sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Sei que é Você III

Tamires

Essas dores de cabeça estão cada vez mais fortes vem e vão quando menos espero esse reflexos, imagens, vozes, sinto um desespero que invade minha alma, uma agonia sem fim, uma dor no peito. Em mim só tenho uma tatuagem que me leva a minha origem. Tinha passado o dia todo com uma dor de cabeça no mínimo suportável, mas durante a madrugada elas vieram de forma violenta comecei a me debater na cama, doía demais gritei com as duas mãos da cabeça se pudesse teria arrancado balançava para lá e para cá, acabei me desequilibrando e cai da cama Laís entrou e meu viu chorando e gritando, doía, doía tanto parecia que ia explodir uma dor indescritível, sinto uma agulha em meu braço, não lembro mais de nada. Acordei no dia seguinte ao abrir os olhos encontrei meu anjo, ela estava conversando com Dra. Mariana sua fisionomia era de preocupação tentei sentar na cama minha cabeça doía não com a mesma intensidade, queria escutá-las, mas não conseguia ela percebeu que eu a olhava lançou um sorriso amarelo, Dra. Mariana saiu do quarto e ela veio falar comigo.
- Oi.
- Você estava conversando sobre o que aconteceu ontem? Deixei-te preocupada não foi?
- Claro que não Tamires, apenas estou um pouco ansiosa em te ver saindo daqui. – desviou o olhar.
- Para uma advogada você mente muito mal.
- Como você se sente?
- Bem, apenas um dorzinha de cabeça que logo vai passar – ela levou suas mãos a meu rosto senti aquele toque fechei os olhos senti sua mão suave.
- O que será de mim... – sussurrei mais não esperei que ela tivesse escutado.
- Tamy! – abri os olhos ela me olhava – Minha casa, sua casa, meu lar, seu lar – ela deu um sorriso tímido - Melhor adiantarmos, chega de hospital não é? – meu coração se encheu de alegria em pouco tempo que conheço Larissa sinto um carinho enorme por sua pessoa, pensei que fosse desistir de mim isso me apertava o coração, não tinha ninguém nessa vida apenas ela, as lágrimas já invadiam meu rosto. Perto daquela mulher tão doce me comportava como uma criança a abracei com força ela também me abraçou.
- Vamos cuidar de você, te prometo.

Afastei-me um pouco ela saiu do quarto ia falar com Dr. Raul ele não tinha assinado minha alta, aproveitei para tomar um banho quando voltei estava arrumando minhas coisas não tinha muito que arrumar fazia mais de um mês que sai do coma minhas roupas contavam-se nos dedos, as meninas digo algumas enfermeiras e umas médicas que sempre cuidaram de mim e me ajudaram doando algumas roupas, calçados, depois elas vieram se despedir acabei criando um carinho por elas, eram tão gentis comigo, por último me despedi de Laís ela me deu um beijo no cantinho da boca, acho que fez isso de propósito depois deu um sorriso e piscou pra mim, engraçado aquele gesto não me era estranho acabei sorrindo. Dr. Raul fez inúmeras recomendações ele não tinha ficado nada satisfeito em me ver saindo do hospital deixou claro que achava mais aconselhável eu ir pra um centro de reabilitação Larissa não lhe deu ouvido se despediu do homem e saímos do hospital.
Pegamos um táxi eu fiquei tão abestalhada, que cidade bonita era tudo tão novo para mim, uma vez o outra ela fazia um comentário bobo era impressionante seu senso de humor brincava com tudo, o táxi foi entrando em um bairro não era um bairro rico como o que passamos há poucos minutos, as ruas eram pavimentadas e tinha poucos prédios passamos um uma praça estava um dia ensolarado paramos em frente a uma casa com um muro coberto com aquela planta que gruda no muro não sei como se chama.
- Chegamos! – disse ela.
Confesso que fiquei muito nervosa senti um frio na barriga, desci do carro enquanto ela pagava o taxista, logo em seguida o homem tirou minha mochila do porta mala olhei em volta a rua estava quase vazia, Larissa abriu o portão e me deu passagem logo veio uma cachorro latindo me assustei e me coloquei atrás dela, aquele bicho continuava a latir ela logo o pegou no colo.
- Não acredito que você tem medo de cachorro? Essa aqui é meu xodó Meg.
Pelo visto ela gosta bastante daquele animal deixava lamber sua orelha, será que eu também gostava, não pela minha reação não, Meg voltou ao chão, Larissa pediu pra eu deixá-la me cheirar que depois ela não ia mais me estranhar dito e feito a cachorra saiu correndo balançando o rabo, a casa dela era muito bonita aquela família gostava de planta viu tinha um pequeno jardim no lado esquerdo cheio de rosas, margaridas e outras flores tudo muito bem cuidado, ela abriu a grade e entramos no terraço pude escutar vozes saindo lá de dentro, ela me olhou e sorriu num impulso eu segurei sua mão parecia uma menina assustada ela deu um leve apertão como se quisesse passa segurança entramos na casa tinha uma sala ampla tudo muito simples, mas de pleno bom gosto fiquei observando os detalhes daquele ambiente até que senti uma mão tocando meu ombro era uma senhora já idosa depois entrou uma mulher.
- Tamires essa aqui é minha mãe Laura – apontou pra uma mulher na faixa dos seus 50 e poucos anos muito bem conservada, morena, alta, olhos e cabelos castanhos muito se parecia com Larissa.
- Encantada. – respondi timidamente.
- E essa aqui é minha avó materna Glória.
- Você é a moribunda é? Chega cá pra ver se você está viva mesmo – a mulher me deu um abraço tão apertado que faltou ar.
- Vovó! Desculpa Tamires sabe como velhos são. – disse brincando
- Velha é a estrada estou na flor da terceira idade – disse a senhora arrancando risadas de todos.
- Liga não, na minha família é todo mundo doido logo você se acostuma.
- Tudo bem.

Larissa saiu me levando pra conhecer a casa por último me levou ao dormitório disse que teríamos que dividir o quarto como ela já tinha alertado a sua casa era pequena só tinha dois quartos, eu não queria incomodar em nada nem tirar sua privacidade, mas ela disse que não se importava, era um quarto bastante confortável tinha duas camas box, um ventilador no teto, minha cama ficava próximo da janela, o guarda-roupa era embutido um imenso espelho na porta que dava para nos ver inteiras, um criado mudo em cada lado da cama, ela abriu o guarda- roupa.
- Olha reservei esse lado pra você, apesar de que você estar quase pelada – brincou – Quando eu pagar minha fatura do cartão vamos fazer umas comprinhas. – disse ela apertando meu nariz, ela tinha essa mania.
- Não se preocupe você já esta fazendo muito por mim não quero lhe da mais despesa.
- Que despesa que nada. É tudo muito simples mais espero que tenha gostado.
- você é um anjo sabia, serei eternamente grata por tudo que esta fazendo por mim, você...
- Tamires – ela segurou minhas mãos seus olhos fundiram nos meus – Sem agradecimentos não estou fazendo caridade faço porque meu coração manda fazer gosto de você de graça, quero ajudá-la, vamos encontrar sua família enquanto isso não aconteça seremos sua família, agora vamos deixar de papo que estou varando de fome.
Saímos do quarto e fomos à sala de estar, me sentia toda acanhada perto daquelas pessoas D. Laura avisou que o jantar estava posto já íamos nos servir quando a Campainha começou a tocar Larissa se levantou e foi abrir a porta, D. Laura e D. Glória eram muito simpáticas comigo logo Larissa voltou a sala com um imenso sorriso nos lábios logo atrás vejo um homem alto, branco, um porte físico atlético, seus olhos castanhos tão claros, cabelos alinhados tinha um cavanhaque e estava de terno.
- Boa tarde – sua voz era bem grossa e firme muito bonita parecia voz de locutor de radio.
- Amor esse aqui é Tamires – levantei da cadeira ele ficou de fronte pra mim sentir seu olhar me observar dos pés a cabeça - Tamy esse aqui é meu marido Guilherme. – então foi ele o responsável pelo acidente o olhei com cara de poucos amigos.
- Como esta se sentindo Tamires? – perguntou ele.
- Viva! – disse num tom seco, não sei por que me subiu uma irritação tão grande na presença daquele sujeito.
Pra acabar aquele clima desconfortável D. Laura entrou na sala trazendo uma travessa assim que o viu abraçou com carinho, eu nada mais disse sentei novamente ao lugar em que estava, o tempero da comida da mãe de Larissa era tão gostoso, tão diferente das comidas aguadas do hospital. Tentei ignorar a presença daquele homem que me deixava irritada de verdade, hora ou outra ele falava comigo, fazendo perguntas idiotas será que ele não sabia que eu era uma desmemoriada, não tinha porque perguntar sobre minha família, assim que terminou o jantar ele se despediu com a desculpa que tinha um compromisso, infelizmente tive que presenciar um beijo cinematográfico entre ele e a Larissa confesso que senti um coisa estranha dentro de mim, uma raiva não sei explicar só sei que meu humor mudou depois do que vi. Larissa achou que eu estivesse cansada era tudo tão novo pra mim, minha cabeça começou a doer embora eu tentasse disfaçar não queria preocupar ninguém mal tinha chegado aquela casa, ela então sugeriu que eu tomasse um banho e dormisse um pouco aceitei de imediato precisava processar as últimas horas vividas recebi uma tolha limpa fui para o banho.
Descobri o quanto é bom um banho gelado numa cidade tão quente quanto à cidade de Natal, passei quase uma hora sentindo aquela água gelada percorrendo meu corpo até a dor de cabeça passou, exagero meu, ela permanecia estava suportável ainda, entrei no quarto e abri a mochila e peguei uma roupa fresca estava me enxugando
tranquilamente quando ai começar a me vestir ela entrou de supetão no quarto, não tem aquele momento que você fica imóvel com o susto.
- Desculpe-me é o costume – senti seu olhar percorrendo meu corpo, olhei pra cama em busca da toalha – hum... Quer dizer que você tem tatuagem é... Borboletinha bonitinha que nome é esse? – não fiquei vermelha e sim roxa de tanta vergonha me virei rapidamente pegando a toalha e cobrindo minha nudez.
- Desculpe Tamires por minha tamanha indiscrição, só vim pegar meu computador vou adiantar um trabalho.
- Tudo bem...
Ela entrou no quarto pegou o computador que estava dentro da gaveta depois saiu, sentei na cama e coloquei a mão na cabeça que vergonha, fui até a porta e fechei com a chave voltei a ficar nua, me olhei atentamente no espelho um pouco abaixo do seio direito tinha uma cicatriz do tiro que tomei, porque será que tomei um tiro? Meu olhar desceu até a tatuagem que ficava no lado direito acima da minha virilha, de quem será esse nome cravado em minha pele, será meu nome ou de alguém, seja de quem for essa pessoa deve ter sido muito importante pra mim, eram tantas perguntas.
Acordei com Larissa batendo na porta do quarto que gafe esqueci-me de destrancar a porta antes de dormir.
- Porque trancou a porta? – falou quase gritando.
- Me desculpe esqueci...
- Não é por nada, mas prefiro que mantenha a porta destrancada por segurança se você passar mal entende? – sua voz suavizou.
- Sim.
- Como esta se sentindo?
- Bem.
- Vou tomar banho.
Bem sai do quarto e fui pra sala D. Glória já tinha ido embora pelo que eu entendi ela mora num bairro vizinho com a filha mais nova, D. Laura assistia a novela e ao me ver me mandou sentar, fiquei ali vendo tv, não demorou muito para o pai de Larissa chegar um homem baixinho e meio gordinho com os cabelos grisalhos e olhar carinhoso, se aproximou e dona Laura fez as apresentações, seu nome era Augusto não demorou muito pediu licença e saiu, Larissa chegou na sala logo depois não pude deixar de contemplar sua beleza que morena bonita, esta estava com uma bermuda com a malha leve e uma camiseta branca estava sem sutiã fato. Ri dos meus pensamentos pecaminosos. Fomos até o terraço ficamos conversando. Minhas dores de cabeça começaram a surgir senti medo de ter uma crise daquela acho que Larissa percebeu ela me perguntou se estava tudo bem.
- Esta se sentindo bem?
- Estou...
- ela continuou me olhando desconfiada aquela dor se intensificava – Acho melhor você ir descansar teve um dia cheio. – disse ela se levantando e me estendendo a mão.
- Acho melhor mesmo – concordei, ela me levou até o quarto.
Assim que ela saiu me despi e vesti um pijama que tinha ganhado de uma senhora que costumava passar sempre no meu quarto no tempo que estive internada, fui até a cozinha pegar um pouco de água por sorte não tinha ninguém peguei um copo de água e voltei ao quarto tomei meu medicamento assim que deitei na cama adormeci. Acordei na manhã seguinte olhei pra cama ao lado não vi ninguém me espreguicei, pisei sem querer em inúmeras roupas pelo chão, toalha úmida em cima da cama, provavelmente era de Larissa arrumei sua cama e catei as roupas pelo chão. Não sabia o que fazer sentia uma imensa vergonha em sair do quarto, fiquei andando de um lado para o outro escutava o rádio ligado sair do quarto e fui direto ao banheiro terminei de escovar os dentes encontrei com D. Laura no corredor ela estava com uma vassoura na mão.
- Bom dia – minha voz quase não saia de tanta vergonha que estava.
- Bom dia Tamires – disse simpaticamente – Dormiu bem menina? – tocando meu braço.
- Sim senhora. – abaixei a cabeça, queria perguntar pela Larissa cadê a coragem a mulher já estava saindo quando perguntei. – Larissa?
- ela me olhou e sorriu – Foi trabalhar aquela ali puxou ao pai acorda com o cantar dos galos, vai cedinho correr na orla depois vai para o trabalho, só volta à noitinha.
- Ah tá. – sussurrei.
Não tinha percebido que já eram 10 horas da manhã, voltei ao quarto e peguei uma peça de roupa, tomei um banho rápido voltei à cozinha D. Laura conversava com uma senhora a mulher me olhou curiosa.
- Maria essa aqui a minha sobrinha veio lá do sul passa uns tempos aqui. – disse D. Laura olhei pra ela sem entender. Mas não esbocei reação.
- Tamires. – disse á mulher.
- Prazer Maria.
- Você deve estar com fome senta ai que vou preparar alguma coisa reforçada pra você, esta magrinha demais.
Não me fiz de rogada eu realmente estava morrendo de fome, D. Laura preparou um cuscuz bem reforçado. Depois do café passei o dia inquieta me ofereci inúmeras vezes para ajudá-la nos serviços da casa a mulher era irredutível não me deixava nem chegar perto da pia, acabei indo ver televisão e cadê o tempo passar quando estamos fazendo nada olhava sempre no relógio desejei tanto que a Larissa estivesse aqui. Quando ela ligou pra saber como eu estava confesso que fiquei super boba falando com ela no telefone, ela me prometeu que ia fazer o possível para voltar mais cedo pra casa. Tornei-me novidade no bairro ora ou outra vinha algum vizinho conhecer a sobrinha de D. Laura, tentei ser o mais paciente que pude todas aquelas pessoas falando me olhando, me deixava irritada, não teve jeito acabei sendo grosseira sair da sala irritada gritando. Minha mente fervilhava uma raiva descontrolada tentei me acalmar estava sendo difícil queria gritar me joguei na cama e comecei a chorar descontroladamente. As horas foram passando D. Laura foi ao quarto inúmeras vezes saber como estava eu nada respondia continuava a chorar sentia vergonha de olhá-la.
- Boa noite – reconheci aquela voz era ela.
Permaneci calada com o rosto virado pra parede.
- Você não se sente bem? – perguntou ela.
- Não - gritei – Não sei quem sou eu não sei quem eu sou – comecei a bater minha cabeça no travesseiro chorando e gritando – Fui grosseira com as amigas da sua mãe, todos me enchendo de pergunta me desculpe...
Ela sentou-se na beira da minha cama pude senti seu toque suave em meus cabelos.
- Olha pra mim – pediu. Eu não queria olhar, pois sentia vergonha. – Tamy olha pra mim - virei pra olhá-la mesmo eu gritando ela permanecia com seu olhar doce suas mãos enxugaram as lágrimas em minha face.
- Me desculpe... – disse.
- Não tenho porque se desculpa aqui no bairro todo mundo se conhece, natural que fiquem curiosos em querer saber quem é você.
- Mas nem mesmo sei quem sou... – gritei mais uma vez.
- Você é Tamires. – disse com tanta convicção ficamos em silêncio um tempo.
- Ficaram me enchendo de perguntas fiquei agoniada minha cabeça doía, porque tantas dores na cabeça Larissa?
- Eu não sei... Já sei o que vamos fazer levanta dessa cama vou encontrar com umas amigas num barzinho quer ir comigo? Prometo que não vão te encher de pergunta.
- Não melhor não, não quero destratar seus amigos.
- Deixa de frescura levanta já dessa cama vou tomar um banho agora quando voltar espero vê-la arrumada. – disse ela apertando meu nariz e se levantando da cama.

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