domingo, 18 de novembro de 2012

Por Amor VIII


Minutos depois ele voltou tinha uma sacola plástica nas mãos abriu a porta de trás e jogou em cima de Alicia. Tratava-se de medicamentos e coisas para primeiro socorros. Voltou a um grupo de homens, conversaram por alguns minutos, depois Raul voltou ao carro sozinho, ordenou que ela passasse para o banco da frente. Ele tinha um sorriso na face, parecia pensar em alguma coisa, ora e outra olhava para Alicia e balançava a cabeça rindo em sinal de negação. Ela olhava atentamente as placas adiante tentando descobrir para onde ele estava lhe levando, a viagem era longa. Logo ela reconheceu um lugar, Surubim. Muitas vezes tinha ido aquela cidade assistir a vaquejada que acontecia lá.

   - Raul... – Alicia tentou falar alguma coisa.

        Ele parecia não querer escutar a voz dela, logo ligou o som do carro alto, olhava fixamente para estrada, agora haviam entrado numa estrada de terra. Raul parecia se divertir por dentro, era óbvio os questionamentos da mulher ao seu lado.

   - Você vai ter uma ótima surpresinha sua cadela. – pensou.

          A estrada que ele tinha tomado era distante da cidade, muito distante à medida que prosseguia, a única paisagem que ela podia apreciar era o da terra seca, sem mata e os gados quase esqueléticos. Foram 30 minutos, até que ao longe ela avistou uma casa. O carro parou em frente, Raul estacionou o carro e saiu, deu a volta no automóvel e abriu a porta ordenou que a loirinha saísse. Alicia estava muito abatida, havia perdido muito peso, estava cheia de hematomas. Saiu do carro com muito medo, Raul segurou seu braço com força e foi guiando-a até o velho casebre. A loirinha olhava para os lados, ainda tentando reconhecer, caminharam cerca de 150 metros, Alicia conseguiu avistar um homem na porta, Raul cumprimentou ele abriu a porta para que o chefe entrasse, os dois entraram na casa. Lobo logo se aproximou.

   - Patrão!
   - Como está as coisas? – perguntou soltando Alicia que esfregava o braço que estava doendo. Ela o acompanhou ambos pararam na porta.
   - Nada bem! – informou.
Raul franziu o cenho.
   - Toma. – estendeu a mão com as chaves do carro – tem uns remédios esta no bando de trás.
Raul entrou na casa, Alicia ficou parada da porta.
   - Vem cá. – puxou o homem para dentro.  

        Outro homem se aproximou, cumprimentou o patrão logo Raul ordenou que saísse. Lobo entrou com a sacola de medicamento.
Um frio percorreu a espinha de Alicia, agora sabia onde esta. Raul tinha a levado até o cativeiro de Larissa, seu coração ficou apertado, sua mente fervilhava, ali em algum lugar estava naquele lugar pensou no pior.
   - Desculpa minha intromissão chefe, mas, o senhor não acha melhor ela dar uma olhada na vadia? – apontou para Alicia. – ela parece uma morta.
Raul respirou fundo, Alicia olhou atônita para os dois homens.
   - Me deixe sozinho. – ordenou o homem.

           Lobo e o outro capanga saíram do casebre. Raul sentou-se no sofá. Alicia permanecia em pé parada, não sabia o que fazer milhões de coisas passava por sua mente. Olhou ao redor, a casa era pequena, pouco habitável, notou que nos fundo um pequeno corredor, seu desejo era correr atrás de Larissa. Mas seu lado racional manda ficar no mesmo lugar que estava. Raul acendeu o cigarro. Sua voz saia forte e vibrante.

- Você sabe que tem sorte por estar viva não é? Já poderia ter me livrado de você desde o primeiro instante.  – suas palavras saiam pausadamente – Mas não galega, vou te dá um castigo bem mais. – fez silêncio, procurou os olhos da mulher, depois abriu um sorriso macabro – mais... Vou ser bem generoso com você Ruth, para depois você não dizer por ai que não sou um bom homem. Você vai assistir a morte daquela vadia. – ele se levantou e ficou frente a frente com ela – E não pense em tentar nada ou seu filhinho vai sofrer as conseqüências. Seu castigo vai ser ter que conviver com isso.

          O coração de Alicia disparou. Sentiu todo o sangue congelar em seu corpo. Suas pernas tremiam, não acreditava no que havia acabado de ouvir. Um misto de ódio e medo possuía seu corpo.

   -Não envolva o Vinicius nisso. – sua voz era meio chorosa.
   -Você achou que eu nunca iria encontrá-lo? – Raul sentou-se, mantinha um sorriso de pura vaidade no rosto – Eu sou o rei.
   - Você me prometeu que nunca cometeria nenhuma loucura com ele, que o deixaria fora de tudo isso. Ele é seu filho Raul... Seu filho. – argumentou desesperada se ajoelhando nos pés do homem.
   - Agora você lembrou que eu sou pai! – deu uma gargalhada - eu não tenho por esse garoto nenhum sentimento, você o tirou de mim, ele não passa de um desconhecido por culpa sua. – tinha rancor na voz.
   - Você é capaz de matar seu próprio sangue...

          Raul se levantou, levantou Alicia bruscamente, deu a volta entre seu corpo, colocou a boca em seu ouvido e sussurrou.

   - Vou, matar aquela vagabunda, e se você me fizer raiva, mato o menino. E te deixo viva para viver com a consciência pesada.

         Raul voltou a ficar de frente para a loirinha, os olhos se encaravam, Alicia já não duvidava de nada, sabia que Raul seria sim capaz de matar o próprio filho. Estava disposta a ajudar Larissa, mas pensaria mil vezes antes de tomar uma atitude, por a segurança do filho a prova era um risco que ela não queria correr. 

   - Olha aqui! – Raul jogou uma sacola cheia de remédios, não queria a morte da promotora, não agora, ainda tinham que pegar seu pai, os planos tinham se interrompido com a polícia federal envolvida os pais de Larissa estavam sobre guarda. – Lobo – gritou.
   - Oi.
   – Ela vai ficar por aqui. – informou – de olho nela. Se fizer qualquer gracinha meta chumbo. – ordenou Raul. – a coloque para alimentar a outra.

          Raul voltou a Recife, tinha negócios a tratar, um de seus capangas tinha sido preso, uma câmera de segurança identificou um suspeito do seqüestro. Raul já tinha expressado ordem para apagar Marcão antes que ele falasse algo. As coisas estavam se complicando.
   
 Larissa estava deitada no colchão, sua mente estava longe, uma semana se passou e ela nem se deu conta, sem ver a luz do sol, nem o brilho da estrela, já tinha se perdido no tempo. Ora ou outra ela via uma luz, a luz que vinha do outro ambiente onde era brutalmente torturada. Seu corpo não sentia dor alguma, sua alma estava anestesiada, já não tinha esperança de sair viva daquele lugar. Os ratos tornaram-se amigos. Presa naquela imundice buscava desesperadamente algumas lembranças boas de sua vida, em intuito de aliviar seu sofrimento. Abraçada ao seu próprio corpo, já não tinha mais lágrimas. Pensou em sua família, no quanto tinha tido uma vida feliz ao lado de pessoas queridas, lembrou-se da mulher que realmente amou. Como a amava, um amor que ela acha que só existisse nos romances dos antigos livros de literatura, nunca imaginou que pudesse ou soubesse amar como todo seu ser. Amava Ruth, e tudo que mais queria era que estivesse bem. Aos poucos boas lembranças foram surgindo. Suplicava a Deus em suas orações para que protegesse a todos que amava, pois sua vida já não importava.
          Uma discussão havia começado no outro lado. Lobo queria que Alice fosse ver se a promotora estava morta ou vida. Da última vez que tinha visto ela não estava nada bem, a idéia de rasga a barriga de Larissa escrevendo as iniciais do nome do patrão não tinha dado muito certo. O ferimento tinha se infeccionado. Alicia relutava não por desejo de saber como estava à amada, mais um medo estarrecedor a impedia.
          Um fecho de luz entrou no quarto, à claridade lhe incomodava, tanto tempo no escuro. Ela elevou a mão até seu rosto no intuito de proteger seus olhos, pode ver uma resta entrando no quarto. Um perfume embriagador se destacou no meio daquele odor desagradável. Larissa sentiu um cheiro de perfume doce, um ato involuntário inspirou forte para senti aquele cheiro. Seus olhos foram se acostumando, Larissa abriu os olhos, a silhueta era visivelmente de uma mulher, a cativa tentou sentar-se com certa dificuldade, sua barriga doía muito.
        A imagem que a outra pessoa via era dolorosa demais, principalmente quando se conhecia a vítima. Estava suja, seus cabelos cortado, seu rosto machucado, havia sinal de desnutrição, em sua barriga havia manchas de sangue em sua camiseta, ainda estava vestida com a roupa de ginástica. Estava descalça, a cabeça dos seus dedos dos pés estava com sangue seco, como se tivessem arrancado às unhas. Alicia quase caiu para trás com a cena, seu estômago deu uma reviravolta, ela virou-se o rosto, saindo dali imediatamente. A cativa viu a escuridão mais uma vez. Naquele momento Larissa não pensava em nada, estava faminta, a única coisa que queria era um pouco de água e comida. Nunca desejou tanto a presença de Lobo no quarto, ao menos ele trazia comida. Alicia fechou a porta atrás de si, correu até o outro quarto, caiu no choro, era demais para ela, nunca havia sentido tanta dor em seu coração. As horas passaram, ela estava lá deitada na cama, perdida em seus arrependimentos. Lobo entrou no quarto, tinha uma bandeja nas mãos.

Leva pra vadia. – ordenou.
   Alicia não esboçou reação continuou deitada da cama.
   - Vai logo galega, ordens são ordens. A vagaba ta por sua conta agora.
   - Vai você.
   - Olha aqui!- se irritou – ou você leva ou eu ligo para o chefe.

          Alicia não tinha escolha, criou força para entrar ali novamente, engoliu o choro, colocou um capuz na cabeça, não queria ser reconhecida, entrou vagarosamente, olhou ao redor, se entristeceu ainda mais, um aperto no peito. Seu coração disparou seus olhos a avistaram Larissa estava deitada no colchão, seu olhar estava perdido parecia que não tinha notado a presença da mulher ali. Alicia caminhou em silêncio. Ela não conseguia ter domínio de suas pernas que tremiam involuntariamente, a promotora agora tinha percebido sentou-se, seu olhar era de um animal faminto, sua vista estava focalizada na bandeja adiante, Alicia se agachou.

   - Trouxe comida! – falou a lourinha quase inaudível.

          Larissa não ouviu estendeu a mão para pegar a bandeja, por segundos suas mãos se tocaram, Alicia estava com o pulso posicionado para cima.
Larissa sentiu uma batida tão forte no coração que pensou que fosse ter um ataque cardíaco. Seus olhos avistaram um desenho. Num ato involuntário ela jogou a bandeja do lado e segurou com força o pulso de Alicia, que se assustou.
  
   - Me solta! – gritou. 

O coração em disparada, milhões de lembranças povoaram sua mente.

- Não podia ser. – não pode ser! – disse para si mesmo a morena. A vida não seria tão injusta com ela. Ela se fixou naquele desenho tatuado no pulso da mulher. Uma lembrança clara.

   - O que é isso? – perguntou à morena no primeiro encontro com Alicia.

          Alicia sorriu, já esperava pela pergunta, normalmente a pessoa sempre perguntava o significado daquela tatuagem que representava tanto para ela.

   - O terceiro olho, mais conhecido olho de Hórus ou 'Udyat' é um símbolo, proveniente do Egito Antigo, que significa proteção e poder, relacionado à divindade Hórus. – pausou dando um sorriso. Larissa vislumbrou - Era um dos mais poderosos e mais usados amuletos no Egito em todas as épocas. Gosto muito das lendas egípcias – explicava Alicia - Segundo uma lenda, o olho esquerdo de Hórus simbolizava a Lua e o direito, o Sol. Durante a luta, o deus Set arrancou o olho esquerdo de Hórus, o qual foi substituído por este amuleto, que não lhe dava visão total, colocando então também uma serpente sobre sua cabeça. Depois da sua recuperação, Hórus pôde organizar novos combates que o levaram à Maria Luiza decisiva sobre Set. Era a união do olho humano com a vista do falcão, animal associado ao deus Hórus. Era usado, em vida, para afugentar o mau-olhado e, após a morte, contra o infortúnio do Além. – fez um gesto como se quisesse fazer medo. - Hoje em dia, o Olho de Hórus adquiriu também outro significado e é usado para evitar o mal e espantar inveja (mau-olhado), mas continua com a idéia de trazer proteção, vigor e saúde.
   - Hum interessante, não sabia que você era uma apreciadora de lendas egípcias. – brincou Larissa.

      Essa lembrança foi dando sentindo a Larissa que parecia que uma luz tinha surgido no meio daquela escuridão. Ela foi levantando o olhar, jogando os ombros para trás, tudo fazia sentido. A promotora começou a raciocinar, tocou o braço da mulher, sentiu a pele macia, aquele perfume, como esquecer... Sua mente fervilhava.

   - Estive em uma palestra ministrada por você.  – disse a lourinha um tanto nervosa, lembrou-se da primeira vez que viu Alicia.
    
      Naquele dia Larissa olhou fixamente para mulher, sentiu-se envergonhada como não lembrar de uma mulher tão bonita, pela primeira vez sua memória fotográfica lhe falhou, foi o que a morena pensou na época. Como lembrar de um rosto se nunca o viu até aquele presente momento.

   - Não existe nenhuma Ruth Lima. – a recepcionista da faculdade.

        Sua mente parecia um computador trabalhando, juntando todos os dados que antes parecia indiferentes, a conclusão que chegou ia contra seu consciente. Seu corpo desfaleceu uma tristeza devastadora lhe tomou o corpo, seus olhos procuraram à facada final. E encontrou. Aqueles olhos castanhos apagados nunca esquecerá ele um só minuto desde que entrou em sua vida, Larissa baixou a cabeça deixando as lágrimas vim. O silêncio pesado doía ainda mais. Podia sentir a mão dela tremula ainda pegada na sua

    - Você... – a morena forçava as palavras.

     Alicia não agüentou, arrancou a máscara do rosto abraçando a morena, indescritível o que se passava dentro dela, ela também chorava. Suas palavras eram desconexas.

   - Me perdoa, me perdoa – implorava – O que eu fiz foi por amor... – as palavras saiam sem nexo. Sussurrava um pedido de perdão no ouvido de Larissa. Buscava seus lábios, a promotora correspondeu às investidas também em um ato involuntário. Logo seu raciocínio lógico voltou a agir e com a pouca força que tinha, empurrou a mulher fazendo com que ela caísse a sua frente.

           Larissa se esquivava indo mais para trás, parecia ainda não acreditar no que estava acontecendo, Alicia forçava uma aproximação.

   - Larissa... – tentou falar.
   - Sai daqui! – Larissa não queria ouvir – encostou-se à parede e se abraçou as próprias pernas, abaixando a cabeça, aquilo estava lhe doendo demais. 

            Alicia já não se controlava, tentava abraça a morena a todo custo pedindo perdão.
   - Sai daqui... – sussurrava.

           Alicia se afastou quando percebeu que estava piorando a situação. Já não encontrou aquele olhar apaixonado da mulher que amava. Agora um olhar de dor.
 
    - Sai daqui... – gritou aos prantos.
 
           Mesmo contra vontade Alicia saiu, embora estivesse sofrendo também, não podia imaginar a dor que acabou de causar a Larissa. Saiu do quarto a deixando sozinha.

   - Por quê?

          Larissa sentiu aquela dor em silêncio, chorou copiosamente. Sua mente buscava um motivo, até se derrubada pelo sono. Na manhã seguinte, não era pesadelo ao abri os olhos deparou que Alicia lhe observando. Ao cruzar com aqueles olhos, uma raiva lhe subiu, respirou fundo tentou se controlar. Com dificuldade levantou-se e sentou-se se encostando à parede, seu estômago dava reviravolta. Alicia tinha a cabeça baixa, estava muito pálida, mantinha o olhar fixo no chão. Sua voz saia tremula.

   - Trouxa comida, lençóis limpos...
Larissa permanecia calada, olhando fixamente para a mulher adiante.
   - Me perdoa... – Alicia levantou o rosto, os olhares se cruzaram, Larissa permanecia séria. Parecia estudar seu oponente.  – Eu... – foi interrompida.
   - Galega! – gritou o homem.
Larissa a olhou para porta.
   - Eu... – Alicia não conseguia se explicar diante daquele olhar.
   - Galega! – gritou mais uma vez abrindo a porta – o chefe quer falar com você. – Lobo mostrou o celular. Larissa balançou a cabeça em sinal de negação, como tivesse compreendido tudo. Antes que a lourinha atravessasse a porta à morena falou.
   - Vou colocar você e seus cúmplices na cadeia, eu juro.



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