Larissa
ficou desacordada durante todo o trajeto, Beto conduziu o carro até a
BR 232, estacionando em um posto abandonado. Haviam dois homens mal
encarados a sua espera.
- Entregue! – disse Beto. Fazendo sinal para dentro do carro.
Lobo
olhou para dentro do carro, pode ver a mulher desmaiada no banco de
trás, apontou para duas motos estacionadas a poucos passos, Beto e os
outros dois pegaram a moto e saíram em disparada. Um homem segurou o
braço de Larissa com muita força, chacoalhando seu corpo, a morena não
teve muito tempo para pensar ou agir. Acordou desnorteada, ele apertou
suas bochechas fazendo sua boca abrir, enfiou um pedaço de pano com
cheiro de mofo para abafar seus gritos, logo depois colocou um saco de
tecido preto em sua cabeça. Larissa tentava se desvincular em vão, os
braços fortes e as mãos ásperas do homem a deixavam imóvel. Com um
pedaço de corda, amarrou suas mãos e seus pés.
- Na mala. – ordenou Lobo o responsável dali em diante.
Trocaram de carro agora era um siena vermelho em posse dos
seqüestradores, o carro anterior já estava em chamas. Lobo e outros dois
homens seguiram para o município de Surubim, Agreste de Pernambuco, a
viagem foi longa. Larissa mal conseguia respirar, seu corpo estava
encolhido, mal conseguia se mexer, ainda tinha que dividir o pequeno
espaço do porta-malas com algumas sacolas. Já não conseguia controlar as
lágrimas, chorava copiosamente, não sabendo quanto tempo se passou, ou
que horas eram. Sentiu certo alívio quando o carro finalmente parou. Um
homem gordo e com cheiro de cigarro tirou Larissa do porta-malas,
carregava a promotora no ombro esquerdo, como se ela fosse um saco de
batata, andou cerca de 150 metros.
- Coloque ela lá. – Lobo voltou a se pronunciar.
O
homem gordo entrou em um casebre abandonado no meio do nada, o lugar
ficava numa cidadezinha chamada Santa Maria, estava em condições
precárias, indignas de qualquer ser humano. Marcão abriu a porta de um
dos quartos, um odor muito desagradável subiu no ar, era lá que Larissa
ia ficar. O quarto era pequeno e estava cheio de entulho e móveis
velhos, o homem gordo jogou a morena em um colchão velho que estava no
chão, Larissa sentiu o impacto do seu corpo contra o chão. Um grito saiu
abafado, seu ombro deslocou. O homem mandou-a fica quieta, desatou os
nó da corda que prendia seus pulsos e seus pés. Depois o homem se
levantou e tirou o saco de sua cabeça, antes mesmo de abrir os olhos
cuspiu o pedaço de pano sujo que estava em sua boca, sua visão estava
meio embasada. Mas agora podia ver nitidamente a face de um dos seus
seqüestradores. Larissa se sentou levou o outro braço seu ombro doída
muito.
Um
homem negro, com quase dois metros de altura estava parado bem na sua
frente, corpulento parecia um lutador de luta livre, sua voz era meio
fanha.
- Se tentar
alguma coisa, eu meto bala dona. – alertou, colocando o cano da pistola
na cabeça da mulher – Larissa tentava se manter fria, encara-o por
alguns instantes, sentiu seu coração disparar ou escutar uma segunda voz
invadindo o quarto.
- Você está
louco? - gritou um homem parado na porta, ele usava uma máscara, tinha
apenas os olhos e a boca visíveis. Era alto e magricelo, sua pele era
parda e na cintura tinha dois revolver - Saia já daqui seu imbecil! –
esbravejou.
Larissa acompanhava os movimentos dos dois homens, seus olhos
atentos, buscando algo familiar ou apenas tentando entender o motivo de
estar ali. Lobo se aproximou da morena, sacou a arma e deu um tiro no
chão no intuito de esquentar o cano. Larissa assustou levou suas mãos
aos ouvidos. Que doeu. Seu ombro latejava, seus olhos lagrimejando. Lobo
se agachou diante da mulher podia senti o cheiro do medo, mais o cheiro
que Larissa sentia era de sua pele queimando quando aquele homem
encostou o cano do revolve na pele frágil de seu pescoço. Gritou de dor,
virando o rosto de lado enquanto Lobo imprensava ainda mais a arma, em
seguida sentiu o bafo quente do homem em seu ouvido sussurrando:
- Vou te
soltar, mas se tentar alguma coisa, não vou pensa duas vezes antes de
meter uma bala bem no meio desse rostinho lindo, mas antes, posso me
divertir um pouco com você!
A
promotora respirou fundo buscando forças para conseguir passar por tudo
aquilo. Sentiu o cano da arma desliza por sua pele invadindo seu colo,
seu corpo tremia, uma dor invadia seu corpo. Lobo deu uma risada alta.
Larissa podia ver o brilho da crueldade no olhar daquele homem que
parecia se divertir.
- Não me dê trabalho! – alertou se levantando e saindo pela porta.
Horas depois, a dor que já não parecia tão importante. A morena
apenas deixava as lágrimas caírem em abundância, sua mente não conseguia
raciocinar. Seu ombro agora inchado tinha se anestesiado com a própria
dor.
Olhou cada metro quadrado daquele lugar. O quarto era pequeno e
cheio de entulho, havia lixo e poeira por toda parte, móveis velhos, um
odor horrível. O quarto era escuro, sem janelas, lâmpadas, havia apenas
um buraco em uma das telhas no teto, por onde um pequeno raio de luz
passava iluminando um pedaço do colchão onde Larissa permanecia sentada,
encolhida. Sua mão segurava o ombro machucado.
- Meu Deus! – mumurrou.
Larissa pareceu cair em si, aquilo não era um pesadelo era real.
Seus choros eram cada vez mais altos, os bandidos reunidos em uma sala
vizinha podiam ouvir os gritos da promotora. Larissa não parava de
pensar na segurança de sua família, de seus amigos... E como estaria
Ruth depois de tudo isso? Esses pensamentos aumentavam sua angústia, o
choro e as dores que sentia foram vencidos pelo sono.
***
Em quanto isso.
Alicia sentia seu corpo rolando
pela pista, causando um imenso transtorno no transito, por sorte não
foi atropelada. Seus ferimentos não foram tão graves, fraturou algumas
costelas, teve vários arranhões pelo corpo. Mais nada disso se comparava
a dor que sentia por dentro, sua alma estava destruída. Seu coração
palpitava cada vez que lembrava do olhar apavorado de Larissa. Passou a
noite no hospital e na manhã seguinte ao acordar, sentiu dores por todo o
corpo, a enfermeira entrou no quarto sem dizer nada, aplicou uma
medicação em seu soro.
- Teve sorte hein? – disse a mulher -
Alicia não disse nada, não conseguia raciocinar, a única coisa que vinha
a sua cabeça era o nome de Larissa. Tentou se levantar.
- Fique quieta. – ordenou a enfermeira – Você não está em condições de sair daqui agora, está muito machucada.
- Preciso ir. – disse se sentando na cama com muita dificuldade.
-Você não teve alta, Dr. Moreira virá
ver você. Alguns políciais vieram hoje cedo, como você estava dormindo,
disseram que voltariam à tarde.
Empalideceu ao ouvir a palavra
“polícia”, precisava sair dali o mais rápido possível, não poderia ser
descoberta, não antes de ajudar Larissa. – Sou a única que posso salva-la. – disse pra si mesma. - Esperou
que a enfermeira saísse, livrou-se do soro e dos aparelhos ao seu
redor, mal conseguia caminhar, sentia dor nas pernas e nos braços,
estava fraca, mas ignorou tudo aquilo.
- Preciso sair daqui! – falou.
Alicia não quis perder tempo.
Caminhou pelos corredores tentando não chamar muita atenção, seguiu uma
enfermeira que entrou numa ala reservada, sem ser percebida encontrou um
vestuário de funcionários. Roubou algumas roupas e voltou a caminhar
pelos corredores do hospital. Conseguiu sair de lá sem ser notada, mais
tinha um problema, não sabia para onde ir, sabia que Raul já deveria ter
colocado todos os seus capangas atrás dela. Voltar ao seu apartamento
era como suicídio, lembrou então de Marcela, sua amiga da faculdade,
resolveu se arriscar e ir atrás dela. Sabia que podia confiar nela,
lembrava de seu endereço, pegou um ônibus, alegando ter sido assaltada,
pediu ao motorista para descer pela frente. Marcela morava e um dos
bairros mais nobres da cidade, Alicia andou um pouco do ponto de ônibus
até o prédio luxuoso onde a amiga morava, mas não sabia qual era o
número do apartamento.
- O nome dela é Marcela, uma ruiva, mais
ou menos da minha altura. Estudamos juntas. – Alicia tentava passar
tranqüilidade em suas palavras, o porteiro estava desconfiado, percebeu
os machucados na garota – Por favor, ligue para o apartamento dela,
preciso vê-la.
Diante de tanta insistência o porteiro atendeu o apelo da mulher.
- Mande subir - falou Marcela do outro lado da linha.
- Pode subir senhora, fica no 15 andar, o número do apartamento é 1212.
- Obrigada!
Alicia subiu apreensiva não
sabia como a amiga reagiria. O elevador parou. Alicia apertou a
Campanhia. Marcela arregalou os olhos quando viu o estado físico da
amiga.
- Meu Deus o que houve? – indagou dando espaço para que Alicia entrasse.
Alicia não conseguia falar uma
palavra, seus olhos estavam cheio de lágrimas, por um momento achou que
era um equívoco, mas precisava de alguém naquele momento e a única
pessoa que sentia que podia confiar estava ali, congelada na porta
diante da amiga.
Marcela fez um sinal com a cabeça, pedindo para que amiga se aproximar, Alicia entrou cabisbaixa, até a sala.
- hey fica calma! Senta aqui que vou pegar algo para você beber.
Aquela situação ainda estava
muito confusa para a ruiva, ela não entendia o que estava acontecendo,
saiu da sala e foi pegar um pouco de água com açúcar, Alicia parecia
muito nervosa.
- Tome um pouco! – Marcela estendeu o copo, Alicia tomou tudo.
- Que houve?
Naquele momento Marcela não
conseguiu obter explicação alguma, a lourinha estava em soluços e
choros. Marcela sentou ao lado da amiga, a abraçou enquanto ela chorava.
Depois de alguns minutos que ela foi se acalmando, ambas ficaram em
silêncio, Marcela teve coragem e voltou a perguntar o que havia
acontecido. A loirinha permanecia calada, respirava fundo, tentava se
recompor. Raciocinou por alguns minutos, não teria coragem de confessar o
crime que acabara de cometer, mas não sabia o que falar.
Marcela percebia o nervosismo da loirinha.
– Confia em mim! – disse pegando em sua
mão, tentando lhe passar confiança, sua voz saiu de uma forma
acolhedora, tinha simpatizado com Alicia desde o início e vê-la daquela
forma a preocupava.
Marcela sabia que a loirinha
escondia algo, embora fosse amigas, Alicia evitava ao máximo falar de
seu passado, nas últimas semanas a lourinha estava agindo de forma muito
estranha, andava muito calada e vivia falando ao telefone. Quando
alguém se aproximava, ela ficava toda desconcertada desligando de
imediato. Havia certa resistência da parte dela, então achou melhor não
fazer nenhum tipo de pressão, queria que Alicia tivesse confiança nela e
parece que tinha realmente conquistado.
- Desculpe! – Alicia tentava se
desculpar, sua voz era quase inaudível. – sofremos outro atentado. – foi
à única coisa que ela conseguiu dizer.
- Tudo bem. Tudo bem. – Marcela se mostrou surpresa, diante do estado da amiga achou melhor reconfortá-la.
A loirinha voltou a chorar. As
palavras saiam sem nenhum nexo, balançava a cabeça em sinal de negação.
Marcela sentia-se perdida sem saber o que fazer, não conseguia entender
nada do que Alicia falava precisava acalmá-la. Abraçou a amiga com
carinho, as duas ficaram um tempo assim. Alicia nunca sentira tanto
arrependimento como estava sentindo, havia traído a única pessoa que
realmente se importava com ela, temia pela vida da promotora. Desejou
com todas as forças que o tempo voltasse. Agora era tarde, o mal estava
feito.
Marcela levou Alicia até seu quarto, lhe deu roupas limpas e uma toalha para que pudesse tomar banho.
- Assim que terminar me chama vou esta lá fora, vesti isso aqui – estendeu um par de roupas para ela.
Marcela saiu do quarto, Alicia
olhou ao redor, seu peito doía, resolveu tomar um banho. Logo depois a
amiga entrou no quarto, pediu para dá uma olhada em alguns de seus
ferimentos, trocou o curativo do pequeno corte que havia na testa da
amiga. O silêncio era absoluto. Alicia não quis comer nada, apenas tomou
um chá e um comprimido para dor, deitou-se e dormiu pelo resto do dia.
Os pais de Marcela chegaram à
noitinha, a ruivinha explicou a situação da amiga, os pais não viram
problemas em deixá-la se hospedar em sua residência por alguns dias.
Em quanto isso, Raul comemorava
na favela. Os negócios estavam cada vez melhores, finalmente tinha
conseguido dominar outro ponto forte do tráfico. A cada dia que passava,
era mais temido entre os que lhe cercavam, se continuasse nesse ritmo
seria bem mais respeitado que seu pai. Em seis meses que estava no
comando praticamente dobrou sua fortuna. No meio de uma última
negociação com um dos traficantes locais, recebeu um telefone de Beto.
- Preciso falar com você, é urgente! – Beto falou sem deixar transparecer sobre o que queria falar.
- Fala logo? – Raul parecia ansioso.
- A promotora e a cadela da Alicia. –
Raul sentiu os nervos aflorarem, terminou a negociação e saiu para se
encontrar com Beto no bar que freqüentavam, chegou primeiro que o
parceiro de crimes. Depois de uma hora viu Beto se aproximar.
- E ai? – perguntou impaciente.
- Fica tranqüilo, deu tudo certo. – Beto deixou um sorriso sarcástico escapar.
- As duas?
Sua expressão mudou completamente.
- Não... Deixamos à galega pra trás. – Raul respirou fundo – Não vejo necessidade de ter ela por perto.
- Como não! – gritou. – Ela sabe demais.
- Ela não vai contar nada para ninguém, ela sabe que a cabeça dela está em jogo também.
Raul olhou desconfiado. Ficou um tempo pensativo, diante daquele silêncio Beto sugeriu.
- Vou dá fim nela de uma vez por toda.
- Não. – Raul se serviu de um pouco mais de vodka, sentou-se um pouco pensativo.
- Pense bem Raul, a galega está afim da
promotora. – Raul levantou, foi pra cima do amigo, segurando-o pelo
colarinho, tinha um olhar de fúria, não conseguia definir o que sentia
depois de ouvir o que Beto havia dito.
- Você ta louco, sabe o que sou capaz de
fazer. Então não brinque comigo. – Beto pela primeira vez enfrentou o
amigo e parceiro de crimes, segurou suas mãos e livrou-se dele. Voltou a
encará-lo e reafirmou:
- Aquela vagabunda está afim da mulher. E
você mesmo já teve provas disso. – Raul deu um passo para trás – Te
avisei desde o início para não envolver ela na jogada, olha só a merda
que vai dar! – Raul se afastava cada vez mais do amigo – Por que você
acha que ela estava estranha de uns tempos pra cá, sempre colocando
dificuldades... Acorda Raul, aquela cadela não está mais na sua há muito
tempo. – Raul tentou manter a calma, Beto parou de falar, sabia que já
era o suficiente, a partir daquele momento, Raul iria pensar melhor no
que faria com Alicia.
- Vai atrás dela, a leve para o mesmo lugar em que colocou a promotora. Quero as duas juntas.
- Raul, será que você não ouviu o que eu falei. – o homem virou-se encarando o olhar curioso de Beto, aproximou-se.
- Vou mostrar para você e pra quem mais
quiser ver que eu sou o homem dela. E todos sabem o que acontecem com
traidores, faça o que eu estou mandando.
Raul falava com um ar ditador,
tentava acreditar em suas próprias palavras, apesar de duvidar do que
Alicia sentia. A muito que as coisas não iam bem entre os dois, Alicia,
além de mostrar resistência nas investidas de Raul, estava começando a
dar para trás em relação ao plano.
- Tá certo, se você acha melhor agir
dessa forma, talvez tenha razão, melhor mantê-la por perto. – Beto se
aproximou de Raul, tomou um gole de sua vodka e disse em um tom
ameaçador – Se aquela vadia aprontar ou ao menos pensar em aprontar
qualquer coisa, eu a mato! – afirmou. Saindo logo em seguida.
Raul tomou o resto do líquido que
havia na garrafa. Ainda pensativo sobre o que faria com Alicia, as
últimas palavras de Beto impregnaram seus pensamentos. Beto era um homem
de palavra, sabia que o amigo cumpriria o que prometera. Conhecia Raul
desde a infância e nunca havia gostado de Alicia. Sabia que teria
problemas com ela, Beto sempre a tratou com indiferença, tentava de
todas as formas mostra para o amigo o quanto Alicia era traiçoeira, mas
Raul sempre esteve apaixonado pela loirinha, Apesar de se envolver com
outras mulheres, era pra Alicia que voltava. O traficante até tentou
fazer com que Raul se apaixonasse por sua irmã, Júlia, mas não teve
muito êxito, Raul estava enfeitiçado por Alicia o que aumentava ainda
mais a frustração de Beto.
Então ele passou a seguir todos
os passos da mulher em intuito de descobri algo que pudesse denegrir sua
imagem. Alicia queria sua independência resolveu então arrumar um
emprego. Um belo motivo para o que Beto queria. Alicia conseguiu um
emprego numa loja de material esportivo, uma amiga sua lhe indicou,
durante a entrevista ela se saiu muito bem. As coisas pareciam
tranqüilas até Beto começar a plantar sementes da desconfiança no amigo.
Raul sempre foi um homem muito influenciável ia muito pela cabeça dos
outros principalmente do amigo.
Alicia era como um troféu,
sentia-se dono dela por isso não gostou nada em saber, que sua mulher
estava trabalhando. Em seu pensamento completamente machista lugar de
mulher em casa cuidando das roupas do marido. Para seu desgosto Alicia
não partilhava do mesmo pensamento, era uma mulher vaidosa e cheia de
luxos, apesar do seu amante nunca deixou faltar nada ela queria sua
independência. Desconfiado do interesse da mulher em trabalhar Raul
colocou Beto para seguir seus passos.
Com o tempo ele conseguiu
envenená-lo com falsas informações, dizia que Alicia estava se
envolvendo com um colega de trabalho que era inclusive casado. Seu nome
era Walter, gerente da loja, um homem honesto, respeitador e muito
brincalhão, adorado por todos os funcionários. Logo simpatizou com a
lourinha, nesse ambiente foi surgindo um laço de amizade o que não durou
muito. Foi então que as brigas começaram, Beto começou a fazer
insinuações, Raul passou a cobrar ciúmes de Walter que vez em quando
dava carona a Alicia e a outra duas funcionarias que morava na mesma
localidade. Raul no auge de seu ciúme dizia que eles vinham de algum
motel, Alicia se defendia como podia, o homem começou a exigir que a
mulher deixasse o emprego.
Alicia se recusava queria ter sua
independência a todo custo, queria deixar aquele homem que um dia o viu
como seu príncipe.
Nesse impasse Alicia foi agredida.
No dia seguinte Walter notou que a mulher que normalmente era sempre
alegre estava meio triste, logo viu alguns hematomas em seu braço. Pediu
explicações, Alicia tentou desconversar, nesse mesmo dia Raul resolveu
cantar de galo foi até o trabalho dela para buscá-la. A confusão
começou, Walter tomou as dores da mulher ao defendê-la assinou sua
própria sentença de morte.
Raul foi para casa, furioso, seu pai perguntou o motivo de tanta irritação.
- Diga o nome? – indagou.
Raul olhou para o pai, hesitou dá o
nome do homem, sabia como o pai resolve essas questões, para o jovem
não precisava chegar a tanto, uma surra estaria de bom tamanho. Malbec
diante da hesitação do filho, falou.
- Esse homem está comendo sua mulher?
Raul abaixou a cabeça.
- Pupilo – chamou o homem com um tom
mais autoritário, Raul encarou o pai. – Nunca dê um passo para trás
numa decisão, os “PORQUES” ficam para os tolos a honra se lava com
sangue. – logo em seguida ele voltou a fumar seu cachimbo.
Raul
abstraiu a lição do pai. Esperou um mês para cometer o crime, não
queria levantar muitas suspeitas, numa manhã fria de segunda feira ele
matou a sangue frio um homem inocente. Deixando uma mulher sem marido, e
duas crianças sem pai. Alicia sabia bem quem era o autor desse crime
bárbaro, diante daquela monstruosidade toda fugiu para bem longe.
Alicia fugiu sem deixar rastro, Raul ficou transtornado,
diante do desespero do filho Malbec colocou um batalhão para descobrir o
paradeiro da mulher, mas isso ia custar um pouco. Para animar o amigo
Beto apresentou sua irmã Júlia uma bela morena, porém o homem não queria
saber de ninguém gritava aos quatros cantos que a única mulher dele era
a Galega como, ele chamava Alicia, o resto era rapariga, Júlia acabou
desistindo. Beto fazia de tudo para que nunca a encontrassem. Até que o
que o que parecia improvável aconteceu. Um ano depois um dos seus
parceiros de crime conseguiu localizá-la vivendo nunca cidade do
interior com uns tios, Malbec mandou Beto foi até o local para ter
certeza de que era Alicia a descrição feita pelo capanga, sendo que
havia uma grande detalhe a mulher estava grávida. Nesse mesmo tempo seu
pai foi preso aumentando ainda mais seu desespero.
- Tem certeza que é ela?
- Tenho!
Raul ficou pensativo, andava muito abatido com seu pai preso sentia-se mais sozinho que nunca.
- Me leva até ela. – pediu ele estava sério.
Beto respirou fundo.
- Raul...
- Não é um pedido e sim uma ordem. – rosnou.
- Têm algumas coisas que fiquei sabendo, a vadia como fugiu daqui estava grávida do defunto. – afirmou.
Raul engoliu em seco, uma raiva possuía seu corpo, controlou-se, sua voz saiu firme.
- Me leva onde está aquela vagabunda.
Raul recebeu a localização de Alicia.
- Ela esta em Arapiraca, interior de Alagoas. – informou Beto.
Raul ficou se perguntando o que a galega fazia naquele lugar.
- Vou ver meu pai, depois agente vai atrás daquela cadela.
Raul foi chamado ao presídio onde seu pai estava. A visita foi
penosa, seu pai estava muito abatido, parecia triste e cansado, Raul não
entendia muito bem aquele desanimo todo, não era a primeira vez que o
homem se via naquela situação. Raul estava movendo terra e céu para
comprar a liberdade do pai, isso não tardaria a chegar. No final da
visita uma despedida emocionante, Raul saiu dali para assumir de vez o
lugar que lhe pertencia por direito, agora era o rei da favela planetas
dos macacos. Mesmo diante de tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo,
ele não parava de pensar na mulher que lhe abandonou, lembrou-se de sua
própria mãe, amaldiçoou Alicia por amargas lembranças.
Estava tudo pronto para ir atrás da mulher, porém o destino já
tinha seus planos, o suicídio do pai destruiu por completo Raul. O homem
que sempre tentou demonstrar aquela postura de imbatível, chorou a
morte do pai e o abandono única mulher que realmente gostava. Raul
passou cerca de três meses preso na sua própria dor. Até que num belo
dia se levantou e foi atrás da mulher.
Alicia estava amedrontada, sabia que tinha sido Raul o autor do
assassinato de Walter, se culpou por isso, ainda se culpa até hoje.
Desde desse dia decidiu nunca mais ter um amigo. Não tinha muitas
escolhas, havia um lugar onde podia procurar asilo. Viajou cerca de 260
km, apenas com a roupa do corpo, por sorte tinhas suas economias durante
os nove meses que trabalhou na loja, também tinha um pouco de dinheiro
guardado da mesada que recebia do amante, não era muito mais daria para
se manter por um tempo. Era uma noite chuvosa quando ela desceu na
pacata cidade de Arapiraca, não tinha mudado muita coisa desde sua
partida, caminhou no meio da chuva, chegou à rua que morava há alguns
anos atrás, parou diante daquele portão velho. Um misto de emoção, boas
lembranças lhe povoaram a mente, lembrou-se de sua infância.
Dona
Marli acordou assustada ouviu alguém chamando, o rangido do portão de
ferro, alguém invadiu seu quintal, se por um momento pensou que fosse
ladrão, assustou-se. Levantou-se da cama, calçou seu chileno de couro, e
caminhou vagarosamente até a sala.
- Quem é? – perguntou, pegando a vassoura como se quisesse se defender. A mulher era uma senhora de 60 anos.
- Sou eu vó.
O
coração da velha disparou. Vó há muito tempo não escutava essa palavra.
Foi mãe de sete filhos que depois de casados todos se mudaram em busca
de uma vida melhor. Mal tinha contatos com a velha, só os via em datas
especiais, como natal, semana santa. Mas nos últimos anos mal falava com
eles por telefone.
- Vó, abre aqui sou eu a Alicia. – Alicia chamava pela avó batendo palma.
A
mulher quase caiu, seu corpo começou a tremer, pegou o molho de chaves,
sua mão tremula dificultava por a chave certa na fechadura, abriu a
porta.
- Quem é? – indagou mais uma vez ainda duvidando do que escutava.
Alicia estava parada na grade do terraço toda encharcada pela
chuva. Dona Marli esfregou os olhos, ainda incrédula no que via, Alicia
estava ali, parecia abatida, suas roupas molhadas, seus olhos marejados,
controlando-se para não chorar.
- Ainda tem um lugarzinho para mim? – sua voz estava embargada.
Dona Marli caminhou na chuva parando diante da neta. Depois de
tantos anos sem ter nenhum contato, não sabia explicar o que sentia. O
abraço foi repleto de carinho e saudade. As duas permaneceram ali,
debaixo da chuva durante longos minutos.
- Saudades,
saudades – repetia à senhora depositando inúmeros beijos pelo rosto da
neta. – Minha menininha cresceu e se tornou numa mulher linda –
acariciava o rosto de Alicia. - Vamos sair da chuva – envolveu a garota
em seus braços e a conduziu até a porta. Alicia não conseguia falar
nada.
- Te amo tanto vó, tanto. Me perdoa! – dizia buscando o abraço protetor da avó.
Alicia perdeu o pai e foi abandonada pela mãe quando tinha quatro
anos de idade, suas perdas abalaram a família. Ficou quase um mês num
abrigo para menores, até que sua tia Maria ir buscá-la. Ficou com a
menina por quase um ano até seu marido perde o emprego, a vida difícil
além de ter mais quatro filhos para criar o medo de passar fome acabou
fazendo a mulher a entregar a menina para outro irmão criá-la, Alicia
percorria entre casa e outra. Nessas passagens à pequena acabou
adquirindo problemas relacionamento, seus tios não tinha paciência com
ela, Alicia mal falava, não gostava de ficar com as outras crianças,
passou a ter comportamento agressivo, isso gerava inúmeros problemas na
escola e nos lugares em que freqüentava. Vítima de muitas surras e maus
tratos, Marli como soube da situação da neta ficou inconformada, de
imediato mandou seu marido José ir buscá-la na casa do seu filho
Alfredo.
Quando chegou para morar com a avó era uma criança traumatizada,
tinha problemas de adaptação, medo da violência que poderia sofrer
nessa nova casa e mais uma vez ser largada, abandonada. Alicia parecia
um animalzinho ferido, arredio, a grande custo dona Marli conseguiu
derrubar as muralhas psíquicas daquela menina. Dando-lhe amor e muita
segurança, mostrando-lhe que poderia sim ser amada e que teria um lar
verdadeiro. Prometeu a menina que jamais abandonaria. As feridas das
perdas e dos maus tratos caminharam pela vida de Alicia até os dias de
hoje. Aprendeu a ser egoísta, os traços do seu passado influenciaram
muito suas atitudes futuras. A única referência que tinha de família era
a sua avó. Alicia freqüentou um psicólogo na cidade, foi assim que
pouco a pouco ela foi abrindo as portas do seu mundo interior para
outras pessoas entrarem, foi quando aquele casal conseguiu ganhar o
amor, carinho e respeito daquela criança, pela primeira vez sentia-se
segura.
Anos mais tarde a menina agora pré-adolescente aos doze anos,
uma grande tristeza lhe abateu, a morte levou seu avô. Mas Alicia
precisava ser forte, sua avó muito o amava, sofreu a perda de mais que
um companheiro, um amigo. Ambas tinham uma à outra. Conseguiram superar
essa lastima da vida. Dona Marli incentivava a neta a estudar, queria um
futuro melhor para ela. Alicia apesar de ser um pouco fútil, era boa
aluna, sempre tirava boas notas, seu sonho era ir morar em Recife,
terminar seus estudos e entrar numa faculdade, ainda não sabia que
profissão seguiria, mas sonha numa vida melhor da que tinha naquela
cidade que pouco tinha a lhe oferecer. Quando fez 18 anos achou que era
hora de mudar, ir em busca do que parecia inalcançável. Querendo ver o
crescimento da Neta Dona Marli pediu para que sua filha Marta que morava
na periferia de Recife recebesse Alicia, que pretendia terminar o
ensino médio e tentar entrar numa faculdade pública. Marta não tinha
como recusar um pedido da mãe, semanas depois sua sobrinha chegou ao
bairro em que morava. Alicia tinha crescido, tornou-se num mulherão,
arrancando suspiros nos rapazes. Séria e muito ambiciosa, a mulher não
dava cabimento a ninguém, seus objetivos eram outros.
Nos
primeiros anos foram difícil para Alicia, sentia a dureza de não ter a
proteção da avó, sem falar na saudade que sentida daquela mulher
caridosa, sua vida tranqüila tornou-se agitada demais. Morando na casa
dos outros, não demorou muito para os maus tratos voltarem, queriam
fazê-la de empregada. Alicia nunca reclamava sabia que pior seria se
fosse morar em outro lugar, lá pelo menos não tinha tantas despesas.
Engoliu os choros e as tristezas. Terminou seus estudos e tentava
conseguir um trabalho, em quanto isso, ajudava no que podia na casa da
tia, estava se tornando uma mulher linda, era cobiçada na comunidade.
Ambiciosa, só queria namorar homens que tivesse algo para lhe oferecer.
Foi quando conheceu Raul, não foi difícil se apaixonar pelo homem de
olhar sedutor, mas antes de se envolver com ele procurou saber um pouco
mais sobre ele.
Raul era filho do rei da favela, no início não quis se envolver
com o jovem, sem falar na pressão da tia que avisou que se ela se
envolvesse com o traficante teria que sair de sua casa. Alicia tentou
resistir, tinha conseguido um emprego num posto de gasolina, Raul
tornou-se cliente, normalmente ele queria mesmo era vê-la. Quanto mais a
lourinha o rejeitava mais ele se interessava, ela acabou não resistindo
aos galanteios dele, o homem ficou enfeitiçado com a beleza dela,
sempre a levava a lugares elegantes e dava presentes caros, em menos de
dois meses Alicia assumiu o posto de sua mulher. Foi expulsa da casa da
tia, que cortou relação com ela, só por causa do seu envolvimento com o
traficante. Também tentou queimar o filme da sobrinha com a Dona Marli,
mas Alicia realmente estava amando aquele homem, enfrentou a todos para
ficar com ele, mesmo todos seus parentes a excluindo de vez do seio da
família. Raul montou uma casa para a mulher. Alicia não poupo, montou a
casa de seus sonhos. Tinha uma vida de rainha, Raul lhe proporcionava
momentos de luxo e de muita alegria, até que os anos passaram e
finalmente ele mostrou sua verdadeira face. Um homem cruel e de uma
mente diabólica. Hoje, três anos depois voltou ao lugar onde se sentiu
verdadeiramente amada. O único lugar que realmente foi seu lar.
- Minha
nossa senhora aparecida! – exclamou a mulher - como você esta linda... E
como me aparece aqui do nada, se tivesse me avisado eu teria ido te
buscar na rodoviária, como você esta, cadê suas coisas? – Dona Marli
parecia feliz e preocupada, sentia muita tristeza no olhar de Alicia.
Conhecia aquela menina como ninguém.
- Saudade
vó. – foi à única coisa que a loirinha conseguiu dizer, estava
emocionada, sentia como se todo seu passado voltasse, o vazio e o
desanimo foram lhe abatendo cada vez mais.
Dona Marli entrou com a neta, não houve muita conversar, Alicia
se limitava a falar, tomou um banho enquanto lhe era preparado um café
quente. O cheiro do café lhe atraiu até a cozinha, sua avó já tinha se
trocado, olhava para neta ainda não acreditando. Naquela noite não houve
muita conversar. Alicia estava cansada e muito abatida. Sua vó preparou
seu antigo quarto ainda do mesmo jeito que tinha deixado há anos atrás.
Trocou as roupas de cama e lhe deu roupas limpas, seu desejo era ficar
ali ao lado do seu anjinho, mas o cansaço era aparente. Alicia tinha uma
sombra nos olhos, Marli sabia que algo de extraordinário havia
acontecido, mas aquele não era o momento, ordenou que deitasse.
Alicia depositou seu corpo na cama, o cheiro de lençóis limpos,
aquele cheiro de jasmim, sentia uma paz naquela casa onde cresceu.
Na
manhã seguinte não teve escolha, os olhos vigilante da senhora
buscava-lhe uma explicação, então Alicia chamou dona Marli para
conversar, abriu o coração contou-lhe a verdade. Lembrava do quando a
avó não gostava de mentira, apenas não contou da índole do ex-amante.
Pediu para ficar ali por um tempo.
Tempo esse que durou meses. Dona Marli já era uma senhora de
idade a neta tentava ajuda - lá nos afazeres domésticos, evitada ao
máximo em falar o real motivo que levará até ali, temia da reação da
avó. Ela era uma mulher corretar demais, não toleraria tal
comportamento. Dois meses depois Alicia sentia-se enjoada, suas regras
há muito tempo não vinha. Por insistência da vó foi ao médico achando
que devia ser um problema hormonal. Nunca lhe passou pela cabeça uma
gravidez, sempre considerou que Raul fosse estéril, tantos anos com ele e
nenhuma prevenção ela nunca engravidou, Alicia apesar de todos seus
defeitos era mulher de um homem só, nunca traiu Raul, a não ser quando
se envolveu com Larissa, na verdade Raul foi o único homem que teve.
Porém recebeu uma notícia que mudaria sua vida.
- Positivo
vó. – disse sua voz estava longe de demonstrar animação, tinha angustia.
Suas mãos tremiam segurando o resultado do exame.
- Não disse para você. – a velha já tinha previsto, mãe de 7 filhos logo desconfiou dos enjôos da neta.
- O que vou fazer? – Alicia sentia-se perdida. Mais pela primeira vez na sua vida não estava sozinha, tinha o apoio da avó.
- Agente
cria! – respondeu à senhora. – vamos cuidar dessa criança dando muito
amor e carinho! Você não esta sozinha minha filha tem sua vó aqui. – a
mulher a abraçou com carinho.
Alicia teve uma gravidez tranqüila, Vinicius nasceu seis meses
depois. Um menino forte e saudável. O sentimento de mãe mudou aquela
mulher para sempre. À medida que ele crescia Alicia se preocupava mais
em manter-lo longe do pai, soube da morte do ex-sogro pelos noticiários
de jornais, uma velha colega lhe disse que Raul estava como louco a sua
procura. O que não preocupava Alicia, ela sentia-se segura ali, nunca
mencionara a existência de algum parente a Raul. Mas a vida havia lhe
feito algumas surpresas.
- Vó, vou comprar um pacote de fralda descartável no mercadinho. Esse já está no fim. – pegava o dinheiro na bolsa.
- Vai lá, eu olhou Vinicinhos.
- Tá bom. Se comporte viu. – disse Alicia deu um beijinho na cabeça do menino e saiu.
Alicia foi até o mercadinho que fica na esquina. Caminha
tranquilamente na calçada não percebendo o carro preto que estava
estacionado no outro lado da rua, Raul logo a reconheceu, desceu do
carro de imediato.
- Calma. – falou Beto.
- Fica ai! – ordenou Raul.
Ele
foi seguindo Alicia, que entrou no mercado, percorria entre os
corredores procurando fralda descartável. A mulher não percebeu o homem
que se aproximava, sentiu o cheiro forte no ar, aquele odor de loção pós
barba parecia familiar, aspirou mais uma vez, seu coração acelerou,
lembrou-se de Raul, aquele cheiro era reconhecível a quilômetros.
- Procurando alguma coisa? – falou baixinho.
Alicia congelou ao ouvir aquela voz,
seu coração parecia galopar, virou-se para trás, seu pior pesadelo esta
ali diante seus olhos, pensou em sair correndo.
- Não existe lugar no mundo em que você
se esconda que eu não possa te achar. – a voz do traficante saia
debochada, tinha um sorriso vitorioso nos lábios. - Que buraco você
veio se esconder galega.
- O que você quer? – indagou com a voz tremula.
- Você não deveria ter fugido de mim, isso não foi uma boa escolha.
- Me deixa em paz Raul. Pensei que tinha me esquecido.
- Esquecer da mulher que me fez de idiota. – Raul serrou os dentes.
Alicia tentou se livrar dos braços
de Raul que já estava bem próximo, seu corpo tremia, a única coisa em
que pensava era em seu filho. Aquele homem tinha um misto de ódio e
desejo no olhar, tentou beijá-la mais ela havia virado o rosto
irritando-o. Alguém apareceu no corredor fazendo ambos se afastarem ela
aproveitou para tentar numa tentativa tola fugir dali.
- Não me deixe falando sozinho – disse o homem a interceptando. Apertou seus braços com força.
- Fique longe de mim. - Alicia falou num tom mais alto, algumas pessoas olharam.
- O moleque é meu filho? – Raul foi
direto, mesmo com todo veneno que o amigo tinha lhe dado ainda tinha a
semente da dúvida. Afinal viveu com Alicia muitos anos ele e eles nunca
se preveniram, até porque ele tinha sérios problemas para engravidar, e
antes do Walter, Raul tinha certeza que a mulher nunca o traiu.
- Não sei o que você está falando. – Alicia ficou pálida, desviando o olhar do homem.
- Não se faça de desentendida galega. -
Raul levantou um pouco a camisa, Alicia percebeu que ele estava armado.
Olhou ao redor.
- Vamos lá para fora.
Os dois saíram do estabelecimento.
- O que você quer Raul. Não sei do que esta falando.
-Você sabe sim sua cadela – Raul pegou
Alicia bruscamente. – você tava prenha quando fugiu quero saber se esse
menino é ou não meu filho.
- Eu realmente estava grávida mais quando soube eu o abortei. – mentiu.
Raul lhe deu uma bofetada.
- Pensa que vim de tão longe para brincar. – gritou o homem furioso. – ele está vivo e não minta para mim.
- Você tem razão ele está vivo, mais ele
não é seu filho – Alicia queria sustentar a mentira sabia que a vida de
Vinicius estava em jogo. – você sabe muito bem que não faz menino. –
deu um tapa sem mão em Raul. Que sentiu o impacto dessa afirmação. Muito
sofrera com essa impossibilidade de engravidar alguém. Ele que sempre
foi obcecado pela idéia de ter um herdeiro.
- Olha aqui sua vadia. – Raul sentia
raiva e desespero ao mesmo tempo, aproximou-se da mulher com a intenção
de machucá-la, Beto chegou a tempo de evitar que o amigo fizesse
besteira, não pela Alicia mais porque tinha muitas pessoas olhando.
- Vamos embora daqui. – puxou o amigo, ao ver uma viatura da polícia. – tem cana na área.
Alicia ficou muito assustada, uma
senhora lhe ajudou a levando para sua casa até ela se acalmar. Ela tinha
medo de voltar para casa e ser seguida pelo ex - amante. Precisa
proteger seu filho da ameaça que surgiu. Enquanto bebia um pouco de água
lembrou-se do olhar de ódio daquele homem que um dia amou, sua cabeça
começou a girar.
- Ele não é tão idiota assim! – falou –
Óbvio que ele sabe onde estou morando. Meu Deus! – levantou-se da
cadeira e saiu correndo, mal agradeceu a mulher. Estava aflita, correu
até em casa, as lágrimas já invadia seu rosto.
Viu o carro estacionado na frente da casa da sua avó, Beto estava em pé encostado.
- Perdeu vadia! – disse o homem.
Entrou apressada casa adentro, ali estava Raul estava sentado no sofá com o menino no colo que dormia tranqüilo. .
- Minha filha seu amigo... – dona Marli não teve tempo de terminar a frase.
- Me devolva meu filho. – gritou Alicia puxando o menino dos braços do pai, Vinicius acordou assustado e começou a chorar.
Raul se levantou esquivando do contato de Alicia.
- Só um verdadeiro Ramos tem isso aqui. –
Raul mostrou orgulhoso um sinal de nascença que seu filho possuía no
braço esquerdo idêntico ao que ele tinha, e seu falecido pai também.
Outra coisa que não podia negar, Alicia era uma loira legítima, assim
como sua família descendente de alemão, o menino puxou a pele do pai,
nascera moreno, embora pequeno já fosse notável os traços semelhante com
Raul. Que parecia um bobo olhando para o pequeno.
- Devolve meu filho. – Alicia já
chorava. Dona Marli ainda não conseguia entender aquela situação, Raul
se apresentou como um amigo da neta parecia tão simpático que agiu de
boa fé o convidando para entrar.
- Como pôde escondê-lo de mim. – falou
com a voz embargada, seu coração explodia de alegria, não tinha dúvida
alguma que aquele pequeno era sangue do seu sangue, na verdade nunca
teve.
- Ele não é seu filho. – insistia na mentira, Vinicius continuava a chorar.
- Não minta. – ordenou encarando os olhos aflitos da mulher.
- Me dá ele, não ver que ele está chorando. – implorava.
Raul olhava para o rostinho do
filho que berrava. A grande custo entregou-o a mãe que a pega-lo
acalentou nos seus braços.
- Chora não filho... - Alicia tentava
acalmar o menino, Raul andava atrás dela como uma sobra, observando cada
gesto da lourinha.
- Meu guri! Meu guri! – repetia chorando emocionado.
Meia hora depois o menino voltou a
dormi Alicia o deixou no seu berço, pediu a avó para ficar com ele,
tinha medo do pai roubá-lo, teria uma conversa definitiva com Raul.
No início ela até tentou negar, no auge do seu desespero sugeriu que o homem fizesse um DNA, queria ganhar tempo.
Um mês depois, Raul recebe um
telefonema da clínica onde tinha feito o exame, um dos enfermeiros era
conhecido seu, deu a notícia que o homem mais espera, ele era pai do
garoto.
- Positivo. – afirmou o homem do laboratório – a mulher mentiu quando disse que não era teu. O moleque é teu filho mesmo.
- Eu sou pai! – gritava o homem eufórico.
Raul não podia acreditar, sabia da
dificuldade que tinha para engravidar uma mulher, herança passada
geneticamente por seu pai. Diante de sua obsessão por família não pensou
duas vezes foi ao encontro de Alicia, nada mais importava. Ele só
queria prolongar aquela sensação de alegria. Agora teria uma família de
verdade. Alicia desde o início negava que o filho fosse dele, sabia como
o garoto seria criado se estivesse no mesmo ambiente que o pai, apesar
de ser um pai amoroso ele não deixava de ser um criminoso e cada dia
pior. Lembrou-se do quando Raul foi doutrinado pelo pai, queria dá a
mesma criação para o filho. Vinicius merecia mais que isso, o exame de
DNA acabaria com a farsa. Não queria que o garoto tivesse o mesmo
destino do pai, teve a idéia então de escondê-lo. Levando-o para bem
longe, mantinha segredo de seu paradeiro. Não foi nada fácil, primeiro
teve que despistar a vigilância do homem. Estava tudo esquematizado,
contou a verdade para avó só assim ela poderia lhe ajudar, dona Marli
ficou decepcionada pelo envolvimento da neta com pessoas errada. Embora
chateada não pudesse deixá-la não mão, amava assim como seu bisneto,
jurou criá-lo.
- Podemos ir para mandacaru. – sugeriu a velha. – irmã Maria mora lá.
- É vó! Perfeito. Mas eu não poderei ir.
– disse com tristeza na voz. – se eu for ele vai me encontrar. Ele
sempre me encontrar.
- Podemos enfrentá-lo filha.
Alicia riu da ingenuidade da avó.
- Raul é um homem poderoso, conhece muita gente ele me acha, quero a senhora e o Vinicius em segurança.
- E você filha? É seu filho.
- Ele é a única coisa boa na minha vida vó, é por ele que faço, vocês estando bem eu fico bem.
Elas não tinham muito tempo. Dona
Marli entrou em contato com sua irmã que morava no município de Gravatá
num interior chamado Mandacaru, a senhora viajou primeiro, uma vez
estalada, comunicou a neta. Raul estava tão eufórico com o herdeiro que
não deu por falta da velha, na semana que antecedia o resultado do
exame, Alicia fingiu que ia levar o menino numa consulta de rotina, um
dos seguranças de Raul não viu mal algum a mulher só carregava uma bolsa
de criança. Alicia na verdade foi embora levando o filho para longe.
Com dor no coração mais uma vez deixou o filho e a avó. Abrindo mão do
bem mais precioso da sua vida, para protegê-lo.
Raul se revoltou ao saber o que a
loirinha havia feito espancou a mulher o quanto pode. Seu desespero era
tamanho, Alicia sabia que apesar de tudo a única coisa que ele queria
era ter uma família de verdade. Com o tempo acabou o convencendo que
seria o melhor pra o pequeno. Mas três anos se passaram e mesmo sofrendo
ameaças e muita pressão, Alicia nunca contou o verdadeiro paradeiro do
garoto. Raul se sentia frustrado. Primeiro por seu pai não ter conhecido
seu neto, segundo, por que apesar de ter um esquadrão de capangas a sua
volta, muito dinheiro, muitas mulheres, porém se sentia incompleto.
Beto, como fiel escudeiro de
Raul, tinha ordens de encontrar o garoto a todo custo. Avisou alguns
contatos que assim que tivesse a localização de dona Marli e Vinicius
entrasse em contato com ele. Beto tinha outros planos tinha um ódio
mortal por Alicia, queria encontrar a criança não para entregar ao chefe
e sim para matá-lo. Queria causar dor aquela mulher. Beto escondia um
grande segredo que Alicia descobriu, por trás daquela pose de machão
existiu uma bela donzela. O homem sempre foi apaixonado pelo melhor
amigo, no meio homofobico em que vivia nunca saiu do armário. Alicia
descobriu a sexualidade do homem e debochou, embora nunca tenha contado
para o amante, mais sempre tirava aproveito dessa informação.
Alimentando dia a dia a raiva de Beto.
Mesmo diante de tantas pessoas
lhe vigiando depois que Alicia voltou a viver com Raul, ela nunca deu um
passo em falso sua única prioridade a segurança do filho. Dona Marli
cuidava do menino junto com outra moça já que ela era uma senhora de
idade, Alicia não tinha nenhum tipo de contato com elas. Apenas lhe
mandava uma quantia em dinheiro todos os meses, o tempo em que viveu com
o amante aprendeu algumas coisas. Variava sempre de conta, para não ser
rastreada. Mesmo com o coração em pedaços, Alicia evitava ver o filho, o
garoto crescia, sabia da existência da mãe, mas era como se ela fosse
um fantasma ou um anjo, sempre o vigiando de longe.
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