quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Por Amor III


O encontro

        Raul resolveu dar o máximo de confiança a Alicia. Sabia do que loirinha era capaz, para deixá-la mais próxima da promotora, comprou um apartamento no mesmo bairro que ela morava, Alicia passou a correr no calçadão no mesmo horário em que Larissa e por mais uma coincidência provocada, as duas acabaram se esbarrando.
    - Desculpe!
  - Desculpe! – falaram ao mesmo tempo. 
   - Eu estava distraída. – a promotora sorriu meio sem jeito tirando os fones de ouvido. – Me desculpe.
   - Tudo bem... – Alicia a encarou – Acho que te conheço? – Larissa deu um sorriso amarelo – Você foi palestrante de um congresso de Direito Penal em que fui. No mar hotel. – arriscou-se.
   - Ah, você é estudante de direito?
   - Sim... – Alicia falou meio confusa. Usou o fato da Suelén para seu benefício.
   - Desculpe não me recordo de ter visto você.
   - Tudo bem... Diante de tantas pessoas presentes se lembrar de um único rosto realmente seria pedi demais, mas estive na palestra – Alicia parecia meio confusa, apesar de saber exatamente o que fazer, ficou meio apavorada, sabia que os olhos atentos de Raul e seus capangas a vigiava, ela não podia falhar.
         Percebeu que a promotora estava se desvinculando da conversa, ofereceu sua companhia na corrida pelo calçadão. As duas logo iniciaram uma conversa amistosa, Alicia falava de sua vida, dizia ter se mudado apenas para poder estudar. Morava ali perto e não conhecia muitas pessoas na cidade. A promotora ouvia atentamente, não pode deixar de observar o semblante calmo, a fisionomia delicada da garota de pele branca, cabelos loiros comprido, corpo de tirar o fôlego. Não aparentava mais que 25 anos, os olhos castanhos um pouco apagados, um sorriso gracioso. Alicia percebia o olhar indiscreto de Larissa percorrer seu corpo. Depois da caminhada, as duas tomaram uma água de côco.
    - Nossa já passou da minha hora, preciso ir. – falou Larissa observando as horas no relógio em seu pulso esquerdo.
   - Eu também preciso ir, mas foi bom falar com você. – Alicia levantou-se caminhando em direção a lata de lixo para jogar o côco vazio. – Espero poder te fazer companhia outras vezes. – deu um sorriso amarelo.
   - Seria bom... – ficaram em silêncio por alguns minutos – Foi um prazer! – Larissa estendeu a mão para cumprimentar a garota – O meu nome é Larissa. – Alicia ficou um pouco pensativa antes de dizer seu nome.
   - O meu é Ruth!

        Depois de se conhecerem formalmente ambas voltaram para seus apartamentos, não moravam muito distantes, apenas três quadras as separavam. Em quanto à morena se refrescava tomando um banho frio, Alicia passava o relatório completo de toda sua conversa com promotora. Raul ouvia atentamente cada palavra.
    - É, me pareceu um progresso. Não muita coisa. – sentou-se na beira da cama, o apartamento estava completamente mobilhado, era simples, mas jeitoso, apesar de ser um homem violento e grosseiro, Raul tinha bom gosto.
   - É só o começo. – Alicia se aproximou – Vou te ajudar a acabar com essa vadia e depois disso, você vai me dá o que combinamos... – sentou-se no colo do homem, esbanjando sensualidade – Vai me respeitar como sua mulher. – sussurrou no ouvindo do homem que já deslizava as mãos pela cintura da loirinha, era impossível resistir ao charme e encanto daquela mulher. Apesar de uma aparência doce, trazia certa amargura no olhar. Os dois acabaram passando a noite juntos, Raul foi embora logo cedo.
         Alguns dias se passaram depois daquele encontro. Alicia ia sempre ao calçadão no mesmo horário, na esperança de encontrá-la. Os encontros apesar de parecerem casuais eram constantes, Larissa já simpatizava com a garota, as duas conversavam sobre todo tipo de assunto. Alicia apesar de ter apenas terminado o segundo grau parecia bem antenada nos assuntos do cotidiano. Mas sempre que Larissa lhe fazia uma pergunta específica sobre o curso que a jovem dizia fazer, ela desconversava, com a desculpa de que estaria atrasada para alguma coisa, ou inventava outra desculpa qualquer. Para não correr o risco de ser descoberta, Raul a matriculou numa faculdade de direito, embora ela fosse as aulas só fazer a linha de universitária.
       Depois de muito tempo aguardando à hora certa chega. Alicia resolveu convidar Larissa para jantar, a morena tentou resistir. Houve muita insistência de loirinha e a promotora cedeu. Sentia-se um pouco insegura, pois fazia algum tempo que tinha terminado seu namoro com André, os dois tiveram um relacionamento longo, cerca de dois anos. Ele conseguiu conquistar Larissa aos poucos, o problema foi quando insistiu em dar um passo à diante. Queria se casar, mas Larissa não partilhava do mesmo desejo, por mais que gostasse do rapaz não o amava, ele sabia disso. Larissa acabou percebendo que sua sexualidade havia mudado realmente. Depois do rompimento acabou se envolvendo com uma médica amiga de Luiza. O relacionamento decolou até a morena descobrir uma traição de sua namorada. Grande foi sua decepção, já que se via realmente apaixonada pela garota. Depois disso decidiu passar um tempo sozinha, não queria se envolver com ninguém. Até que por ironia do destino apareceu àquela aluna que de forma encantadora estava conseguindo lhe conquistar.

      Os encontros com Ruth era muito ansiado pela promotora, já havia confidenciado a amiga Luiza, que de fato aquela jovem lhe traia, não parava de pensar nela. Mas tinha medo de voltar a sofrer. Queria ir com calma. Mas não tinha como resistir, aceitou o convite do jantar.
       Alicia sabia bem o que queria, vestiu uma roupa provocante. Um vestido vermelho, muitos discretos não queria se mostrar vulgar. Soltou os cabelos, maquiou-se levemente. Esta belíssima. A morena caprichou no visual, sentia-se uma adolescente, vestiu um vestido preto que ficou perfeito em seu corpo, os anos para Larissa lhe deixaram ainda mais bela, a pele morena bronzeada, os cabelos, extremamente lisos, sempre curtos, num corte moderno, estava linda. Pegou a chave do carro e foi buscar a mulher que vinha mexendo com seus sentidos.
       Ao ver Larissa Alicia disfarçou o espanto, a mulher estava belíssima. Seus elogios foram sinceros, assim como os de Larissa em cima da loirinha. As duas foram jantar em um dos restaurantes que Larissa adorava, a noite foi bastante agradável. Mesmo não prestando atenção nas aulas, Alicia já conseguia falar um pouco mais sobre os assuntos que Larissa debatia, referente ao curso de direito. Depois de algumas taças de vinho, os olhares começaram a ficar mais sinuosos, Alicia parecia ter criado uma coragem que lhe faltava, começou a acariciar Larissa de uma forma carinhosa, lançava-lhe olhares sedutores.
    - Você está tão linda, ou melhor, você é uma mulher muito bonita. – disse em quanto pousava a mão na coxa da morena.
   - E você bem direta! – Larissa deixou um sorriso amarelo escapar no canto dos lábios
       Alicia sorriu de forma ainda mais sedutora, finalmente conseguiu o que queria. Seguiram para seu apartamento.
    - Você quer beber mais alguma coisa, tenho vinho, cerveja...
   - Melhor não, eu ainda vou dirigir. – Larissa sentou-se no sofá menor que ficava de frente para o maior.
   - E você acha que vai conseguir sair daqui ainda hoje? – Alicia sentou-se ao seu lado, deslizando os dedos pelo ombro da morena que sentiu os pêlos do corpo todo arrepiar.
        A loirinha tentava de tudo para seduzir a promotora, que já não tentava fugir das carícias oferecidas. Alicia por dentro sentia-se em revolução. Buscou aqueles olhos tão embriagantes, deslizou os lábios pela pele macia e frágil da morena, podia sentir o perfume delicado inebriar seus pensamentos. A loira, procurou não pensar em seus problemas, se ia mesmo fazer aquilo iria fazer direito, nunca antes havia feito sexo com uma mulher, mas podia imaginar o que teria que fazer.
    O beijo já as deixava sem ar...
    - Vem pro quarto... Vem...  – Alicia tentava carregar Larissa para o quarto, a morena tentava resistir.
   - Ruth... Melhor não... Ainda não...
   - Eu quero você... Agora... Vem... – toda a força de vontade de Larissa foi ao chão. Depois de ouvir o sussurro de Ruth queima-lhe o ouvido, foi se deixando guiar até o quarto.
        A loirinha tentava não perder o contato entre os lábios, as mãos que já percorriam todo o corpo. Ambas se despiram de forma rápida. Alicia estava por cima, beijando, acariciando seus seios, a morena abriu as pernas e pode sentir o contanto dos sexos um roçando no outro, gemeu baixinho no ouvido da lourinha. Pedia para que a tocasse, a loirinha apenas seguiu seus instintos. Deslizou a ponta dos dedos pela lateral do corpo da morena, passando por sua virilha e por fim, chegando ao seu sexo. Sentiu a umidade resultante de todo aquele contato, acariciava ainda mais arrancando suspiros e gemidos de Larissa. Introduziu um dos dedos a morena que pedia por mais... Alicia acelerava o ritmo de acordo com o que lhe era pedido ou quase ordenado. Larissa mordiscava o lábio inferior da loirinha. Arranhava suas costas. Chupava sua língua e pedia sempre por mais, até que Ruth sentiu o corpo da morena tremer, um gemido abafado pelas bocas ainda unidas, sentiu o gozo de promotora escorrer por seus dedos, a respiração ainda ofegante, deitou-se ao lado dela que ainda se recuperava.
      - Minha vez... – Alicia ouviu um sussurro e antes de perguntar o que significava, sentiu a pele macia de Larissa roçar na sua, as mãos já percorriam cada centímetro.
   - O que é isso? – disse um pouco assustada sentindo os toques de Larissa.
   - Agora você é minha. – Larissa beijou a loirinha de forma sedutora, em quanto suas mãos acariciavam sua barriga. Deslizou os lábios pelo pescoço, colo até chegar aos seios, segurando com uma das mãos, passou a língua no biquinho rosado, Alicia sentiu o corpo estremecer, apesar de querer parecer inerte aquele contato, era impossível não sentir o calor que emanava dos lábios daquela mulher. Larissa a tocava com desejo. Sentia aquele corpo estremecer e isso a atiçava cada vez mais.      Os longos beijos abafavam os gemidos que Alicia produzia. Tentou até resistir, mas ao sentir os dedos da promotora lhe penetrado vagarosamente deixou-se levar pelo momento, rebolava a cintura sincronizando os movimentos, não demorou muito para que chegasse ao ápice, o gozo veio forte e arrebatador, Alicia sentiu algo diferente, uma energia tomando todo seu corpo.
 Antes de deitar-se ao lado da loirinha, Larissa deslizou os lábios pelo seu pescoço, acariciou a face branca e meio desfalecida da garota que ainda recuperava o fôlego, penetrando os olhos negros nos castanhos mórbidos, sorriu e a beijou, um beijo leve, calmo, doce. Deitou-se com o corpo praticamente colado ao dela, nada foi dito, apenas se aconchegaram e dormiram. 
       Já passava das 08h quando Larissa foi embora, despediu-se depois de convidar Ruth para um almoço, a loirinha aceitou satisfeita.
       Depois de vê-la sair de seu apartamento, sentou-se no sofá, levou as mãos ao rosto, como se parecesse cansada, a verdade é que tudo parecia ter acontecido muito rápido, ainda estava tentando entender o que havia acontecido na noite passada, seus pensamentos foi interrompido pelo toque do seu celular.
    - Pronto. – disse já sabendo de quem se tratava.
   - Eu estou indo ai. - a voz de Raul saia grave, parecia irritado.
   - Não, eu não quero você aqui. – falou num tom alto, o que irritou ainda mais o homem do outro lado da linha.
   - Como assim? – alterou o tom da voz
   - Me espera no bar do Biu. – fez uma pausa – confia em mim. – Raul não respondeu, desligou o telefone na cara de Alicia. Depois de uns 10 minutos de espera, a loirinha chegou ao bar que os dois costumavam freqüentar.
Sem ao menos cumprimentar a mulher, Raul já pedia explicações, queria saber o que tinha acontecido.
   - E então, o que houve, por que não me ligou?
   - Ela passou a noite lá em casa.
   - Disso já sei, quero saber os detalhes. – Alicia explicou tudo, dando detalhes da conversa, apesar de meio desconfiado acreditou na mulher.
   - Muito cuidado, os próximos passos serão decisivos para mim e para você.
   - Eu sei. É por isso que temos que chegar a um consenso, quando estiver com ela, não poderei ligar nem atender suas ligações.
   - Mas preciso saber de cada passo que vai dar com ela.
   - Eu sei Raul, coloque um de seus homens para nos seguir, mas um, que seja discreto, quando não estiver com ela. Entrarei em contato com você. Já lhe dei provas suficientes de que pode confiar em mim, não acha? – Raul se pôs pensativo apenas fez um sinal positivo com a cabeça, antes de Alicia ir embora ele se aproximou, fez um carinho em seu rosto e a puxou para um beijo.
   - Raul não pode ser tão indiscreto. – alertou a loirinha querendo se livras das carícias daquele homem.
   - Eu sei, mas é só para você não esquecer que ainda sou seu homem. – ficaram alguns minutos em silêncio – Ela fode gostoso? – o homem não teve nenhum pudor ao fazer essa pergunta, deixando Alicia envergonhada, a loirinha levantou-se rapidamente e foi embora sem olhar para trás.
        Os dias passaram tranqüilos, o plano de Raul funcionava perfeitamente, as duas já haviam se encontrado mais de três vezes.
    - O que foi? – indagou a morena diante do olhar desconfiado de Ruth.
   - Hoje já é a quarta ou a quinta vez que saímos... O que nós somos, ficantes? – Alicia parecia séria.
   - Isso é uma intimação? – indagou em tom de brincadeira.
   - Sim Dra. Larissa. Nas últimas semanas estamos sempre juntas, você me apresentou a alguns amigos seus. Bem fiquei na dúvida em que posição ocupo em sua vida.
   - Diante dos fatos apresentados, afirmo que estamos namorando. – a loirinha sorriu, tinha conseguido mais uma vez.
         As semanas passaram tranqüilas, as duas ficavam cada vez mais próximas. Alicia foi percebendo o quanto Larissa era carinhosa e presente em sua vida, às vezes chegava a ser um pouco ciumenta. Ciúme esse que gerava certas brigas que fazia pensar se tudo aquilo valeria a pena. Pensou em desistir, estava cansada, Raul com medo que a mulher desse para trás passou a ameaçá-la e para isso ele tinha um bom argumento.
    - Ótimo... Claro que sim, isso vai ser muito bom... – Alicia ouvia a voz entusiasmada de Raul ao telefone, enquanto saia do banheiro, caminhou até a cama redonda do motel barato em que costumava se encontrar com o amante.
   - O que foi? – estava curiosa.
   - Já está tudo pronto – afirmou com segurança – Vamos ao segundo passo.
   - Quer dizer que... – a mulher ainda processava as informações. 
   - Quer dizer que aquela vagabunda não perde por esperar. – sorriu.
   Alicia pode sentir o ódio que Raul transparecia em seu olhar e nas palavras, sentiu uma pontada no peito – Seja forte Alicia, seja forte! – pensou.
    - Vou te passar as coordenadas ainda essa semana, provavelmente vai acontecer na sexta. – Alicia ouvia atentamente tudo ele falava, tentou não expor sua aflição.
    Alicia sentia-se cada vez mais pressionada por Raul.
    - Quinta feira à noite, quando vocês estiverem saindo do restaurante, vou da um sinal, você vai saberá à hora certa de agir. – Raul repassava todo o plano com a amante.
   - Certo.
   - Cuidado para que ela não desconfie de nada, entendeu. – o homem pedia prudência, há muito tempo esperava por aquilo.
   - Eu sei. – depois de desligar o telefone, Alicia terminou de se arrumar para ir à faculdade.
        No caminhar pensava em como tinha chegado até ali, sempre pensou alto, desejou ter um futuro melhor. Dar um futuro melhor ao seu filho, e se envolvendo com Raul, achou que seus sonhos poderiam se realizar. Depois de algum tempo descobriu que o homem nada mais era que o herdeiro do imperador do tráfico. Um criminoso inescrupuloso como seu pai, aquilo a assustava, isso a fez tomar medidas extremas. Muita humilhação sofreu. Raul não era homem de uma mulher, apesar de sempre mostrar um interesse maior pela bela loirinha de olhos castanhos, ele não deixava de sair com outras. Alicia se via presa aquele mundo, já teria saído dele se pudesse, mas algo mais forte a afundava ali, proteger seu filho de um pai como aquele valeria tudo, ali era mais que dinheiro que estava em jogo era a liberdade.
      Já era quarta feira, ela havia passado a tarde toda no motel de sempre, acompanhada de Raul, repassando as últimas informações sobre o plano. Depois de toda a conversa os dois acabaram indo pra cama, já de noitinha Alicia acorda e vê várias ligações perdidas em seu celular.
    - Todas dela... Que mulher grudenta, affz. – dizia em voz baixa.
   - O que foi? – Raul despertava.
   - Essa mulher que não me deixa em paz, quer saber sempre onde estou, com quem estou, o que estou fazendo? Vivi desconfiada. – jogou o celular na mesinha ao lado da cama.
   - Você não vai ligar pra ela?
   - Agora não, estou sem paciência, te falei que estamos meio brigadas, ela é muito ciumenta. Ciúme de mulher é foda! Só porque foi traída, fica com essa paranóia.
   - Nem pense em por tudo a perder, não agora. Agüente a vagaba, logo, logo ela pagará por esse aborrecimento também.
   - Pode deixar. Eu já vou.
   - Me mantenha informado, ok?
   - Certo. – Alicia se vestiu pegou um táxi e foi para casa.
         Tinha inúmeros recados na secretaria eletrônica, todos de Larissa. A loirinha achou melhor retornar para evitar aborrecimento, ligou para seu celular pessoal, mas só dava caixa postal, ligou então para o escritório, a secretária informou que a mulher estava em uma reunião. Alicia ficou aliviada resolveu ir à aula. Com o tempo a mulher acabou pegando gosto pelos estudos jurídicos, não era das melhores alunas, mas se mostrava bastante atenta nos debates em sala de aula. No intervalo tentou ligar novamente para a promotora. E nada. No fim da aula tomou uma atitude inusitada queria ver a morena, ainda soava estranho mais passa um dia se vê-la causava sentimentos estranhos, decidiu ir a sua casa.
   - Oi. – Larissa abriu a porta e era evidente a tristeza que transbordava em seu olhar. Tinha tido um dia difícil, além da preocupação com o trabalho a morena estava meio adoentada.  
   - Oi, te liguei a noite toda, onde você estava? – disse Alicia dando um selinho na namorada.
   - Aqui. – Larissa estava de pijama e usava seus óculos de leitura, Alicia percebeu que a morena parecia estudar.
   - Eu posso entrar? – Larissa pareceu pensar um pouco antes de responder, até que fez um sinal positivo com a cabeça e deu espaço para que a loirinha entrasse. Antes mesmo que pudesse fechar a porta, sentiu dois braços lhe envolverem a cintura, Alicia a agarrou com força, fazendo com que ela batesse as costas na porta atrás dela.
   - O que é isso Ruth? – disse um pouco espantada com a brutalidade da namorada.
   - O nome disso é saudade. – a loirinha sussurrou em seu ouvido.
   - Por que... Você... Não me atendeu? Te liguei a tarde inteira... – Larissa tentava juntar as palavras e formular uma frase, mas qualquer raciocínio se tornava difícil quando sentia os lábios da loirinha tocar sua pele, não obteve resposta, sentiu apenas a língua da mulher invadir sua boca. Foi praticamente arrastada até seu quarto, as duas passaram novamente a noite juntas. A única saída que Alicia encontrou para não discutir com Larissa por causa de seu ciúme excessivo, foi assim, levando-a pra cama.
         A morena andava muito estressada em seu trabalho, sentia-se pressionada, as ameaças constantes que vinha sofrendo estavam lhe deixando assustada. Sem contar à insegurança que sentia em seu relacionamento. Ruth estava agindo de forma estranha nos últimos dias, o que deixava Larissa receosa. A morena realmente havia se apaixonado, aquela mulher tinha conseguido despertar sentimentos adormecidos na promotora. Sentia um ciúme fora do comum o que ia contra sua personalidade. Larissa era contra algumas atitudes de Ruth, a loirinha era sempre irônica e direta, mas também muito exibida, Larissa sentia que um mistério rodear, seu olhar muitas vezes pareciam vazio. Há dois dias tinham saído para jantar, comemoravam três meses de namoro. Larissa aguardava a chegada de Ruth no restaurante que sempre freqüentavam. Ao ver a loirinha entrando no restaurante sorriu, usava um vestido com um decote generoso e super colado no corpo, atravessou o salão arrancando suspiros e olhares sedutores dos homens que estava no ambiente. Deixando um rastro de perfume no ar, estava realmente super produzida. No meio do jantar Ruth recebeu uma ligação misteriosa, ficou muito nervosa, quando Larissa perguntou quem era, afirmou ser apenas uma amiga da faculdade, queria saber sobre o seminário que iriam apresentar na semana seguinte.
      Larissa tinha uma percepção aguçada, graças aos anos de carreira conhecia como alguém mentia. Pelo menos na maioria das vezes. Sabia que aquilo não passava de uma desculpa descabida. Principalmente diante no nervosismo diante de seu questionamento. Alicia ficou nervosa, seu tom de voz mudou, as palavras saiam sem segurança. A promotora exaltada exigia a verdade. A coisa que mais abominava era a mentira. Com a falta de argumentação da namorada tirou suas próprias conclusões avaliando o contexto regido pelo comportamento indiferente da namorada nas últimas semanas, o ciúme a cegou passou a fazer insinuações. Alicia para não perde a pose deu uma de ofendida, saindo do restaurante aos prantos. Larissa recriminou sua atitude, agiu como se tivesse interrogando um réu, por mais que tentasse o sentimento que sentia por Ruth aumentava assim como seu medo de perdê-la. O que muitas vezes fazia agir como uma adolescente insegura. Pagou a conta e tentou acompanhar a namorada.
Em casa a mulher mal falava. Fingia de magoada para aumentar o sentimento de culpa na morena.
      - Precisamos conversar Ruth. – Larissa falou em quanto se sentava na cama e apoiava as costas em um travesseiro.
   - Sobre?
   - Eu sinto as coisas diferentes de uns dias pra cá. – Alicia sentiu que a mulher estava triste, e que se não contornasse a situação, poderia por os planos em risco. 
   - Você anda muito pilhada com essas ameaças que vem sofrendo, e sem querer desconta tudo em mim. – fez uma carinha angelical, Larissa baixou a cabeça, tentando não encarar a loirinha, mas Alicia segurou seu queixo com força para que não perdessem o contato visual – Você precisa se acalmar, eu não sou sua inimiga, vamos parar de brigar por bobagem, quero ficar bem com você. – Larissa sorriu depois de ouvir as palavras de Ruth, voltou a beijá-la de forma carinhosa e doce.
     Três dias depois eram quase 19h, Larissa pega o telefone e liga para Ruth.
    - Oi linda, onde você esta? – a morena ouviu um grande barulho no fundo, imaginou logo a namorada poderia esta numa festa ao invés de ter ido à faculdade.
   - Estou na faculdade, o professor de direito civil não veio, estou com aula vaga. – explicou-se – Aqui está uma loucura, os meninos estão vendo o jogo do Sport, tá ouvindo o barulho amor? – Larissa não conseguia ouvir muito bem o que a mulher havia dito, pois realmente estava muito barulhento, antes de responder ouviu a loirinha dizer – Pensei em você vir me buscar.
   - Vou sim me dá 30 minutinhos que já chego ai.
   - Ótimo, quando chegar me dá um toque que te encontro na entrada.
         Larissa desligou o celular, não via à hora de estar novamente nos braços da loirinha. A morena andava meio apavorada, outrora pensou estar sendo seguida quando saia do fórum. Chegou ao Ministério Público muito assustada. Pediu ao segurança para levá-la até em casa. Foi tomar um banho rápido, queria encontrar-se logo com Ruth. Vestiu um jeans básico e uma camiseta estilo nadador. A algo bem casual, dispensou a maquiagem, nada mais que um batonzinho, passou as mãos nos cabelos, tinha dificuldade de prender os fios finos e lisos, sempre acabavam voltando a cobrir seu rosto. Larissa admirou sua imagem no espelho, aos 32 anos não estava nada mal, as corridas na praia e os três dias de musculação estavam lhe dando um resultado mais que satisfatório.
    - Pronto. – disse ela ainda admirando sua imagem refletida no espelho. Pegou a bolsa e a chave do carro, mesmo receosa preferiu dispensar o motorista, se tudo desse certo, dormiria na casa de Ruth, lá já existiam algumas roupas suas, que poderia usar para ir trabalhar. O percurso era curto, 10 minutos depois, a morena já estava na faculdade.
    - Merda, por que você não atende Ruth? – resmunga Larissa, não vendo resposta pelo celular, a morena decide ir até a recepção para obter informações – Olá, boa noite!
   - Boa noite, em que posso ajudá-la? – fala a recepcionista educadamente.
   - Bem, queria saber onde fica a sala do primeiro período do curso de direito.
   - Fica no bloco C, só que temos duas turmas do primeiro período. – Larissa fica pensativa, pois não se lembra qual era a turma exata da namorada.
   - Bem, na verdade estou procurando uma aluna, o nome dela é Ruth Lima. – a recepcionista digita o nome no sistema da faculdade, e não encontra nenhuma Ruth Lima na sala um. – Bem senhora não tem nenhuma aluna como esse nome no 1ª.
         Automaticamente Larissa deduz que ela deve ser da sala 1º B. Agradeceu a moça e saiu. Muitos alunos transitavam pelos corredores, Larissa seguiu até o segundo piso, estava meio sem jeito de chegar à sala da namorada, seus pensamentos foram rompidos por uma barulhada que vinha da lanchonete no andar de baixo.
 - Cazá..cazá..cazá... A turma é mesmo boa, é mesmo da fuzaca.. Sportttt...Sporttttt...Sporttttt.... – homens e mulheres gritavam comemorando a Vitória do time.
          Movida pela curiosidade seguiu o som, logo reconheceu a loira que estava no meio dos alunos, vestia uma calça cigarrete bem colada ao corpo que deixava bem exposto as coxas bem torneadas.   Larissa sabia da paixão da namorada por futebol, inclusive por esse time, se viu obrigada a levá-la em inúmeros jogos. Foi se aproximando, observa a loirinha que bebia e gargalhava com alguns amigos, tinham mais duas garotas ao seu lado que pareciam comemorar também. Alicia percebeu a presença de Larissa, fez sinal para que ela se aproxime, antes mesmo de cumprimentá-la, a loirinha lhe agarrou feliz da vida, dando-lhe um beijo cinematográfico deixando todos principalmente os homens boquiabertos.
    - Ganhamos, linda! – gritou eufórica, Larissa sentiu-se envergonhada, boa parte das pessoas a observavam, uns com olhares sarcásticos, outros sorriam.
   - Vamos! – disse ela baixinho sem conseguir encarar as pessoas, já que Larissa sempre tentou ser o mais discreta possível, o que contradizia algumas atitudes de Ruth, que não parecia se preocupar com a opinião de terceiros.
   - Não, vamos comemorar, vou te apresentar alguns amigos.
       Alicia não aguardou a resposta, saiu puxando Larissa pela mão apresentou todos os seus amigos, a maioria homens. A verdade é que mesmo sem querer, a loirinha chamava atenção, para desgosto da morena que morria de ciúmes. Algumas amigas de Ruth a convidaram para dar um pulo no barzinho que ficava na mesma rua da faculdade. No final do quarteirão, não adiantou relutância a promotora não conseguia se impuser pelo menos quando se dizia questão a Ruth.
         Larissa acabou se divertindo, os amigos de Ruth eram animados, depois de muita bebida e muita conversa jogada fora, Alicia começou a perceber uns olhares indiscretos de um dos seus colegas para Larissa. O homem teve a cara de pau de lhe pedir para que apresentasse à morena.
    - Lary, vem aqui, por favor. – Larissa se aproximou ficando ao lado da loirinha – Quero te apresentar um amigo. – a morena apenas sorria. – Esse aqui é o André, André essa aqui é minha NAMORADA. – frisou, o garoto deixou um sorriso amarelo transparecer, logo deu uma desculpa e saiu de perto das duas. Alicia puxou a morena para mais perto, depositou um beijo longo em seus lábios, enchendo os marmanjos de inveja de ambas as partes.
     - Te adoro... – sussurrou Alicia no ouvido da promotora, fazendo ela se derreter – To morrendo de saudades. – a morena ficou com cara de boba.
   - O que foi aquilo? Não entendi você querendo me apresentar aquele tal de André, inclusive o nome no meu ex. – brincou Alicia não pareceu gostar.
   - Aquele idiota teve a audácia de pensar em dar em cima de você. Mostrei pra ele que você é minha, para ela não se meter a besta de novo. – voltaram a se beijar, um beijo quente, forte, que já parecia não ser o suficiente.
   - Vamos pra outro lugar. – sussurrou no ouvido na morena.
          Alicia nunca esperava uma resposta da mulher, saiu puxando a morena para o estacionamento que ficava na rua ao lado do bar. Empurrou Larissa no carro, jogando todo seu corpo contra o dela. Suas mãos já passeavam por todo o corpo da promotora. Beijava, lambia seu pescoço, Alicia tentou ser convincente fazendo Larissa achar que estava com ciúmes, mas não foi nenhum esforço, mesmo não querendo, sentiu uma pontada ao perceber os olhos indiscretos e maliciosos do rapaz desejando o corpo da morena, talvez estivesse levando as coisas a sério de mais.
    - Quero você! – Larissa sussurrava no ouvido da loirinha, á estimulava e obtinha sucesso, Ruth apertava o corpo da mulher contra o seu, roçava a coxa entre as pernas ela delirava de desejo. – Amor... – por um instante Larissa tentou conter a namorada, embora estivesse adorando tudo aquilo, seus olhos avistaram um casal de idosos que observavam a cena da sacada do primeiro andar. – Parar amor. – falou Larissa com a voz mais séria.
   - Gostosa. – Alicia parecia não ouvir as súplicas da namorada, continuava lhe beijando, tocando, apertando. – a fisionomia do casal ficava cada vez pior, só pelo jeito de olhar, era possível imaginar o que se passava em suas mentes.
   - Tem gente nos olhando. – Larissa disse já se desvinculando dos braços da loirinha. Alicia lançou um olhar para a sacada onde o casal permanecia perplexo observando as duas mulheres se agarrando de forma tão escandalosas.
   - Bando de urubus, não tem o que fazer? – gritou, era perceptível sua alteração devido à quantidade de álcool ingerida. O que não justificava sua atitude grosseira, Larissa tentou conter a namorada, em vão, a mulher continuava olhando para os velhos, fazia caretas e gestos obscenos com as mãos, gritava palavrões.
   - Que horror Ruth, o que deu em você? – Larissa aparentava uma irritação – Isso é jeito de falar com duas pessoas idosas, cadê o respeito? – abriu a porta do carro e fez sinal para que a loirinha entrasse.
   - Você não é minha mãe para me dar lições de moral, doutora certinha. – a loirinha tinha um dom do deboche.
   - Você não entende que não podemos expor as pessoas a esse tipo de constrangimento? – Larissa iníciou um discurso, recriminando o comportamento inapropriado das duas, deixando a namorada ainda mais irritada.
   - Se você se envergonha com meu comportamento inapropriado, me diga doutora, por que ainda está comigo? – praticamente cuspiu as palavras.
   - Eu não tenho vergonha de você, não tente por palavras em minha boca, Ruth. – amenizou o tom – apenas quero que entenda não podemos esquecer, que sou uma pessoa pública, sou uma representante da sociedade, e por mais que a sociedade venha melhorando, os relacionamentos homossexuais ainda não são bem vistos. Meu trabalho exige de mim certa descrição em minha vida pessoal. Te alertei quando começamos a nos envolver, não quero discutir por isso, mas preciso que entenda meu lado. – sua voz saia doce, ponderada, apesar de entender o que lhe estava sendo explicado, à vontade de Alicia era esbravejar tudo que estava sentindo, pouco se importava com as opiniões alheias, mas sabia que aquele não era um momento para brigas.
   - Desculpe. – disse cabisbaixa.
   - Vem, vamos pra casa. – disse a promotora colocando um ponto final na conversa.
        Saiu do estacionamento em silêncio, Larissa dirigia tranquilamente, seguia a direção da casa de Ruth, Alicia permanecia calada, observava-a seus gestos delicados, a expressão calma – Como ela fica linda quando está concentrada! - pensou, e em um gesto involuntário acariciou o rosto da morena, por todos esses meses ao seu lado, mesmo sem querer, criou certa afeição pela promotora.
      Deslizava as pontas dos dedos sobre a pele morena, sentiu um desejo invadir seu corpo.
    - Entra à esquerda na próxima rua. – ordenou, lançando um sorriso safado.
   - Pensei que fossemos para casa? – Larissa fez uma cara de surpresa ao perceber que na rua em que acabara de entrar havia uma placa gigante, indicando um motel. Deixou um sorriso meio bobo escapar pelo canto dos lábios.






2 comentários:

  1. Mas é uma boba a Larissa, né. Depois dessa burrada ela nem apresenta resistência quando a Alícia as leva pra um motel.

    Tô curtindo a história. Espero a continuação. (:

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