco tensa, era um caso complicado, tentava se atrelar as evidências. Acusar juiz de direito onde tinha uma carreira impecável, um homem da sociedade que aparentemente era visto como modelo, era tarefa difícil. A expectativa era grande em cima da promotora, que se tornava estrela daquele departamento. Depois de horas estudando, revia suas últimas anotações, quando sua atenção foi interrompida.
    - Larissa liga a TV. – Camila entrou afobada, Larissa lhe olhou surpresa, Camila raramente a chamava pelo nome no departamento, normalmente eles usavam um formalismo muito grande.  
 Ignorando a surpresa da morena Camila caminha até a frente da TV que ficava no canto da sala.
    - O que houve Dra. Lafaiete? – indaga à promotora, levantando da cadeira.
          Camila não lhe dá ouvido seus olhos estavam grudado na tela da televisão procurando o canal certo. Até que encontrou, ela ligeiramente se afastou dando boa visão a promotora.
     – Acabei de ver no noticiário.
    - Dra. Lafaiete, por favor, não tenho tempo para ver televisão. – criticou Larissa voltando a se sentar, e pegando uns papéis.
   - Larissa! – Camila falou num tom vibrante, Larissa a encarou a fuzilando. – olhe. – apontou para televisão.
     - Estamos aqui no município de Gravata, agreste do estado, o crime aconteceu na pacata cidade Mandacaru. Há poucas horas uma mulher foi encontrada morta dentro de sua casa, o crime bárbaro chamou a atenção dos moradores da cidade que ficaram chocados com a barbaridade dos suspeitos. A vítima foi identificada Marli Soares Lima, de 67 anos, segundo testemunha a idosa estava em casa com sua neta e seu bisneto, quando teve sua casa invadida por dois homens não identificados.
   - A senhora viu o que aconteceu? – indagou a repórter a uma testemunha.
   - Eu tava aguando as plantas, quando vi dois carros pretos pararem em frente à casa da Marli, estranhei porque ela nunca recebe visita a não ser dos parentes, era gente de fora, nunca vi por essas bandas, quando eles desceram do carro tinha dois que estava com revólver, eu corri para dentro de casa e fiquei espiando pela janela. Eles entram dentro de casa teve um que deu um chute no pobre do cachorro –  relatava a vizinha muito abalada – ouvir uma gritaria até que escutei uns tiros.
   - E quantos tiros foram?
   - Não sei minha filha, me joguei debaixo da mesa. – estava com tanto medo, pobre da Marli tão boa, porque fizeram isso com ela... – a mulher estava muito emocionada, começou a chorar.
   A repórter lhe prestou solidariedade, depois fez a última pergunta.
   - A senhora nos disse que a vítima mora com a neta e o bisneto, onde eles estavam à polícia não encontrou ninguém.
   - Os homens levaram Alicinha e o Vinicinhos...
           Camila olhou apreensiva para Larissa que desabava na cadeira, suas pernas tremiam, seu estômago dava reviravolta, uma onda de medo invadiu seu corpo.
 - A polícia não sabe dizer o paradeiro da neta e da criança... – dizia a repórter na TV.
    - É a Alicia, e a sua Alicia – afirmava Camila. – o nome da avó materna dela é Marli Soares Lima. Tudo indica que a vítima é a mesma que procuramos.
            Larissa não conseguia reorganizar as idéias, o que acabou de assistir a abalou de forma desastrosa. Camila lhe trouxe um pouco de água com açúcar, minutos depois, a promotora tentou canalizar essas informações, respirou fundo.
    - Irei até lá. Preciso saber se realmente se trata da mesma pessoa.
   - Larissa você tem uma audiência a menos de uma hora.
            Larissa levou à mão a cabeça, mais uma vez ignorou a razão, seu coração batia tanto, uma angustia tomava seu peito como trabalhar depois do que acabara de saber. Duvidas cheias de certezas, não tinha muita coisa a fazer a não ser seguir seus instintos. Ligou o interfone. Deu algumas ordens.
    - Dr. Tadeu, vai ao meu lugar e você vai com ele. – informou a assistente pegando sua bolsa e procurando a chave do carro.
   - Nem pensar – Camila se colocou em frente a chefe - falo com a Ingrid ela vai com Dr. Tadeu, eu vou com você.
   - Não. Quero você naquele tribunal. – ordenou Camila enfrentando o olhar desafiador da jovem advogada.
   - Sem discussão Larissa, olhe seu estado nervoso. Não vou deixar você ir sozinha até lá.
          Larissa retrocedeu conhecia Camila resolveu não contradizê-la, até porque ela realmente precisava a ter por perto. As duas saíram em disparada, duas horas depois Larissa e Camila chegaram à cena do crime.
    - Boa tarde, sou Dra. Larissa Couto, quem é o responsável pelas investigações. – perguntou ao policial. O homem olhou desconfiado para a mulher, a promotora mostrou suas credenciais do Ministério Público.
          O policial apresentou Larissa e Camila ao delegado. Os três conversaram, reconhecendo a promotora o delegado Alfredo foi muito prestativo, Larissa pode acompanhar toda a perícia do local, obtendo informações valiosas. Um trabalho muito meticuloso.
    - Acabamos por aqui. – informou o perito.
   - Obrigado.
          Dr. Alfredo conversava com Camila, Larissa pediu autorização para entrar na casa, tinha necessidade de ver onde sua amada estava morando, olhou ao redor a casa era muito simples, Larissa imaginou Alicia morando ali, logo ela que parecia gostar tanto do conforto e do prazer que o dinheiro podia oferecer.
    - Doutora preciso ir a manterei informada. – falou o delegado.
   - Agradeço a atenção – agradeceu dando um leve sorriso.
           Larissa continuou olhando a casa, percorrendo os cômodos, no quarto encontrou algumas peças de roupa, um perfume adocicado logo o reconheceu, seu coração acelerou ainda mais, ela acabou pisando num pequeno brinquedo. Era um carrinho muito particular, ela se agauchou e pegou o brinquedo, olhou com cuidado, seu coração foi ao chão quando viu na lateral do brinquedo, na porta do carro tinha uma foto personalizada de três mulheres e uma criança ao meio.
    - Sempre me surpreendendo – falou Larissa dando um sorrisinho bobo diante da foto. Ela ficou olhando a foto das três pessoas. Alicia estava sorrindo, seu sorriso era diferente, diferente de todos os outros que presenciou. A promotora ficou mais uma vez encantada, ao centro o rosto de um menino moreninho, ele sorria, ao outro lado o rosto de uma senhora muito se parecia com a Alicia. Larissa se alegrou e se entristeceu.
            O dia foi longo depois da cena do crime as duas operante da lei foram até o IML o legista apresentou o caso. Larissa chegou em casa tarde da noite, seu corpo estava cansado, porém sua mente trabalhava exaustivamente. Pensava em Alicia. Lembrava do crime bárbaro que sua família havia sofrido. Questionou alguma verdade e mentiras que aquela mulher dizia, titubeou, ela não mentia sobre o filho, Larissa começou a pensar, “ela não mentiu sobre uma poção de coisas” enquanto acompanhava a pericia Larissa teve contato com familiares da vítima, Camila conversou com duas tias de Alicia.
    - Duda tem razão quando vivi repetindo, “só agente sabe onde o sapato aperta” – disse Camila enquanto dirigia de volta para casa, Larissa havia escutado o que a amiga dizia, estava calada, por dentro estava numa confusão, seu coração estava tão apertado que sua vontade era de chorar – conhecendo a Alicia como conheci, nunca imaginei que ela tivesse uma vida tão difícil, ser abandonada pela mãe, ter um pai suicida, jogada de um lado para o outro nas casas dos tios... – Camila continuava, sem perceber que Larissa não conseguia segurar as lágrimas – dizem que a única pessoa que a acolheu foi os avós, a tia avó nos disse que Alicia não era bem vista na família por ser metida demais, porém apesar de todos os defeito ela tinha idolatria e um extremo respeito pela senhora Marli...
    - Ela esta envolvida no meu seqüestro. – confessou Larissa com a voz embargada. – ela me usou.
 Camila continuou dirigindo, virou-se para Larissa sua voz saia solidaria e acolhedora, falava como amiga.
    - Eu sei. – afirmou Larissa a olhou surpresa – você é uma profissional impecável, tenho você como espelho, você tem sido uma boa mentora, tenho aprendido bem. – as duas sorriram – já tinha suspeita desde seqüestro, elas se confirmaram a partir do momento em que você retornou ao escritório.
   - A Ingrid.
   - Somos boas alunas Dra. Couto. Você tem nos doutrinado com meritória.   
   - O que você acha? – tinha certo medo na voz.
   - Todo homem acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido inocente, até que sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público, no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa. Ninguém será condenado por atos ou omissões que, no momento em que foram cometidos, não tenham sido delituosos segundo o direito nacional ou internacional. Tampouco será imposta penalidade mais grave do que a aplicável no momento em que foi cometido o delito. Art. 5º XI. Ela tem todo o direito de defesa.
   - Juridicamente você a defenderia? – questionou Larissa. – um crime contra mim.
 Camila voltou a olhar para estrada, diminuiu a velocidade, sua voz sai branda e com total confiança.
    - Quando eu me formei tive muita influência de certa advogada para entrar na área criminalista. E diante de meu primeiro caso, entrei num conflito muito grande entre meus valores morais e jurisprudência. Essa advogada que há muito tempo trabalha nessa área me perguntou dias antes do julgamento. Você esta preparada para ir contra seus valores, sobre o que você considera de valor e de moral? Fiquei confusa. Pensei que Direito tinha muito haver com valores e tem, mais de ponto de vista diferente. Saber fazer um divisor de água é a coisa mais difícil na profissão, tive muita dificuldade e você sabe disso. Então ela me perguntou como posso defender meu cliente um homem acusado de homicídio.
 Larissa sorria, lembrava nitidamente daquele diálogo.
    - Eu respondi não sei. – ficou um minuto em silêncio - Então fiz daquela pergunta minha pergunta. Como você pode defender um criminoso se hoje esta o causando. Então ela da forma mais simples me falou. “Acredito que existem pessoas boas e ruins. Acredito que pessoas ruins podem fazer coisas ruins. Porém também acredito que pessoas boas também podem fazer algo ruim, mas isso não quer dizer que elas sejam pessoas ruins. – Camila sorriu virando para Larissa – soa confuso, mas independente do crime que o individuo cometeu ele tem seu direito à defesa. Posso não inocentar em alguns casos, mas ao menos o faço ter uma pena justa. Eu me simpatizo com a Alicia e diante do que sei, acho que ela se encaixa nas pessoas boas que podem fazer coisas ruins. Tudo depende do contexto. E a estrutura familiar dela contribui muito para isso, também isso pode não justificar seus atos. Você está vendo apenas com os olhos de vítima e de promotora. Sei que não deve ser fácil Larissa, principalmente para você que sempre foi tão apaixonada por ela, não posso imaginar como se sente diante de tantas evidências acusatória. Mas veja como os olhos de uma advogada de defesa. Pense nela como ser humano. Como vítima.
     - Essa vai ser sua tese de defesa? – se irritou com as palavras da advogada – você defenderia essa mulher, eu fui seqüestrada, torturada, ela me traiu, me usou... Fez-me um mal que você nem imagina, como você a defenderia Camila? E em mim você não pensa?
 Camila não respondeu continuou dirigindo
Enquanto Alicia
          Alicia custou a acalmar o pequeno Vinicius, o menino chorava muito, no final sem entregou ao sono, Raul não desgrudava os olhos do menino, parecia um bobo.
    - Ele parece comigo. – falou o homem. – ele parece comigo, quantos anos ele tem?    – não houve resposta, - responde!- gritou.
   - Não grite ele vai acordar – repreendeu, Raul abaixou a crista – fez três anos?
   - Quando?
   - Semana passada.
   - Está vendo sua vadia, perdi três anos da vida do meu príncipe. – resmungou Raul, falando baixo para não acorda o menino. – ele parece comigo, ele parece comigo – Raul repetia todo cheio de vida. Beto serrava os dentes de raiva olhando a cena pelo retrovisor
    - Para onde vamos? – indaga Alicia ao ver que o homem estava no bairro que em morava.
   - Para casa oras.
   - Você quer criar seu único filho numa favela?
 Raul encarou a mulher.
     - Pare o carro. – falou a mulher antes de entrar na favela. Beto continuou. – pare o carro. – insistiu.
   - Pare o carro. – ordenou Raul. – o que você quer galega?
   - Quero que meu filho seja criado como deve ser. Você mesmo disse que seu filho nasceu para reinar. E é numa favela Raul e isso que você quer?
 Raul parecia confuso, mais uma vez Alicia mostrava o quanto era boa em retórica.
    - O que tem de mal nisso. – Raul não parecia confiante.
 - Alicia respirou fundo. – então ta se quer criar seu filho naquele lugar tudo bem. É uma pena que não tenha sido verdade o que você me dizia quando fazíamos planos para ter filhos.
           Alicia conseguiu causar o efeito desejado. Raul repensou. Aquela comunidade era sua casa. Aprendeu a correr entres vielas, brincar no meio da falta de saneamento básico, exposto a muitas doenças, aprendeu a matemática com o pai que lhe ensinava a administrar o dinheiro do tráfico. Apesar de ter estudado em colégio de rico, de ter dinheiro, sabia do peso do preconceito que tinha por morar em favela. E não queria isso. Olhou mais uma vez para o menino no colo da mãe. Levou à mão a cabeça passando os dedos entre os fios grossos do cabelo.

   - Segue para zona sul.
   - Raul! – falou Beto.
   - Vai para o muquifo da galega agora.
            Raul não queria papo, Beto deu uns murros no volante do carro depois deu partida de forma brusca acordando o menino.
O carro estacionou no antigo apartamento de Alicia, seu coração acelerava, tão longe, tão perto da única pessoa que podia lhe salvar, a única que amava. Raul e Alicia e o menino entraram no prédio. Subiram até o apartamento.
     - Está do jeito que você deixou.
           O apartamento estava do jeito que a lourinha tinha deixado. Semanalmente Raul enviava uma faxineira para limpa-lo, parece que estava adivinhando dias antes tinha mandando alguém, o lugar estava limpo e arejado. Vinicius estava sonolento, Raul tentou pega-lo no colo, o menino se esquivou.
    - Vamos morar aqui agora. – informou Raul.
   - Certo. – indo para o interior da casa.
   - Sem gracinhas em galega, meu amor pode virar ódio e acabo com os dois rapidinho. – alertou o homem.
     Alicia estremeceu, olhou para o pequeno Vinicius sua voz saia rouca.
    - Apenas o quero em segurança. – logo em seguida caminho para o interior da casa.
           Alicia foi até seu antigo quarto, colocou o filho sentado numa poltrona enquanto trocava o lençol de cama. O menino saiu do lugar em que estava sentada e foi até a mãe. Alicia foi surpreendida com a pergunta do menino.
    - Mainha cadê bisa. – perguntou o Vinicius. Seus olhinhos estavam vermelhos.
            Alicia engoliu em seco, encarou o olhar questionador do filho, respirou fundo agachou ficando numa posição de igual com o filho. Não sabia o que dizer um nó na garganta um aperto no peito. As lágrimas já sufocavam o que dizer a uma criança de quatro anos que acabou de perde um ente tão querido. A lourinha apenas puxou o Vinicius para seu peito dando um forte abraço. Não houve choro apenas uma pesada tristeza.
    - To com fome mamãe. – reclamou a Alicia.
          Alicia consultou o relógio, passara da hora do almoço, terminou rapidamente de arrumar o quarto, foi até a sala, Raul estava no sofá, falava ao telefone. Parou assim que viu a mulher diante dele.
    - O que é?
   - Vinicius está com fome, não têm nada na dispensa, também ele precisa tomar um banho não tem roupas.
   - Não se preocupe estava providenciando isso agora.
 E assim foi
            Nos dias seguintes Raul mandou estalar câmeras em toda a casa, Alicia era vigiada o tempo todo, o homem evitava sair do apartamento e também não deixava que nenhum de seus capangas subisse até mesmo Beto foi proibido de ver Alicia e o garoto. O traficante passou a fazer suas negociações por telefone, estava tudo saindo bem, Raul só não contava que teria que lutar contra a resistência do filho, tentava a todo custo ganhar a simpatia do garoto. Já Alicia por dentro não existia mais nada, a não ser uma dor profunda, não chorava parecia que as lágrimas haviam secado restando apenas o vazio. Tentava não pensar na morte da avó. Não por falta de amor e gratidão, não que não sofresse, mas sim porque se sentia castigada por todo mal que já havia cometido na vida. A perda dela tinha sido até aquele momento seu pior castigo. Seu coração estava dilacerado, o único amor em que ainda acreditava e por quem poderia sentir era pelo pequeno Vinicius. Agradecia a Deus todos os dias por ainda ter o filho ao seu lado. Aquela presença tinha lhe trazido uma luta difícil, Vinicius já havia perguntado pela bisavó inúmeras vezes, a mulher já não sabia o que dizer. Por várias noites, o garoto teve pesadelos onde ouvia os tiros e via a imagem da bisavó ferida no chão. Em uma dessas noites o menino acordou aos berros, chorava muito alto, estava assustado, gritava o nome da bisa, pedia que a mãe a chamasse. Naquele momento Raul pela primeira vez pareceu demonstrar o pouco de sensibilidade que ainda tinha, tomou o garoto em seus braços e o levou para a sala, Alicia não gostava daquele contato, mas viu que o homem estava sendo sincero em sua atitude.   
   - Me deixa falar com ele. – pediu Raul.
        Alicia estremeceu por dentro, Raul sentou no sofá e, pois o menino em seu colo acalentava-o e tentava tranqüilizá-lo, suas palavras saiam carinhosas e dizia que tudo ia ficar bem. Tentou explicar:   - Papai, sabe que ta doendo aqui – Raul apontou para o peito do menino – dói aqui também em papai. Meu papai também foi para o céu e painho chorou muito, mas painho é um homem tem que ser forte, bisa fez uma viagem para bem longe – Raul levantou-se com o menino nos braços e foi até a varanda e apontou uma estrela  – painho ta vendo aquela estrela lá no céu – menino balançou a cabeça em sinal de afirmação - Alicia que via toda a cena de longe se emocionou. Raul pela primeira vez agia como um pai tentando proteger o filho da dor que estava sentindo. Aos poucos o garoto foi se acalmando, pela primeira vez também Raul se sentiu mais próximo da criança.
   - Bisa vai voltar. – perguntou o menino olhando para as estrela.
   - Não painho, sua vovó, viajou para o céu e se transformou naquela bonita estrela, sempre que o coração de painho doer, painho olha para o céu que sua vovó vai esta sempre olhando por você.
   - Eu quero bisa! – resmungou o menino ameaçando as lágrimas.
   - Filho tem outros meninos no céu que não tem mamãe e assim como você que precisa de amor e carinho, sua vovó vai cuidar deles, você num tem a mamãe Alicia, agora você é um rapazinho precisa cuidar da sua mãe. Você vai cuidar da sua mamãe, pra sua vovó?
 Vinicius encarou o pai com olhar desconfiado, depois de um longo silêncio respondeu.
    - Vou sim papai. – Raul escutou pela primeira vez seu filho o chamar de pai. Aquilo mexeu com ele. Abraçou o menino com todo amor que sentia.  Logo em seguida o levou até seu quarto, Vinicius pediu para dormi com ele e a mãe, assim o menino no auge de sua ingenuidade sentia-se protegido.
          Há muito tempo Raul  clamava por aquilo, o menino não gostava de Raul, sempre que o via começava chorar o que frustrava o traficante. Mas a coisa parecia esta mudando.
          Enquanto isso Larissa tentava descobrir o paradeiro de Alicia, não sabia ela que a lourinha estavam tão perto ao mesmo tempo tão longe, poucas quadras as separavam. Larissa estava desesperada a procura dela, já não conseguia fazer mais nada a não ser pensar em Alicia, se estava viva, sempre que os pensamentos de morte a povoava ela o espantava, não tinha muitas pistas. Já Alicia quase um mês se passou desde que foi levada por Raul, não tinha muito que fazer Raul agia de forma doentia, para o traficante sua família estava completa, não exigia ter intimidades com Alicia embora dormisse na mesma cama, era cordial e carinhoso com ela. Uma vez por semana levava eles para sair, sempre com muitos seguranças a tiracolo, Alicia não tinha contato com o mundo exterior, dedicava a maior parte do tempo cuidando do filho que aos pouco, foi se entregando ao pai.
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Um comentário:

  1. Meu deus mim segura que vontade de dar um muro na cara desse Raul o cara ganha todas affs a Larissa ta lenta em !

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